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1) 58 em cada 100
projetos aprovados na câmara municipal de SP se referem a mudanças de nomes de
ruas ou datas comemorativas. Custo pelo serviço: R$ 180 mil por vereador.
Você provavelmente dedicou algum tempo a escolher o melhor
nome e fazer bonito nas eleições municipais de 2016. Teve de encarar inúmeros
candidatos nada convincentes e perceber que, de todos ali, boa parte não faz
idéia do que um vereador faz na prática.
É uma situação bastante comum. Boa parte da população ainda
tem dificuldades em apontar qual é a tarefa de cada um na política brasileira.
Fiscalizar o prefeito, aprovar leis e toda a decoreba que as campanhas do
Tribunal Superior Eleitoral ensinam é até conhecida, mas e no dia a dia? O que
de fato fazem os vereadores pelo Brasil?
Se o assunto for a Câmara Municipal de São Paulo, a resposta
é fácil: vereadores definem datas comemorativas e nomes de ruas, em ao menos
metade do seu tempo. Apesar do volume recorde de projetos aprovados nos últimos
anos, boa parte deles (58%) pode ser resumida nestes dois itens. Entre os
exemplos, encontramos a criação de dias para comemorar a profissão de motoboy e
definir o nome mais adequado para o elevado Costa e Silva.
A Câmara de Vereadores paulista custa anualmente mais de
meio bilhão para a cidade.
2) Os R$ 5 milhões
que o Senado pagou ao Sírio-Libanês, o melhor hospital privado do país.
A discussão sobre o impacto do ajuste fiscal proposto pelo
governo para a saúde ainda se desenrola no Congresso. Medir os efeitos sobre
saúde e educação ao longo dos anos tornou-se ponto central na discussão, a
despeito da participação de ambos no orçamento total.
Para os senadores, no entanto, a discussão tem pouca
importância. De checkups a internações mais sérias, o Senado coloca à inteira
disposição de seus membros e dependentes (parentes de primeiro grau) o melhor
hospital do país.
Em 2013, entre janeiro e julho, a conta chegou aos R$ 5,1
milhões. Tudo isso para atender servidores, senadores, filhos, cônjuges e até
ex-senadores.
3) O presidente que
se aposentou aos 55 anos e recebe 6 vezes mais do que o teto do INSS.
Enviada ao Congresso esta semana, a reforma da previdência
promete resolver um problema grave de descontrole dos gastos na área. Porém, a
forma como isto deve ser feito ainda levanta discussões.
Para resolver um problema atuarial, ou seja, para garantir
que haverá recursos para bancar as aposentadorias e pensões no futuro, o
governo espera elevar para até 67 anos a idade mínima para aposentadoria. Na
prática, você irá se aposentar com no mínimo 67 anos, recebendo uma base de 51%
da média das suas contribuições, e 1% a mais para cada ano de contribuição.
Para receber 100% por exemplo, teria que contribuir por 49 anos.
A severidade da reforma se dá em boa parte pelos excessos
concedidos no passado, segundo a justificativa oficial. Para entender estes
excessos, basta dar uma olhada no caso do próprio Presidente da República.
Com 55 anos, portanto 21 anos atrás, Michel Temer se
aposentou como Procurador do Estado de São Paulo, ganhando R$ 30 mil mensais.
Por não se tratar de um contribuinte do INSS, Temer pode
receber o salário integral, benefício concedido ao funcionalismo público que
ingressou no cargo antes de 1998.
Foram, portanto, 30 anos contribuindo com 11% de seu
salário, para passar, até aqui, 21 anos recebendo 100% do salário de
aposentadoria. Como você já percebeu, a conta não fecha e quem paga a diferença
é você.
4) Os R$ 2 bilhões
gastos com aposentadorias e pensões de ex-congressistas.
O IPC, o Instituto de Previdência do Congresso, já não
existe há pelo menos 17 anos. Seu custo, porém, continua pesando no orçamento
do Congresso. Manter os pouco mais de 1,1 mil políticos e servidores
aposentados, ou as pensões para os cônjuges e dependentes, gera um custo de R$
164 milhões anuais.
Ao contrário do cidadão comum, que contribui por 30 anos ao
INSS para receber sua aposentadoria, é possível, ainda hoje, que um
congressista passe 8 anos no cargo para se aposentar. Basta que tenha mais de
50 anos.
O custo médio por cada pensão chega a ser 7,5 vezes maior
que a média paga pelo INSS, beirando os R$ 14 mil mensais para cada um dos
beneficiários.
5) Os R$ 252 milhões
gastos por legislatura apenas para ajudar deputados e senadores a comprarem
ternos.
Muito além de um 13º salário, congressistas esbanjam
generosidade entre si, estendendo a todos os parlamentares o direito ao chamado
auxílio-paletó, uma espécie de 14º e 15º salários, justificados da maneira mais
curiosa possível: garantir que os deputados e senadores possam comprar ternos
por ano para exercerem de maneira adequada sua atividade profissional.
Levando ao pé da letra, como mostra o site Congresso em
Foco, seria possível comprar 126,250 ternos de R$ 2 mil. Divida o valor pelos
594 congressistas brasileiros (513 deputados e 81 senadores) e a conta chega a
impressionantes 212 ternos para cada um.
Seria possível que cada membro do Congresso Nacional usasse
um terno de R$ 2 mil por sessão e em seguida nunca mais o utilizasse, tudo sem
custo pessoal algum.
Nas contas do Congresso em Foco, a utilização dos valores
ganha outro significado: 4,7 mil casas populares construídas todos os anos ou
17 mil núcleos familiares que sairiam da extrema pobreza se nosso deputados e
senadores decidissem pagar pela própria roupa.
Em maio de 2012, sob protestos e denúncias de abusos na
verba, o Congresso aprovou a extinção do benefício criado em 1943.
A sessão que aprovou o fim da regalia foi marcada por
discursos emocionantes, como o do deputado que lamentava ter de sobreviver com
um salário líquido de R$ 19 mil.
6) Os R$ 4,2 milhões
anuais que os 24 membros do legislativo do DF gastam por ano mandando cartas.
Qual é o seu e-mail? Ou melhor, qual é o seu Face? Fazer
estas perguntas na Câmara Legislativa do Distrito Federal pode ser um pouco
confuso.
Uma vez que boa parte da população brasileira deixou para
trás o romantismo das cartas enviadas por correio – exceto se você for um
prisioneiro jogando xadrez por correspondência -, os gastos dos deputados
distritais com cartas podem soar um pouco estranhos.
Em tese, cada um dos 24 deputados pode gastar R$ 175 mil
anuais apenas enviando cartas para informar a população. Tudo isso por um custo
semelhante ao de contratar 107 professores pagando a cada um o piso nacional da
educação.
O valor permite ainda que os deputados gastem os recursos
com gráficas para realizar a divulgação, basta solicitar um comprovante
justificando o gasto.
7) Os deputados do
Maranhão que recebiam 18 salários por ano, e agora têm que se contentar com
apenas 15.
É provável que você já tenha se deparado com alguma mentira
sobre a votação no Congresso para acabar com o 13º salário. “Congressistas se
reúnem para acabar com os direitos dos trabalhadores!”, diz a imagem, seguida
de um textão explicando como o partido A ou B estaria tramando contra você.
Um pouco menos trágica foi a notícia recebida pelos deputados
do Maranhão, de que receber 18 salários anuais estava onerando demais a
assembleia e provocando reações controversas. Em 2012, a assembleia legislativa
decidiu que este número era de fato absurdo. Corrigiu o erro. Nada mais de 18
salários por ano, e sim 15!
Durante a votação, que ocorreu 3 dias após uma reportagem
denunciar o ocorrido, um dos deputados tomou a palavra e decidiu fazer um
protesto, segundo ele, “contra as
gangues que querem desmoralizar o Parlamento brasileiro e, especialmente, a
Assembleia Legislativa do Maranhão”. Para outros deputados, a reportagem foi
feita com o claro intuito de indispor o legislativo com a sociedade.
Apesar dos protestos, os 18 salários de R$ 20 mil (valor da
época), foram corrigidos para 15. A verba de R$ 50 mil mensais em indenizações
diversas, porém, foi mantida.
8) Os R$ 46,8 milhões
anuais para bancar aposentadorias de 157 ex-governadores, após 4 ou 8 anos de
trabalho.
Imagine passar 4 anos trabalhando em um emprego que lhe
garante renda suficiente para estar entre os 0,5% mais ricos do país e, ao
final deste período, receber aposentadoria para toda a vida. Este emprego dos
sonhos existe, em inúmeros estados brasileiros onde a aposentadoria para
ex-governadores não foi extinta.
Por ano, o valor equivalente ao de cerca de mil moradias
populares é despendido por estados como o Rio Grande do Sul – um total de R$
46,8 milhões em aposentadorias.
Em Estados como o Maranhão, ex-governadores e viúvas que
recebem a regalia podem contar ainda com veículos oficiais e assessores, também
bancados pela União.
9) O plano de saúde
dos senadores que custa R$ 25.998 por ano, ou 52 vezes o gasto médio com cada
cidadão no SUS.
Nada menos do que 1,5 milhão de brasileiros tiveram de
abandonar planos de saúde nos últimos meses por conta da queda na renda ou o
desemprego ocasionado pela crise que o país atravessa.
Em Brasília, onde o orçamento federal para a saúde – que
atenderá esta demanda crescente – é discutido, a situação é bastante distinta.
Um plano de saúde que atende à família inteira, com médico e dentista à
disposição.
Apenas com o tratamento dentário de dois senadores, José
Agripino e Pedro Simon, o Senado desembolsou nada menos do que R$ 134 mil.
Cerca de R$ 5,1 mil foram gastos ainda com aplicação de
botox pelo ex-senador Milton Cabral e sua esposa, Miriam. O motivo? Ele foi
senador em 1986 e o plano de saúde do Senado é vitalício e estendido a parentes.
A farra ocorre livremente, já que nenhuma auditoria é de
fato responsável pelo plano de saúde do Senado.
Na ponta do lápis, cada senador custa em média 52 vezes mais
do que os recursos gastos pelo SUS com cada brasileiro.
10) Os 10 dias de
folga do Congresso, que custaram R$ 20 milhões, para comemorar as festas
juninas.
Que tal aproveitar um feriado numa quarta-feira de São João
e pular a fogueira, subir o pau de sebo, comer maçã do amor e formar a sua
quadrilha? Para os deputados, a idéia pareceu tentadora. Só tem um pequeno
problema: o Congresso funciona de terça a quinta, já que na sexta os
congressistas precisam ir para casa e na segunda estão cansados voltando de
viagem. Como resolver este empecilho?
Para o ex-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, a solução
foi simples: criou-se um feriadão, que se estende por 10 dias.
A parada, não programada e que não descontará os dias de
férias a que os deputados têm direito, representa nada menos do que R$ 20
milhões a mais em gastos para manter o Congresso funcionando, ainda que nada
tenha sido aprovado.
11) A Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro, onde 80% das leis aprovadas são inconstitucionais.
A praça de guerra em que se transformou a Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro nos últimos dias tinha um objetivo
claro: barrar qualquer tentativa de aprovar as leis enviadas pelo governo para
fazer um ajuste fiscal.
Uma pessoa mais observadora, porém, poderia ter feito uma
outra sugestão: deixe que os deputados votem o que acham que devem votar e em
seguida tudo se resolve. Se o padrão da assembleia for mantido, 80% do que for
votado não tem validade, já que vai contra a Constituição do Estado e a
Constituição Brasileira.
Dentre as leis, há aquela cujo objetivo é proibir a abertura
de lan houses a menos de 1 km de escolas, ou outra que torna obrigatória a existência
de times femininos jogando preliminares das rodadas decisivas do campeonato
estadual.
Das leis consideradas constitucionais, há ainda algumas de
relevância duvidosa, como as que declaram a utilidade pública de entidades como
ONGs ou outras associações.
Apesar de serem vetadas pelo governo, as leis acabam tendo o
veto derrubado e passam a ser julgadas pelo TJ-RJ, obrigando o tribunal a
arbitrar a briga entre executivo e legislativo.
12) Os R$ 696 mil
gastos pelo senado para comprar iPhones.
Cumprir bem a função de parlamentar requer certos
sacrifícios por parte de certas pessoas. Se dispor a viajar ao menos duas vezes
por semana para Brasília, sobreviver com 40 salários mínimos, ou ainda ser
proibido pela imprensa fiscalizadora de levar a esposa em viagens pagas pelo
Congresso.
Apesar de tudo, certos mimos provavelmente compensam. Para
prestar um bom serviço, por exemplo, o Senado Federal garante a cada um dos
seus membros um celular de última geração. Mais especificamente, um iPhone.
A casa possui um contrato de telefonia que garante o
fornecimento de celulares, além de ligações ilimitadas. No entanto, os 360
iPhones novos – ao custo de R$ 696 mil – devem ser utilizados pelos senadores
que por qualquer razão não se sentirem confortáveis em utilizar os celulares
garantidos pela operadora.
13) Os professores do
Rio Grande do Sul que recebem o salário em 3 vezes, enquanto deputados recebem
em dia.
A crise fiscal que assola o Rio Grande do Sul tem uma origem
longínqua. Nos últimos 45 anos, por exemplo, o governo gaúcho gastou menos do
que arrecadou em apenas 3 deles. Como consequência, nenhum estado do país tem
uma situação previdenciária tão complicada e uma dívida tão alta.
Apenas para bancar o déficit da previdência, o governo do
estado gasta mais do que toda a verba de saúde, educação e os investimentos em
segurança. São nada menos do que 1,3 aposentados para cada trabalhador na
ativa.
Manter os salários em dia, portanto, é um desafio para
qualquer governador. Nada menos do que 70,3% dos recursos detidos pelo Estado
são destinados a pagar salários.
O resultado é que, diante de um déficit que chegou próximo
aos R$ 5 bilhões em 2015 (valor semelhante ao gasto com saúde), o governo do
estado encontrou uma alternativa: pagar os salários do executivo em 4 vezes.
Toda semana os servidores gaúchos veem pingar nas suas contas parcelas de R$
350, R$ 800, ou R$ 1350 no último mês, que foi considerado recorde.
Nada disso, porém, diz respeito ao legislativo. Deputados
gaúchos, como quaisquer deputados e membros do judiciário pelo Brasil, têm seu
orçamento devidamente separado. Tudo isso porque o orçamento de cada um dos
três poderes é constitucionalmente distinto, para garantir que nenhum deles
possam interferir na atividade do outro.
O resultado prático é que, mesmo ganhando cerca de 20 vezes
mais que um professor ou policial, os deputados gaúchos conseguem receber seus
salários em dia, sem maiores problemas.
14) A assembléia do
RS que gasta 10 vezes mais com combustível do que a Polícia Militar.
A tradicional Brigada Militar gaúcha é uma das instituições
mais respeitadas do estado. Desde a sua criação em 1837, a Brigada, como ficou
conhecida a partir de 1892, já participou de nada menos do que 6 revoluções e
revoltas no Brasil, como a Revolução Federalista, uma guerra civil que
ocasionou 10 mil baixas entre civis e militares, e a revolução de 1923, além de
conflitos como aqueles que dividiram o Brasil em 1932 (na revolução
constitucionalista, o 9 de julho paulista).
Apesar de uma história respeitável, o peso e a importância
da instituição parecem ter diminuído drasticamente nos últimos tempos. Em um
estado que sofre hoje uma epidemia de violência, o orçamento da Brigada é
afetado por diversos cortes.
Em 2014, cada um dos 129 veículos de parlamentares gastou em
média R$ 35 mil, ou 10 vezes mais do que cada uma das viaturas da brigada
militar.
O ex-presidente da assembleia, Edson Brum, não vê nada de
errado. Os carros da Brigada circulam em velocidade reduzida, dentro da cidade
apenas. Isso, segundo ele, representaria uma economia de combustível.
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