A sabatina do advogado Luiz Edson Fachin na Comissão de
Justiça do Senado foi um espetáculo inesquecível, em que um notável ator
tentava dominar o palco, cercado de coadjuvantes. Rolaram muitas emoções, como
diria Roberto Carlos. Logo ao se apresentar aos parlamentares, o protagonista
chegou a chorar, porque sua família era pobre.
“Sou um sobrevivente, não me recuso aos desafios. Sobrevivi
à infância contrabalançando o zelo materno e privações. Sobrevivi a uma
adolescência difícil e enriquecedora. Não me envergonho, ao contrário, me
orgulho, de ter vendido laranjas na carroça de meu avô pelas ruas onde
morávamos. Me orgulho de ter começado como pacoteiro de uma loja de tecidos. Me
orgulho de ter vendido passagens em uma estação rodoviária. Tive desafios muito
cedo”, disse o candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
Mas nada disso interessava e os parlamentares da oposição e
da própria base aliada também fizeram seu papel, metralhando o protagonista com
perguntas que realmente ele não tinha a menor condição de responder, porque não
estavam no script imaginado pelos marqueteiros do Planalto.
Quem foi à Comissão de Justiça ou assistiu pela TV pensando
em presenciar uma cena da vida real, infelizmente, acabou vendo uma peça de
ficção, porque Fachin distorceu a verdade, usou argumentos falaciosos e até
mentiu para valer, realmente mostrando estar capacitado para atuar em papéis de
defensor do governo.
As distorções da verdade começaram quando vários senadores
afirmaram que houve exercício ilegal da profissão pelo advogado, porque a
Constituição do Paraná proibia a prática acumulada com cargo público. Fachin
argumentou que a Constituição Federal, que se sobrepõe à do Paraná, autorizava
o acúmulo dos cargos. “As restrições do exercício da profissão são competência
de matéria e lei federal“, assinalou, ardilosamente, porque a Constituição
Federal não autoriza que procuradores estaduais o façam, foi uma falácia, e ninguém
pegou a Constituição para ele mostrar que artigo lhe dava cobertura.
Depois, Fachin teve a ousadia de dizer que não tem
militância política, negou ligações com o PT e garantiu se sentir à vontade
para fazer julgamentos envolvendo políticos e partidos. Como teve coragem de
mentir com tamanho descaramento? É preciso muita coragem. E nenhum parlamentar
se lembrou de exibir na Comissão o vídeo que faz sucesso na internet, gravado
ano passado, na campanha presidencial, com Fachin no papel principal.
“Tenho em minhas mãos um manifesto de centenas de juristas
brasileiros que tomaram lado“, diz Fachin, para em seguida fazer a leitura do
manifesto, sob aplausos de militantes da campanha. Ao lado dele estavam, entre
outros, os hoje ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo
Cardozo (Justiça). Também participava da cena o ex-ministro da Justiça Marcio
Thomaz Bastos, recentemente falecido.
“Apoiamos Dilma para prosseguirmos juntos na construção de
um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para
todos, que preserve os bens naturais. Um país socialmente justo que continue
acelerando a inclusão social e que consolide, soberano, sua nova posição no
cenário internacional. Um país que priorize a educação, a cultura, a
sustentabilidade e a erradicação da miséria. Um país que preserve sua dignidade
reconquistada. O governo que queremos é o governo que preservou as instituições
democráticas e jamais transigiu com o autoritarismo. Um governo que não tentou,
casuisticamente, alterar a Constituição para buscar um novo mandato“, disse
Fachin, que agora alega não ter ligações políticas. Deve ser para disputar a
Piada do Ano.
Acossado pelos parlamentares, Fachin deu aulas de
contorcionismo político para se livrar dos ataques. Todos sabem que ele é
advogado do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que invade áreas produtivas
como se fossem terras devolutas. Mesmo assim, desta vez Fachin defendeu a nobre
tese de que propriedades rurais produtivas não podem ser desapropriadas.
Caramba! Mudou o MST ou mudou Fachin?
Em seguida, para não desagradar nem oposição nem situação, o
equilibrista Fachin não se mostrou a favor ou contra a redução da maioridade
penal, limitando-se a dizer que é preciso aprofundar o debate…
Da mesma forma, quando interpelado sobre a importantíssima
questão do financiamento de empresários (especialmente empreiteiros) às
campanhas eleitorais e aos partidos, Fachin não disse nada, apenas declarou
que, em sua opinião, o Supremo não deve ter posição sobre esse assunto, vejam a
que ponto vai sua desfaçatez, pois é justamente o STF que está decidindo isso,
em votação interrompida pelo ministro Gilmar Mendes, que sentou em cima do
processo.
O pior ainda estava por vir. Na parte final da sabatina, que
só terminou às 22h28m, o advogado se esborrachou de vez. Indagado sobre a
elaboração do site “Movimento Fachin Sim”, criado semana passada para responder
críticas sobre o exercício da advocacia privada ao mesmo tempo em que era
procurador do estado no Paraná, Fachin informou que contou com um profissional
da área de comunicação na montagem do portal.
“Esse profissional me auxiliou e, em alguns momentos, tomou
algumas providências para prestar alguns esclarecimentos. Não tive conhecimento
da contratação desse site. Confesso que não tenho a informação de quanto foi
pago, mas não tenho nenhum problema em, assim que obtê-la, divulgar a vossa
excelência”, disse o advogado ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP),
autor do questionamento.
A este respeito, o comentarista Antônio Fallavena fez a
seguinte observação aqui na Tribuna da Internet: “Será que estou ficando burro?
Se as declarações acima são verídicas/fidedignas, alguém pode explicar como é
possível receber ajuda de um profissional e desconhecer a origem e custos do
site! O profissional também “prestou alguns esclarecimentos”? Que diabo é isto?
Os senadores não se deram conta? Quem pagou o site? Quem pagou o profissional?
Nem entrou e já está cheio de “não sei”. Terá aprendido com alguém?”
É, Fallavena, realmente o Dr. Fachin não tem condições de
ser nomeado para o Supremo. Mostrou ser uma espécie de “Duas Caras”, do filme
do Batman. Diz uma coisa e faz outra. Mas na sabatina teve 20 votos a favor e
apenas 7 contra. Já podemos vê-lo sentado no plenário da mais alta corte de
justiça, ao lado de Lewandowski, Toffoli e toda aquela quadrilha dos versos de
Drummond.
Para analisar a votação seria necessário o nome dos senadores que votaram, mas também é necessário "entender" a politicagem no Brasil. Nesta votação ele não poderia ser rejeitado, pois ficaria "feio" para a base comprada, digo aliada, mas na votação secreta existirá também a "intenção secreta", ou seja, agradar o governo ou mandar o recado que não aceitarão o PT controlando o STF.
ResponderExcluirMas a notícia do dia (ontem) foi mesmo a doleira que cantou "Amada Amante". Mas deveria ter sido as perguntas que fizeram para ela. Afinal de contas, qual a importância para o processo ela ser ou não amante do cara, é processo de divórcio? Que diferença faz se o dinheiro estava na calcinha, no bolso ou numa sacola, na calcinha a pena é maior ou menor?
O Brasil é uma pantomima generalizada, Milton.
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