Reinaldo Azevedo: O MARXISTA FACHIN NO SUPREMO – Alô,
senadores tucanos, os brasileiros já estão com o saco cheio de traidores! Ou:
Um partido de oposição precisa ir além do simples combate à corrupção: é
preciso construir e respeitar valores. Com a palavra, Aécio, Serra, Aloysio… E
aí?
Tudo indica que o PSDB — ou senadores do PSDB, para ser mais
preciso — estão prestes a fazer uma grande besteira. E não seriam poucos os
leitores que ousariam dizer: “Mais uma!”. A que me refiro? Tucanos do Senado
estão dispostos a referendar o nome de Luiz Edson Fachin, um homem com ideias
de extrema esquerda, para o Supremo Tribunal Federal. Não sei quantos podem
fazê-lo por convicção, não sei quantos estariam apenas sendo simpáticos ao
senador paranaense Alvaro Dias, que decidiu adotar o advogado nascido no Rio
Grande do Sul e fez carreira no Paraná. Ou por outra: Dias vira cabo eleitoral
de Fachin por razões meramente bairristas, e seus colegas de partido o seguem
por camaradagem. Ou por outra ainda: a república dos compadres é mais
importante que a República Federativa do Brasil. Sendo assim, vamos ser diretos
na pergunta: por que o país precisa de tucanos se já tem os petistas?
A um partido de oposição não basta apenas combater a
corrupção. Isso é um imperativo moral, que deveria independer da escolha política.
A um partido de oposição não basta apenas apontar os erros do governo. Isso é
um imperativo administrativo, que também deveria independer da escolha
política. E essas duas coisas, como sabe o PT dos tempos em que estava fora do
poder, não bastam para conduzir uma legenda à vitória. Um partido só se
organiza e se prepara para isso quando consegue construir, consolidar ou
capturar valores, tornando-os também seus. A agremiação tanto tem de estar
atenta às novas demandas que vão surgindo nas ruas como tem de ter a coragem de
propor caminhos. E, nisso, o PSDB sempre falhou miseravelmente. Foi eleito duas
vezes pelo Plano Real, não porque tivesse plasmado uma mentalidade.
Ora, o PSDB vociferar em plenário, em artigos de jornal e em
ambientes estritos e selecionados contra a corrupção é fácil. Só faltava fazer
o contrário, não é? Também não há moleza maior, hoje em dia, do que apontar as
incompetências de Dilma. Isso tudo é meramente reativo. Sim, é necessário
cumprir também esse papel, mas isso não basta. Uma agremiação que pretenda
desbancar outra não se afirma apenas negativamente. Também tem de se expressar
de forma positiva — de construir, em suma, valores.
E isso, lamentavelmente, o PSDB ainda não percebeu. E é por
isso, já adverti em artigos, que pode ser tragado pelo rescaldo da crise que
hoje engolfa o PT. No fim das contas, há entre os dois uma espécie de pacto de
duelistas, não é? Seria conveniente perceber que parte considerável do
eleitorado já se cansou dessa guerra entre vermelho e azul, entre o Boi
Garantido e o Boi Caprichoso.
O PSDB tem apenas uma alternativa decente no caso Fachin:
votar contra a sua indicação. E não apenas com o propósito de “reagir” a Dilma,
mas de AFIRMAR QUAIS SÃO OS VALORES DO PARTIDO. E, nesse ponto, pergunto: QUAIS
SÃO? ELES EXISTEM? Em seu editorial crítico a Fachin (ver nesta home), o
Estadão observa ser “natural que a visão de mundo de um magistrado,
necessariamente conformada por suas inclinações ideológicas, influa de alguma
forma em seu julgamento – e isso faz parte da condição humana, constituindo,
portanto, um elemento subjetivo inevitável (…)”. Pois é…
Mas, então, vamos pensar. Se é natural que a visão de mundo
interfira no juízo de um magistrado, cumpre indagar: qual é a visão de mundo de
Fachin? Resposta: ele é um marxista empedernido, um adversário severo da
propriedade privada, um defensor do confisco
de terras sem indenização, um apologista da desapropriação de áreas
produtivas, um defensor de teses asquerosamente heterodoxas sobre direito de
família, que avançam na defesa da poligamia e da incorporação da figura do
amante como parte da estrutura familiar.
Reportagem da Folha de domingo diz que as ideias
“progressistas” de Fachin estão criando dificuldades. O jornal emprega a
palavra sem aspas, sem nada, como um dado da realidade. Venham cá: quer dizer
que os defensores da propriedade privada, da legalidade e da família monogâmica
são “regressistas”? Quer dizer que o progresso está com a desapropriação de
terras produtivas? Com o confisco sem indenização de propriedades? A Folha acha
isso progressista só no campo ou defende o mesmo para as cidades?
Que o PT se alinhe com esse lixo ideológico, vá lá.
Socialista, em sentido estrito, o partido não é, mas tem muito claro que a
destruição de valores essenciais, que formam a sociedade brasileira, lhe é útil
porque serve a seu projeto autoritário. E o PSDB? Quer o quê?
Um leitor da Folha ficou zangado com a minha coluna no
jornal de sexta-feira, que criticou duramente Fachin. Acusa-me tolamente de não
respeitar a democracia, como se eu tivesse a intenção de proibir Fachin de
pensar o que pensa. Eu não! Ele é livre para defender o que bem entender. Eu
exerço o meu direito de achar que ele não pode levar suas ideias ao Supremo.
Os dez senadores tucanos não podem, sozinhos, barrar a
indicação feita por Dilma. Mas quem disse que estão sós? A questão é saber se
vão ter a coragem de dizer “não” a Fachin e aos valores que representa, que
agridem o povo brasileiro e a Constituição, ou se vão se dedicar às mesuras de praxe,
que humilham a República.
Uma pergunta a Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes (SP), Antonio
Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Flexa Ribeiro (PA), José Serra (SP),
Lúcia Vânia (GO), Paulo Bauer (SC) e Tasso Jereissati (CE): vocês vão aderir ao
voto do compadrio ou vão escolher um caminho que reafirma valores que são do
povo brasileiro e da Constituição? No primeiro caso, endossem o nome do Fachin
e evidenciem por que o PSDB, de fato, não está à altura de representar os
anseios de uma esmagadora maioria do povo brasileiro que hoje cobra que um
partido de oposição vá além da simples crítica aos corruptos. No segundo caso,
há a chance de vocês marcarem um encontro com os eleitores.
Sei, reitero, que os tucanos não são os únicos senadores da
Casa, mas a sua passividade no caso de Fachin é dessas coisas irritantes,
incompreensíveis, desastradas, que traem de forma aberta e escancarada o voto
de milhões de brasileiros.
E, notem, se há coisa de que os eleitores já estão com o
saco cheio, fiquem atentos, senhores tucanos, é de traidores.
(argento) ... "Por que o país precisa de tucanos se já tem os petistas?" - taí uma Boa Pergunta ...
ResponderExcluir(argento) ... a resposta é o Óbvio Ululante - sem polêmicas, conflitos, divisões não é possível Estabelecer Outra (nova?!) Ordem
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