Alexandre Borges
O episódio final do Big Brother Brasil 5 conquistou 47
pontos de audiência, um recorde. Ainda mais se comparado à média do principal
produto da emissora, a novela das nove, que hoje se equilibra entre os 25 e 30
pontos. A disputa ficou entre a ex-Miss Paraná Grazi Massafera, uma loura
estonteante de 1,73m e futura estrela global, e um baiano do interior sem
qualquer carisma, homossexual assumido e socialista radical, chamado Jean
Wyllys.
O Brasil “homofóbico” escolheu Jean Wyllys, atualmente no
segundo mandato de deputado federal, para receber o prêmio de R$ 2 milhões
(valores atuais). Agora tente imaginar esta mesma disputa envolvendo eleitores
da Arábia Saudita, Somália ou Iêmen. Ou explique para um islâmico salafista que
aqui a loura perdeu. É este Brasil que os organizadores da 21ª edição da Parada
do Orgulho LGBT de São Paulo sugerem que é preconceituoso e intolerante com
gays por ser cristão.
A passeata de ontem, segundo o noticiário, pede “estado
laico”. É um país realmente curioso. Aqui se faz manifestação pedindo algo que,
até a última vez que eu chequei, já existe, está consolidado na Constituição, e
que ninguém discute ou ameaça. É como fazer passeata em favor na construção de Brasília
ou pela substituição do Cruzeiro pelo Real.
A primeira Constituição brasileira, de 1824, instituía em
seu artigo 5º uma religião oficial do império, a católica apostólica romana. As
outras religiões eram permitidas desde que praticadas em cultos particulares.
Na segunda Constituição, de 1891, o estado já era oficialmente laico.
Não há nada no Brasil remotamente parecido com o que existe
numa teocracia, tanto no ordenamento jurídico como nos costumes do país do
sincretismo religioso, da festa de ano novo com milhões vestindo branco e
jogando oferendas para Iemanjá, do budismo e da cabala de butique dos
endinheirados, do povo que cultua o espírita Chico Xavier com o mesmo fervor
que reza para Nossa Senhora Aparecida.
Segundo o último censo (2010), 65% dos brasileiros se
declaram católicos e 22% protestantes, num total de quase 90% de cristãos.
Mesmo assim, a participação da igreja católica na política brasileira é
praticamente irrelevante, exceção feita ao lobby pela manutenção dos feriados
religiosos tradicionais e da estátua do Cristo Redentor no topo do Corcovado. A
organização católica mais influente na política brasileira, CNBB, por seu
alinhamento quase total com a Teologia da Libertação e com a esquerda,
dificilmente pode ser associada aos cânones do catolicismo.
Os protestantes controlam ao menos dois partidos políticos
atualmente (PRB e PSC). Diversos pastores e políticos oriundos da comunidade
evangélica como Anthony Garotinho, Marina Silva, Magno Malta, Marco Feliciano e
Eduardo Cunha já ocuparam ou exercem cargos políticos de destaque. O prefeito
do Rio de Janeiro, desde o início do ano, é o Bispo Marcelo Crivella. Ainda
assim, não há absolutamente nada que aproxime o Brasil de um estado religioso
como se vê no mundo islâmico.
A Constituição brasileira, não custa lembrar, já garante que
vivemos um estado laico (“leigo”), ou seja, no Brasil há total liberdade de
crença, inclusive a liberdade de não tem crença alguma. No artigo 19, inciso I,
artigo 5, lê-se: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”
Se o estado é laico na lei e nos costumes, o que diabos está
por trás desse pedido?
Por que a Avenida Paulista foi tomada, num domingo, por uma
multidão que pedia algo que é desnecessário pedir? Como uma manifestação de
“Orgulho LGBT” autorizada pela prefeitura da maior cidade do país, apoiada por
grandes empresas, realizada na sua principal avenida em pleno domingo,
celebrada pelos principais órgãos de comunicação e artistas, estaria de alguma
forma servindo para protestar contra qualquer tipo de perseguição? Para
entender o que está em jogo é preciso abrir mão do sentido literal do que é
dito e buscar nas entrelinhas.
O que fica sugerido, especialmente pelo noticiário, é que,
de alguma forma, o Brasil, pela influência do cristianismo, é intolerante com
gays. É mesmo? Vejamos. O Brasil é um país que:
1) Criminaliza e persegue o homossexualismo, como vários países
islâmicos hoje?
2) Proíbe ou não reconhece a união civil entre adultos do
mesmo sexo?
3) Exclui gays da fila de adoção de crianças?
4) Mesmo com incríveis 60 mil homicídios por ano, sofre algo
parecido com um surto de violência contra gays?
5) Discrimina a comunidade LGBT na cultura, na música, na
academia e nos espaços públicos?
Se você respondeu “não” para todas as perguntas acima,
entenda que a pauta é muito mais sutil e insidiosa. É o preconceito religioso
e, especialmente, anti-cristão que exala enxofre por trás do discurso
alegadamente laicista. Para os ativistas que pedem “estado laico” no Brasil,
que já existe, é preciso que ele seja ateu. Para combater o cristianismo,
sonham ressuscitar o jacobinismo.
“O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas
tripas do último padre”
Jean Meslier (1664-1729)
Como queriam os iluministas franceses, intelectuais como
Nietzche, Sartre ou Foucault, toda esquerda desde os jacobinos, passando por
Marx, Mao, Lênin, Stálin e Castro, e como defendem hoje muitos cientificistas
neoateus e radicais islâmicos, a meta é eliminar qualquer traço dos valores e
preceitos judaico-cristãos que construíram o Ocidente. É a autofagia da
sociedade mais livre e próspera que humanidade concebeu e que acolhe até quem se
volta contra ela.
Um estado laico e secular, liberal e democrático, é
perfeitamente compatível com o cristianismo e com o judaísmo, e não é
coincidência. Ele é filho legítimo destas religiões, com alguns acréscimos de
preceitos filosóficos da Grécia antiga incorporados pelos próprios pensadores
cristãos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Como disse um dos pais
fundadores dos EUA e seu segundo presidente, John Adams, “nossa Constituição
foi feita apenas para um povo moral e religioso, sendo totalmente inadequada
para governar qualquer outro”. A cópia de aspectos meramente formais e
normativos da lei de outros povos desprezando a cultura e tradições que
produziram aquele ordenamento social e jurídico é meio caminho para o caos.
Foram as tradições judaico-cristãs que criaram as bases para
a tolerância e o respeito que gozam homossexuais no Brasil. Abrir mão delas,
por mais que os líderes do braço político do movimento LGBT não entendam ou
aceitem, é namorar com o risco de um retrocesso como se vê em alguns regiões da
Europa que começam a ser ocupadas por povos com culturas distintas e que não
demonstram qualquer inclinação para assimilação ou aceitação dos costumes e do
ordenamento social e jurídico dos país anfritriões. Os verdadeiros defensores
dos gays sabem disso.
Richard Dawkins, ícone máximo da militância ateísta no
mundo, declarou semana passada que a educação religiosa é “crucial” para as
crianças britânicas. Aterrorizado com a invasão islâmica do seu país, o biólogo
passou a reconhecer publicamente a importância da cultura cristã para a
preservação do Ocidente no choque atual de civilizações. Nada mais que o óbvio,
mas o óbvio não costuma ser popular no Brasil.
Sem uma cultura de tolerância e respeito, sem “amar ao
próximo” e considerar todos “filhos de Deus” e cada vida sagrada, optando por
proibir a discriminação com a mão de ferro da coerção estatal, é abreviar o
caminho para o totalitarismo, já que a lei não refletirá os valores e crenças
da população. E isso é tudo menos democracia.
Uma passeata pedindo “estado laico” poderia ser mais
impactante em Riad, capital da Arábia Saudita, mas não é preciso explicar
porque a Parada do Orgulho LGBT de ontem prefere mostrar sua revolta contra as
tradições culturais da religião cristã num país cristão que permite que essa
manifestação ocorra.
Ao final, a passeata serviu como prova involuntária de tudo
que seus líderes insistem em negar sobre o cristianismo. Deus sabe ser irônico.
Onde foi que o Dawkins deu essa declaração, que eu não vi?
ResponderExcluirMilton
ExcluirVeja em http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/richard-dawkins-diz-que-ensino-religioso-e-fundamental-para-criancas-britanicas/
e também em http://guiame.com.br/gospel/noticias/famoso-escritor-ateu-recomenda-que-criancas-leiam-biblia-para-elevar-o-nivel-da-educacao.html
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ResponderExcluirEntre outras coisas, Dawkins disse:
ResponderExcluir“Eu não aboliria a educação religiosa. Substituiria por religião comparativa, história bíblica e história religiosa. A religião comparativa é muito valiosa, em parte porque a criança descobre que há muitas religiões diferentes, não apenas a quem elas foram criadas. Eles aprendem que são todos diferentes e que todos não podem estar certos ao mesmo tempo, então, talvez nenhum deles esteja certo. O pensamento crítico é o que precisamos.”
“Eu acho que é uma parte importante da nossa cultura saber sobre a Bíblia, afinal, muito da literatura inglesa tem alusões à Bíblia.”
“A religião uma parte importante da nossa história. Muito da história européia é dominada por disputas contra religiões rivais e você não consegue entender a história, a menos que você conheça a história da religião cristã e as Cruzadas e assim por diante.”