Lula quer ganhar no grito
Carlos José Marques
Com a proximidade das condenações do ex-presidente Lula,
seus advogados resolveram partir para a tática da intimidação e ataques fora do
tom aos juízes que avaliam o caso. Afrontas e confrontos parecem ser as
palavras de ordem nessa nova etapa. Após três ações penais em que o petista
virou réu, a caminho do quarto enquadramento na mesma situação – um recorde em
se tratando de figura pública do seu quilate –, restam poucas dúvidas entre os
investigadores sobre o envolvimento e benefícios recebidos por Lula. E a
bancada jurídica contratada a peso de ouro considera o vale-tudo da insolência
a única saída eficaz para o momento. Desacreditar as autoridades e não os
processos. Falar em perseguição, maquinações políticas e bombardear
especialmente Sergio Moro como artífice de uma diabólica trama para
desestabilizar a candidatura do pretenso líder das massas virou fórmula ideal
nesses tempos.
Ao menos no entender dos agentes do lulopetismo. O clima de
desacato chegou ao máximo na semana passada, durante o depoimento de Mariuza
Aparecida, funcionária da OAS encarregada da supervisão de obras no triplex do
Guarujá. Durante a sessão com a testemunha, o advogado Juarez Cirino dos
Santos, sem pedir licença, atacou Moro reclamando por ele agir, a seu ver, como
“acusador principal” e não como juiz. Falou isso aos berros. Não parou de
esbravejar nem mesmo quando o magistrado, irritado com as interrupções, pediu
respeito e boa conduta dos defensores de Lula que estavam ali apenas para
assistir ao depoimento. Santos não se conteve. Não deixou sequer a testemunha
responder as perguntas. Elevou ainda mais a voz para dizer que Moro não merece
respeito. O desacato estava tipificado. Virou bate-boca. E o mais grave: sem
punições. Poucas vezes se viu representantes da corte serem afrontados daquela
maneira. O advogado perdeu as estribeiras, numa clara demonstração de pouco
caso com a liturgia da sessão e a autoridade presente. A cena espantou não
apenas quem estava no recinto como também a maioria dos brasileiros, depois que
o vídeo com a oitiva foi ao ar na TV. Isso ocorreu na segunda, 12.
Menos de 48 horas depois, na tarde da quarta, 14, a tropa de
advogados de Lula partiu para novo embate. Protocolou uma petição em que acusa
Moro de tratar a defesa do petista com falta de “urbanidade”. Entenda-se por
isso uma carência de cortesia e civilidade, algo que certamente ficou mais
evidente na linguagem e tom dessa turma do que nas palavras do magistrado. No
dia seguinte, com a nova acusação da Lava-Jato contra o ex-presidente, sua
defesa exibiu abertamente um festival de ofensas e agressões verbais contra os
procuradores. Disse que a denúncia da força-tarefa é fruto de “maluquices”.
Alegou, sem qualquer base concreta, que “os procuradores não se conformam com o
fato de Lula ter sido presidente da República” e asseverou: “Para a Lava-Jato,
esse é o crime de Lula: ter sido presidente da República duas vezes. Temem que
em 2018 Lula reincida nessa ousadia”.
Com tamanha empáfia e empenho em desacreditar os trabalhos
da Justiça, é de se perguntar por que ainda não ocorreram punições e
repreensões exemplares contra esses abusos. Desmoralizar o Judiciário e ridicularizar
emissários da lei virou prática corrente na armada petista. O próprio Lula já
há muito tempo vem recorrendo à estratégia. Confronta Moro de todas as
maneiras. Não apenas abarrotou os tribunais com apelações para fugir das mãos
do juiz como também, publicamente, não perde a oportunidade de criticá-lo sem
limites. Movido talvez por uma sensação de impunidade inadmissível e com o
objetivo de constranger os trabalhos da Lava-Jato. É um comportamento
condenável especialmente vindo de quem já esteve no comando do País. A
temerária escalada de desacatos como esses deve ser contida o quanto antes para
que não pairem dúvidas de que ninguém está acima da lei. Nem mesmo aqueles que
se arvoram o papel de salvadores da pátria.
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