Folha
Em entrevista à Folha, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, demonstrou certa contrariedade com o discurso dos procuradores
da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba de ameaçar renunciar à investigação se
o pacote de medidas anticorrupção votado na Câmara for sancionado. Segundo o
chefe do Ministério Público Federal, a declaração dos procuradores pode ter
sido uma “reação de cabeça quente”. “A resposta tem que ser institucional e
profissional”, afirmou. Janot conversou com a reportagem por telefone da China,
onde está em viagem, e se disse “estupefato” com a postura da Câmara de alterar
o projeto proposto pelo Ministério Público.
Sobre a tentativa fracassada do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), de tentar votar o projeto a toque de caixa na noite
passada na Casa, ele disse: “Nem o Bolt [Usain Bolt, velocista jamaicano] teria
tanta velocidade para lançar uma proposta. Não sei qual o espírito de Bolt que
foi incorporado pelo presidente do Senado”.
Qual sua opinião
sobre a votação na Câmara?
Eu fico estupefato no sentido de que a Câmara não tenha tido
a sensibilidade de entender o momento histórico do país. Poderíamos ter dado um
passo gigantesco no nosso processo civilizatório no que se refere ao combate à
corrupção e ao crime organizado. Eu fico assustado de ver que esse momento não
foi percebido. O Brasil resolveu fazer um ponto e vírgula e engatar uma marcha
ré no combate a corrupção.
Por que o sr. acha
que a Câmara fez isso?
Olha, não sei. Não estamos inventando nada. Esses
instrumentos [propostos pela Procuradoria] contaram com apoio de organismos
internacionais. Representantes da ONU apoiaram essas medidas.
A questão da punição
de juízes e procuradores é o que mais incomoda o senhor?
Eu, enquanto cidadão e servidor público, quero uma lei de
abuso de autoridade. Duvido que algum membro do Ministério Público não queira
essa lei. Agora, a forma atropelada como tem sido conduzida a discussão levanta
no mínimo alguma suspeita. Por que essa pressa toda? Por que uma lei que é de
1965, cuja modificação chegou ao Congresso em 2009, e ali estava parada desde
então, de repente aparece no Senado com essa pressa toda para ser apreciada com
falhas inegáveis?
Quando o sr. diz
“levanta algumas suspeitas”, quais seriam?
Não sei. Não quero crer que um julgamento pautado no Supremo
para o dia 1º no Brasil tenha sido a causa de toda essa pressa.
O sr. acha que o
julgamento da denúncia contra o Renan pelo STF nesta quinta motivou a tentativa
dele de acelerar a votação no Senado?
Me recuso a acreditar. Seria lastimável que um chefe de
Poder utilizasse da sua cadeira e da sua caneta para obter ou influir num outro
Poder de modo a obter alguma vantagem para si próprio. Não sei o que o levou a
fazer isso. Nem o Bolt teria tanta velocidade para lançar uma proposta. Não sei
qual o espírito de Bolt que foi incorporado pelo presidente do Senado.
O senhor acha que
essas medidas terão efeito na Lava Jato?
Se você passa uma lei de abuso criminalizando algo que há
150 anos não se acreditava mais, que é o crime de hermenêutica, qualquer forma
de fiscalização não terá tranquilidade de trabalhar. Por exemplo, eu, como
membro do Ministério Público Federal, ofereço uma denúncia e ela é recusada
pelo Judiciário. Nada mais que o normal. São sistemas de freio de controle,
peso e contrapeso. Agora, se essa recusa de denúncia constitui crime para quem
ofereceu denúncia, é no mínimo uma loucura completa. É um crime de que se teve
noticia no fascismo e no nazismo: alguém que, por divergência teórica, possa
responder criminalmente por aquilo que faz por ato de ofício.
Os procuradores em
Curitiba ameaçaram renunciar à Lava Jato se o pacote aprovado na Câmara for
sancionado. Não é uma forma de chantagem ao Congresso? Não chega a ser um gesto
autoritário?
Estou longe daí do Brasil. Não estou percebendo o contexto
deles. Isso pode ter sido também uma reação das pessoas de cabeça quente, mas
não consigo avaliar porque estou na China. Eu soltei uma nota à imprensa
dizendo o contrário: que todos os colegas concentrem esforços no seu trabalho
de maneira objetiva e profissional, sem ideologia, e que toquem para frente
todas suas investigações e seus processos. Essa é a resposta. A resposta tem
que ser institucional e profissional.
A PGR pretende
discutir as medidas agora no Senado?
Vamos discutir. A gente quer contribuir para uma lei de
abuso de autoridade moderna e eficaz, que seja adequada aos momentos que o
Brasil vive. A gente quer ajudar a corrigir absurdos. Vamos fazer uma lei de
abuso de autoridade que atenda a todos os anseios? Vamos. A gente quer essa
lei, agora sem essa correria e sem esses absurdos que constam no texto.
O sr. sentaria à mesa
para falar com o presidente Renan Calheiros sobre o assunto?
Claro. Sou um homem do diálogo. Dialogo com todos, desde que
venham à mesa sem ideias preconcebidas, sem preconceitos, sem a vontade de
conseguir resultados através de subterfúgios.
(argento - só no BraZiiu Réus julgam Juízes) ... como seriam as respostas de um micro empresário se entrevistado fosse? ...
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