terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Metade dos alunos brasileiros não sabe fazer contas, nem entende o que lê

Enviado por Magu

Do HuffPost Brasil, com Agência Brasil

Brasil está estacionado entre os piores desempenhos do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de acordo com os resultados da avaliação de 2015, divulgados hoje (6) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Pisa mediu o conhecimento dos estudantes de 72 países em leitura, ciências e matemática. Nas três, a média dos estudantes brasileiros ficou abaixo da dos demais países. Em matemática, o país apresentou a primeira queda desde 2003, início da série histórica da avaliação.

Em ciências, a média do Brasil foi 401 pontos, enquanto a média dos países da OCDE foi 493. Em leitura, o país obteve 407 pontos, abaixo dos 493 pontos dos países-membros da OCDE e em matemática, o desempenho brasileiro foi de 377 contra 490 da OCDE.

De acordo com os critérios da organização, 30 pontos no Pisa equivalem a um ano de estudos. Isso significa que, em média, os estudantes brasileiros estão cerca de três anos atrás em ciências e leitura e mais de três anos em matemática.

O Pisa testa os conhecimentos de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. A avaliação é feita a cada três anos, e cada aplicação é focada em uma das áreas. Em 2015, o foco foi em ciências, que concentrou o maior número de questões da avaliação.

Participaram da edição do ano passado 540 mil estudantes que, por amostragem, representam 29 milhões de alunos dos países participantes. A avaliação incluiu os 35 países-membros da OCDE, além de economias parceiras, como o Brasil. No país, participaram 23.141 estudantes de 841 escolas. A maior parte deles (77%) estava matriculada no ensino médio, na rede estadual (73,8%), em escolas urbanas (95,4%).

Quase metade dos estudantes brasileiros (44,1%) está abaixo do nível de aprendizagem considerado adequado em leitura, matemática e ciências. Esses estudantes obtiveram uma pontuação que os coloca abaixo do nível 2, considerado adequado nas três áreas avaliadas pelo Pisa.

Separadamente, 56,6% estão abaixo do nível 2 e apenas 0,02% está no nível 6, o máximo da avaliação. Em leitura, 50,99% estão abaixo do nível 2 e 0,14% estão no nível máximo; em matemática, 70,25% estão abaixo do adequado, contra 0,13% no maior nível.

Isso significa que esses estudantes não conseguem reconhecer a ideia principal em um texto ou relacioná-lo com conhecimentos próprios, não conseguem interpretar dados e identificar a questão abordada em um projeto experimental simples ou interpretar fórmulas matemáticas.

“O nível 2 é o nível considerado mínimo para a pessoa exercer a cidadania”, diz a secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro. “Todos os educadores insistem e nós também na questão da equidade. Esse resultado mostra problema de desigualdade muito grande”.
Abaixo da média

Em matemática, o país teve uma trajetória positiva desde 2003, início da série histórica, quando obteve 356 pontos. Nas avaliações seguintes, obteve 370 em 2006 e 386, em 2009. Em 2012, o país atingiu 389 pontos. Houve uma elevação real de 21 pontos na média dos alunos no período de 2003 a 2012. Em 2015, no entanto, o país caiu para 377, o que significa um declínio de 11,4 pontos. Apesar de ser uma queda, pelos critérios da OCDE, não se trata de grande diferença.

Nas demais avaliações, o país está estagnado. Em ciências, a proficiência média do Brasil foi 390 em 2006; 405 em 2009; e 402 em 2012. As pontuações não apresentam diferenças estatísticas, segundo o relatório da OCDE, o que mostra que o país está estagnado. O mesmo ocorre em leitura. Em 2000, o país obteve 396; em 2003, 403; em 2006, 393; em 2009, 412 e em 2012, 407. Essas diferenças são consideradas insignificantes estatisticamente.

Ranking

Em comparação com os demais países, o Brasil ocupa a 63ª posição em ciências; a 59ª posição em leitura e a 65ª posição em matemática. O ranking considera 70 economias - foram excluídas a Malásia e o Cazaquistão, que não seguiram as mesmas regras de amostragem dos demais países, o que não permite a comparação.

No topo do ranking de ciências estão Cingapura (556), o Japão (538) e a Estônia (534). Em leitura estão Cingapura (535), Hong Kong (China), o Canadá (527) e a Finlândia (526). Em matemática, Cingapura também aparece em primeiro lugar, com 564 pontos, seguida de Hong Kong (548) e Macau (China), com 544 pontos.

A OCDE pondera que as condições socioeconômica do Brasil e dos países da OCDE são diferentes. Enquanto no Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita considerado no estudo é de US$ 15,9 mil, a média da OCDE é de US$ 39,3 mil por habitante. Os países-membros da organização também investem mais por estudantes dos 6 aos 15 anos, US$ US$ 90,3 mil, enquanto no Brasil esse gasto é de menos da metade, 38,2 mil.

Outros países, no entanto, como a Colômbia, o México e o Uruguai gastam menos por estudante que o Brasil e tiveram um desempenho melhor em ciências - respectivamente, 416, 416 e 435 pontos. O Chile, que gasta o mesmo que o Brasil, também obteve uma pontuação maior, de 447.

Desigualdade

Dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do Pisa no Brasil, mostram que há no país grande desigualdade entre os estados em relação aos resultados do exame.

Em ciências, o estado que obteve a maior pontuação foi o Espírito Santo, com 435 pontos. O estado com o pior desempenho foi Alagoas, com 360 pontos. De acordo com os critérios da organização, 30 pontos no Pisa equivalem a um ano de estudos. Isso significa que, em média, há mais de dois anos de diferença entre os dois estados. A média do Brasil em ciências foi de 401 pontos.

Em leitura, cuja média do Brasil foi de 407 pontos, e em matemática, cuja média foi 377, 15 estados ficaram abaixo da média nacional: Roraima, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco, Rondônia, Amapá, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Maranhão, Tocantins, Bahia e Alagoas.

Entre os fatores destacados pelo Inep que influenciam o baixo desempenho está o índice de repetência que, entre outras questões, pode desestimular os estudantes. Na avaliação, 36% dos jovens de 15 anos afirmaram ter repetido uma série pelo menos uma vez.

O nível socioeconômico também influencia o desempenho. Alunos com maior nível socioeconômico tendem a tirar notas maiores. Entre os países da OCDE, a diferença entre estudantes com maior e menor nível pode chegar a 38 pontos de proficiência. No Brasil, essa diferença chega a 27 pontos, ou o equivalente um ano de aprendizagem.

“O Brasil não melhorou a qualidade e nem a equidade nos últimos 13 anos, principalmente”, diz Maria Helena. “A única melhora do país foi no fluxo. É importante registrar que 77% dos estudantes que fizeram o Pisa estão no ensino médio”, acrescenta.

Ministério da Educação

Na avaliação da secretária executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, o resultado geral do Brasil “é muito ruim em comparação até com países que têm investimento menor que o nosso em educação e, inclusive, um nível de desenvolvimento inferior ao do Brasil. Países como a Colômbia e o México, que tinham um desempenho parecido e agora ja superaram o Brasil”, afirma.

De acordo com Maria Helena, é possível “dar um salto de qualidade” desde que haja políticas públicas adequadas. Segundo ela, a formação de professores é chave nesse processo. Ela aposta na definição da Base Nacional Comum Curricular para melhorar o ensino. A base vai definir o mínimo que estudantes devem aprender, desde o ensino infantil até o ensino médio. O documento, que está em discussão para o ensino médio e em fase final de elaboração para as demais etapas, vai orientar também a formação dos professores.


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