Enviado por Magu
Do HuffPost Brasil, com Agência Brasil
Brasil está estacionado entre os piores desempenhos do
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de acordo com os
resultados da avaliação de 2015, divulgados hoje (6) pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Pisa mediu o conhecimento dos estudantes de 72 países em
leitura, ciências e matemática. Nas três, a média dos estudantes brasileiros
ficou abaixo da dos demais países. Em matemática, o país apresentou a primeira
queda desde 2003, início da série histórica da avaliação.
Em ciências, a média do Brasil foi 401 pontos, enquanto a
média dos países da OCDE foi 493. Em leitura, o país obteve 407 pontos, abaixo
dos 493 pontos dos países-membros da OCDE e em matemática, o desempenho
brasileiro foi de 377 contra 490 da OCDE.
De acordo com os critérios da organização, 30 pontos no Pisa
equivalem a um ano de estudos. Isso significa que, em média, os estudantes
brasileiros estão cerca de três anos atrás em ciências e leitura e mais de três
anos em matemática.
O Pisa testa os conhecimentos de estudantes de 15 anos de
idade em matemática, leitura e ciências. A avaliação é feita a cada três anos,
e cada aplicação é focada em uma das áreas. Em 2015, o foco foi em ciências,
que concentrou o maior número de questões da avaliação.
Participaram da edição do ano passado 540 mil estudantes
que, por amostragem, representam 29 milhões de alunos dos países participantes.
A avaliação incluiu os 35 países-membros da OCDE, além de economias parceiras,
como o Brasil. No país, participaram 23.141 estudantes de 841 escolas. A maior
parte deles (77%) estava matriculada no ensino médio, na rede estadual (73,8%),
em escolas urbanas (95,4%).
Quase metade dos estudantes brasileiros (44,1%) está abaixo
do nível de aprendizagem considerado adequado em leitura, matemática e
ciências. Esses estudantes obtiveram uma pontuação que os coloca abaixo do
nível 2, considerado adequado nas três áreas avaliadas pelo Pisa.
Separadamente, 56,6% estão abaixo do nível 2 e apenas 0,02%
está no nível 6, o máximo da avaliação. Em leitura, 50,99% estão abaixo do
nível 2 e 0,14% estão no nível máximo; em matemática, 70,25% estão abaixo do
adequado, contra 0,13% no maior nível.
Isso significa que esses estudantes não conseguem reconhecer
a ideia principal em um texto ou relacioná-lo com conhecimentos próprios, não
conseguem interpretar dados e identificar a questão abordada em um projeto
experimental simples ou interpretar fórmulas matemáticas.
“O nível 2 é o nível considerado mínimo para a pessoa
exercer a cidadania”, diz a secretária executiva do Ministério da Educação
(MEC), Maria Helena Guimarães de Castro. “Todos os educadores insistem e nós
também na questão da equidade. Esse resultado mostra problema de desigualdade
muito grande”.
Abaixo da média
Em matemática, o país teve uma trajetória positiva desde
2003, início da série histórica, quando obteve 356 pontos. Nas avaliações
seguintes, obteve 370 em 2006 e 386, em 2009. Em 2012, o país atingiu 389
pontos. Houve uma elevação real de 21 pontos na média dos alunos no período de
2003 a 2012. Em 2015, no entanto, o país caiu para 377, o que significa um
declínio de 11,4 pontos. Apesar de ser uma queda, pelos critérios da OCDE, não
se trata de grande diferença.
Nas demais avaliações, o país está estagnado. Em ciências, a
proficiência média do Brasil foi 390 em 2006; 405 em 2009; e 402 em 2012. As
pontuações não apresentam diferenças estatísticas, segundo o relatório da OCDE,
o que mostra que o país está estagnado. O mesmo ocorre em leitura. Em 2000, o
país obteve 396; em 2003, 403; em 2006, 393; em 2009, 412 e em 2012, 407. Essas
diferenças são consideradas insignificantes estatisticamente.
Ranking
Em comparação com os demais países, o Brasil ocupa a 63ª
posição em ciências; a 59ª posição em leitura e a 65ª posição em matemática. O
ranking considera 70 economias - foram excluídas a Malásia e o Cazaquistão, que
não seguiram as mesmas regras de amostragem dos demais países, o que não
permite a comparação.
No topo do ranking de ciências estão Cingapura (556), o
Japão (538) e a Estônia (534). Em leitura estão Cingapura (535), Hong Kong
(China), o Canadá (527) e a Finlândia (526). Em matemática, Cingapura também
aparece em primeiro lugar, com 564 pontos, seguida de Hong Kong (548) e Macau
(China), com 544 pontos.
A OCDE pondera que as condições socioeconômica do Brasil e
dos países da OCDE são diferentes. Enquanto no Brasil, o Produto Interno Bruto
(PIB) per capita considerado no estudo é de US$ 15,9 mil, a média da OCDE é de
US$ 39,3 mil por habitante. Os países-membros da organização também investem
mais por estudantes dos 6 aos 15 anos, US$ US$ 90,3 mil, enquanto no Brasil
esse gasto é de menos da metade, 38,2 mil.
Outros países, no entanto, como a Colômbia, o México e o
Uruguai gastam menos por estudante que o Brasil e tiveram um desempenho melhor
em ciências - respectivamente, 416, 416 e 435 pontos. O Chile, que gasta o
mesmo que o Brasil, também obteve uma pontuação maior, de 447.
Desigualdade
Dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do
Pisa no Brasil, mostram que há no país grande desigualdade entre os estados em
relação aos resultados do exame.
Em ciências, o estado que obteve a maior pontuação foi o
Espírito Santo, com 435 pontos. O estado com o pior desempenho foi Alagoas, com
360 pontos. De acordo com os critérios da organização, 30 pontos no Pisa
equivalem a um ano de estudos. Isso significa que, em média, há mais de dois
anos de diferença entre os dois estados. A média do Brasil em ciências foi de
401 pontos.
Em leitura, cuja média do Brasil foi de 407 pontos, e em
matemática, cuja média foi 377, 15 estados ficaram abaixo da média nacional:
Roraima, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco, Rondônia, Amapá,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Maranhão, Tocantins, Bahia e
Alagoas.
Entre os fatores destacados pelo Inep que influenciam o
baixo desempenho está o índice de repetência que, entre outras questões, pode
desestimular os estudantes. Na avaliação, 36% dos jovens de 15 anos afirmaram
ter repetido uma série pelo menos uma vez.
O nível socioeconômico também influencia o desempenho.
Alunos com maior nível socioeconômico tendem a tirar notas maiores. Entre os
países da OCDE, a diferença entre estudantes com maior e menor nível pode
chegar a 38 pontos de proficiência. No Brasil, essa diferença chega a 27
pontos, ou o equivalente um ano de aprendizagem.
“O Brasil não melhorou a qualidade e nem a equidade nos
últimos 13 anos, principalmente”, diz Maria Helena. “A única melhora do país
foi no fluxo. É importante registrar que 77% dos estudantes que fizeram o Pisa
estão no ensino médio”, acrescenta.
Ministério da Educação
Na avaliação da secretária executiva do Ministério da
Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, o resultado geral do Brasil “é
muito ruim em comparação até com países que têm investimento menor que o nosso
em educação e, inclusive, um nível de desenvolvimento inferior ao do Brasil.
Países como a Colômbia e o México, que tinham um desempenho parecido e agora ja
superaram o Brasil”, afirma.
De acordo com Maria Helena, é possível “dar um salto de
qualidade” desde que haja políticas públicas adequadas. Segundo ela, a formação
de professores é chave nesse processo. Ela aposta na definição da Base Nacional
Comum Curricular para melhorar o ensino. A base vai definir o mínimo que
estudantes devem aprender, desde o ensino infantil até o ensino médio. O
documento, que está em discussão para o ensino médio e em fase final de
elaboração para as demais etapas, vai orientar também a formação dos
professores.
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