terça-feira, 31 de outubro de 2017

Temer é o presidente mais eficiente na relação com o Congresso desde 1995

Importante e esclarecedor

João Montanaro - Folha

O desempenho de Michel Temer (PMDB) nas suas relações com o Congresso não faz o menor sentido.

Por se tratar de figura extremamente impopular, que chegou à Presidência após um impeachment legítimo, embora controverso, e que vem se defrontando com inúmeras e sérias acusações de corrupção e obstrução da justiça, o mais racional seria que os membros de sua coalizão no mínimo inflacionassem o preço do apoio político como consequência direta da vulnerabilidade do chefe do Executivo.

O que se observa, no entanto, é justamente o inverso.

O governo tem sido capaz de aprovar projetos difíceis : o teto para os gastos públicos, as reformas trabalhista e do ensino médio, a mudança do marco regulatório do petróleo e a criação de uma nova taxa de juros para o BNDES, entre outros exemplos. Muitas dessas propostas exigiram quórum qualificado em dois turnos de votação em cada uma das Casas Legislativas.

Além disso, iniciativas da oposição que visam a constranger o presidente têm sido bloqueadas no Congresso, e as duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal foram rejeitadas.

Mais surpreendente, Temer conseguiu todas essas vitórias mantendo sua coalizão estável a um custo agregado relativamente baixo.

Como um presidente com esse perfil pode ser tão eficiente nas suas relações com o Congresso? Como Temer pode ser tão impopular entre os eleitores e tão popular entre os deputados e os senadores?

A chave desse suposto enigma está na gerência da coalizão. Temer tem-se saído incrivelmente bem numa tarefa típica de todo presidente num sistema político multipartidário, no qual o partido do chefe do Executivo em geral não dispõe de maioria no Legislativo.

MINORITÁRIO
A situação é diversa daquela normalmente verificada no presidencialismo bipartidário dos Estados Unidos, onde a Casa Branca costuma contar com apoio suficiente no Capitólio.

Tanto assim que os americanos têm um ditado que se aplica àqueles períodos em que o governo não desfruta da maioria das cadeiras em pelo menos uma das Casas Legislativas: "Se o contrário de pró é contra, o contrário de progresso deve ser o Congresso".

Ou seja, de um governo dividido, intrinsecamente minoritário, espera-se maior frequência de paralisia decisória, de conflitos entre o Executivo e o Legislativo e, provavelmente, de problemas de governabilidade, com o presidente sendo refém do Congresso e impedido de realizar "progressos".

Se valesse essa interpretação aritmética para presidencialismos multipartidários, a condição de governo dividido seria observada na maior parte dos casos.

Nos 18 países latino-americanos nos quais predomina a combinação de presidencialismo com multipartidarismo, em apenas 26% das vezes a legenda do presidente obteve maioria de cadeiras no Congresso.

Em relação ao Brasil pós-redemocratização, isso só ocorreu nas eleições de 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte, quando o PMDB de José Sarney conquistou a maioria esmagadora dos assentos na Câmara e no Senado.

Os presidentes pós-Sarney não tiveram a mesma sorte. Seus partidos ocuparam no máximo 20% dos lugares na Câmara e 27% no Senado. Para governar em uma condição a princípio adversa como essa, é preciso montar e sustentar coalizões majoritárias pós-eleitorais.

Cabe salientar que esse arranjo está longe de ser especificidade brasileira. A rigor, dois terços das atuais democracias são presidencialistas ou semipresidencialistas e tipicamente são governadas por coalizões multipartidárias.

A interpretação dominante na literatura especializada que investiga o presidencialismo de coalizão brasileiro afirma que os poderes constitucionais e de agenda delegados ao Executivo seriam suficientes para superar os problemas inerentes da condição de governo minoritário e para atrair partidos para a coalizão do presidente.

Dotado desses poderes, o chefe do Executivo teria condições de governar a um custo relativamente baixo, aprovando a sua agenda em um ambiente previsível e de cooperação com o Legislativo.

Entretanto, nem sempre é assim. Existe grande variação tanto na taxa de sucesso das iniciativas legislativas de autoria do Executivo quanto nos custos que o presidente enfrenta para aprovar essas medidas (ou bloquear ações indesejáveis da oposição). O gráfico abaixo apresenta essa comparação para os últimos sete governos brasileiros.

Gráfico mostra evolução dos sete últimos mandatos presidenciais

A linha rosa representa a curva de tendência do custo de gerência da coalizão dos presidentes brasileiros, enquanto os pontos rosas exprimem o custo real mensal. A linha azul-clara remete à quantidade de propostas legislativas de autoria do Executivo enviadas para o Congresso, e a linha azul-escura indica quantas dessas iniciativas foram aprovadas.

Ou seja, o gráfico mostra a eficiência do presidente na gestão de sua coalizão: um governo eficiente aprova mais proposições a um custo relativamente baixo.

A medida do custo de gerência da coalizão, que desenvolvi em parceria com Frederico Bertholini, é composta de três variáveis: 1) quantidade de ministérios (e secretarias com status de ministério) que um presidente decide ter em seu governo; 2) total de recursos que aloca entre os ministérios (e secretarias com status de ministério) ocupados pelos membros da coalizão; 3) montante em emendas individuais que os parlamentares fazem ao Orçamento anual e que o presidente executa. (Nos itens 2 e 3, os valores em reais são calculados como proporção do PIB.)

Desses três fatores resulta um índice sintético de custos de governo (ICG)1, que permite comparar o nível de recursos disponibilizado pelo presidente aos membros da sua coalizão e ao seu próprio partido. Esse índice não deve ser interpretado de forma absoluta, e sim de forma relativa a outros governos.

Claro que outras moedas de troca podem fazer parte do arsenal presidencial: empréstimos subsidiados de bancos públicos, perdão seletivo de dívidas com a União, distribuição de cargos de escalões inferiores etc.

Infelizmente, porém, elas não atendem aos critérios de disponibilidade e periodicidade nem dispõem de série longa o suficiente para permitir comparações entre governos.

De qualquer forma, não existe motivo para pensar que as variáveis do ICG e as demais moedas de troca não observáveis sejam substituídas umas pelas outras. Na verdade, elas desempenham papel simétrico.

Essas medidas tendem a subir ou a descer juntas. Sabe-se que ao menos duas delas —empréstimos subsidiados e programas de refinanciamento de dívidas— foram utilizadas de forma recorde no período de maior crescimento do ICG (final do segundo governo Lula e início do primeiro governo Dilma).

DE FHC A DILMA
Dado que não houve mudanças efetivas nos poderes do Executivo ao longo desses 22 anos, o que explica tamanha variação tanto na taxa de sucesso legislativo do presidente quanto no custo de governabilidade?

O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, foi caracterizado por um custo total relativamente baixo (média de 36 pontos). Interessante notar que os custos de FHC com o seu próprio partido foram inferiores ao somatório de custos com as demais siglas da coalizão (média de 40% e 60%, respectivamente).

No segundo mandato do tucano, houve um aumento expressivo dos custos totais de governo (média de 59,5 pontos), que passaram a se concentrar mais no próprio PSDB (55%) do que nos demais parceiros de coalizão (45%).

No governo Lula (PT), os custos totais de governo aumentaram ainda mais (média de 90,6 pontos) e o partido do presidente passou a ser destinatário de 69% dos recursos.

Padrão semelhante se reproduziu no segundo mandato de Lula. Os custos totais ainda aumentaram um pouco (média de 95,2 pontos), sobretudo a partir da metade do período, devido a uma ampliação dos custos com as outras siglas da coalizão, embora o PT tenha continuado a receber a maior fatia (60%).

A primeira gestão de Dilma Rousseff (PT) apresentou pequena queda nos custos totais de governo (média de 88,1 pontos), com sensível aproximação entre as proporções dos recursos destinados ao PT (51%) e aos aliados (49%).

No curto segundo mandato de Dilma, os custos totais de governabilidade declinaram consideravelmente (média de 58 pontos), alcançando o mesmo patamar do segundo termo de FHC. Contudo, o PT voltou a ser recompensado de forma desproporcional em relação aos outros parceiros da coalizão (56% e 44%, respectivamente).

Apesar do aumento dos custos de gerência da coalizão durante as administrações petistas, a capacidade de aprovação de iniciativas legislativas de seus presidentes declinou sensivelmente, especialmente a partir do começo do segundo governo Lula e no final do primeiro mandato de Dilma.

TEMER
Com o impeachment de Dilma e a ascensão de Temer, os custos da governabilidade despencaram e alcançaram os níveis mais baixos da série histórica (média de 15,4 pontos). Além disso, houve uma inversão radical na sua composição, com 70% dos recursos distribuídos entre parceiros da coalizão e 30% direcionados ao PMDB.

Nota-se ainda o aumento do número de propostas legislativas de autoria do Executivo, inclusive reformas constitucionais, a indicar que o presidente recuperou o poder de agenda no Congresso. Por fim, a taxa de sucesso dessas iniciativas cresceu consideravelmente.

Isto é, como o gráfico indica, o governo Temer tem sido mais eficiente que seus predecessores, com aumento do apoio legislativo obtido a um custo relativamente baixo.

Dito de outro modo, Temer tem sido mais feliz que seus antecessores ao perseguir o objetivo de todo presidente na administração de um governo racional: maximizar o apoio político com o menor custo possível.

Num ambiente multipartidário, os riscos de conflitos entre o Executivo e o Legislativo podem ser multiplicados ou reduzidos de acordo com as escolhas que o presidente faz para gerenciar sua coalizão.

Portanto, ao definir quantos e quais partidos integrarão sua base, o chefe do Executivo precisa levar em conta a preferência ideológica desses parceiros, determinar a quantidade de poder e de recursos que serão compartilhados entre eles e, finalmente, analisar se a preferência da sua coalizão espelha a preferência do Congresso.

Essas escolhas são muito importantes, pois elas têm consequências decisivas para a capacidade de governo de um presidente e para a qualidade de suas relações com o Legislativo.

Quanto maior o número de partidos na base, quanto maior a heterogeneidade ideológica entre eles, quanto menor a proporcionalidade na alocação de recursos (políticos e monetários) e quanto maior a diferença entre as preferências da coalizão e as do plenário do Congresso, maiores serão as dificuldades de coordenação dos aliados e, por consequência, maiores os custos de governabilidade.

Entretanto, quero destacar que o equilíbrio em uma coalizão não é estático. Pode variar diante de choques externos ou internos (crise econômica, escândalo de corrupção etc.) e quando os membros da coalizão (presidente e partidos) decidem renegociar a aliança à luz de novas condições (uma sigla passou a ser mais importante ou o presidente se fragilizou, por exemplo).

Modificados os termos da negociação, o governo precisa alcançar novo equilíbrio, o que engendra uma nova matriz de custos.

DIFERENÇAS
Quando se analisam esses fatores, ficam evidentes as disparidades das escolhas de montagem e gerência de alianças.

FHC, por exemplo, montou uma coalizão com um número baixo de parceiros (média de 4 e 4,6 siglas).

A heterogeneidade ideológica de seus governos foi muito parecida e relativamente baixa, 31 e 30,5 pontos, respectivamente —cálculo feito a partir dos dados de ideologia partidária propostos por Timothy Power e Cesar Zucco (2012), através de pesquisa de opinião com os próprios legisladores.

Com a chegada do PT ao poder, especialmente no primeiro mandato de Lula, a heterogeneidade ideológica da coalizão governista aumenta bastante, alcançando o patamar de 48 pontos, na média. Particularmente nos seus primeiros meses de governo, a base aliada atingiu o pico de diversidade ideológica na série, com 54 pontos.

No segundo mandato do petista, o valor médio da heterogeneidade da coalizão caiu um pouco, mas ainda permaneceu comparativamente muito alto, 42 pontos. O número de siglas na base governista também era elevado (média de 7,7 e 9,1 partidos no primeiro e segundo governos, respectivamente).

Dilma também montou coalizões com um grande número de legendas (média de 7,8 e 7,9 partidos). No primeiro mandato, a heterogeneidade média da base voltou a subir para 45,5 pontos, demonstrando mais uma vez a dificuldade do PT de montar alianças congruentes com seu perfil ideológico.

Após sua reeleição, com uma estratégia clara de sobrevivência política, Dilma reduziu bastante a heterogeneidade média de sua coalizão, mas ainda assim para um nível elevado (quase 37,7 pontos).

Temer, por sua vez, lidando com a maior fragmentação partidária da história do presidencialismo brasileiro, montou uma coalizão com o maior número de aliados (dez). Ainda assim, tem conseguido gerenciar a coalizão ideologicamente menos heterogênea da série, apenas 27,1 pontos na média.

Essa constatação empírica joga por terra a pressuposição de que fragmentação partidária necessariamente leva presidentes a gerenciar coalizões ideologicamente heterogêneas ou mais caras.

DIVISÃO DE PODER
Com relação à concentração de poder, ela foi medida pelo índice de coalescência, consagrado na literatura (Octavio Amorim Neto, 2006), que mede o grau de proporcionalidade entre o gasto com os partidos e o peso de cada um deles na coalizão —quanto mais próximo de cem, mais proporcional é a divisão de poder.

Temer, além de reduzir o número de ministérios, decidiu compartilhar muitos espaços com os aliados. Essa estratégia levou sua coalizão a apresentar o nível mais alto de proporcionalidade da série (média de 80,4 pontos).

As gestões do PT, em contraste, tiveram tendência de baixo compartilhamento de poder com aliados.

Lula, em seu primeiro mandato, alocou 21 (60%) dos seus 35 ministérios para membros do próprio PT, que ocupava 18% das cadeiras na Câmara. O PMDB, que detinha 15% de cadeiras na Câmara, recebeu dois ministérios (6%). Consequentemente, a proporcionalidade de sua coalizão foi relativamente mais baixa (média de 65,5 pontos).

No segundo mandato, Lula melhorou a proporcionalidade da coalizão (média de 69,1 pontos), mas o índice de coalescência ainda ficou abaixo do registrado nos governos FHC (média de 71,4 e 73,8).

Dilma manteve prática muito parecida com o padrão monopolista do governo Lula, com 46% dos ministérios distribuídos para o PT no primeiro mandato, partido que ocupava 17% de cadeiras na Câmara. A proporcionalidade de sua coalizão ficou em torno de 68,9 pontos.

No seu segundo mandato, fez um esforço considerável de compartilhamento de poder com os aliados, alcançando média de 75,6 pontos.

A decisão de Dilma de montar coalizões menos heterogêneas e menos monopolistas proporcionou uma redução em seus custos de gerência. É possível, porém, que esse esforço tenha ocorrido tardiamente, pois não foram efetivos para evitar a quebra da coalizão e barrar seu impeachment.

E mesmo que do ponto de vista aritmético coalizões petistas tenham sido majoritárias, suas preferências ideológicas, na média, ficavam distantes das preferências do plenário. A exceção ficou por conta do segundo mandato de Dilma, quando, numa tentativa quase desesperada de sobrevivência, aproximou-se da mediana do plenário.

FHC e Temer, por outro lado, montaram coalizões que, na média, espelharam as preferências ideológicas do plenário.

Os impactos das escolhas na gerência da coalizão vão além dos custos da governabilidade. A depender das circunstâncias, eles podem afetar a dinâmica do Congresso e ajudar a determinar o resultado da eleição para a presidência da Câmara, por exemplo, peça-chave no controle da agenda legislativa.

JOGAR O JOGO
Com frequência, o papel relevante de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no impeachment de Dilma é tomado como elemento exógeno, como se sua ascensão repentina fosse obra do imponderável. Essa perspectiva, no entanto, desconsidera como e por que ele chegou ao comando da Câmara.

A emergência e a atuação de Cunha resultaram das escolhas de gerência de coalizão do PT, e não de disfuncionalidades do presidencialismo de coalizão ou de idiossincrasias da personalidade do ex-deputado.

Não fosse a estratégia monopolista de gestão da base aliada e a tentativa petista de desidratar o PMDB, talvez a eleição para a presidência da Câmara tivesse desfecho diferente.

Para um parceiro político que já não vinha sendo recompensado de acordo com o seu peso no Congresso durante todos os governos petistas, a quebra da coalizão parecia uma questão de tempo e de oportunidade. O acúmulo de animosidades era evidente.

Naturalmente, a exposição de contas secretas de Cunha, feita no bojo da Lava Jato, abalou o equilíbrio da coalizão. O preço que ele cobrou pela sua proteção se tornou proibitivo para o governo e para o PT, mesmo diante dos riscos de que o então presidente da Câmara desse sequência aos sucessivos pedidos de impeachment.

O jogo, assim, adquiriu uma dimensão de sobrevivência individual, e as promessas do governo de salvar Cunha da cassação deixaram de ser críveis: desde o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, os órgãos de controle saíram do controle dos políticos.

Diante de sucessivos mal-entendidos, insatisfações pelas promessas não cumpridas e pelo acesso reduzido a poder e a recursos controlados desproporcionalmente pelo PT, os aliados começaram a construir alternativas para aumentar o seu poder de barganha nas negociações e tentar reequilibrar a distribuição de poder e recursos.

Em presidencialismos multipartidários, portanto, o presidente precisa saber manusear as ferramentas de manutenção e gerência de sua coalizão se quiser ser efetivo no Legislativo a um custo de governabilidade relativamente baixo.

Além do mais, o Executivo não pode ignorar as preferências do Congresso se desejar terminar o seu mandato, mesmo que isso implique perdas de sua popularidade e/ou ajustes momentâneos de sua preferência política.

Numa inversão do ditado americano sobre o governo paralisado, diante de uma ineficiente gerência de coalizão, o contrário do "progresso" deixa de ser o Congresso e passa a ser o próprio presidente.

As três séries foram normalizadas para serem comparadas, isto é, foram reescritas com média zero e desvio padrão unitário. Além disso, o ICG foi obtido a partir de um modelo de análise fatorial de série temporal. Para maiores informações sobre o cálculo, ver Frederico Bertholini e Carlos Pereira, "Pagando o Preço de Governar: Custos de Gerência de Coalizão no Presidencialismo Brasileiro", Revista de Administração Pública, vol. 51, nº 4, págs. 528-550, 2017, disponível aqui.

CARLOS PEREIRA, 53, doutor em ciência política pela New School University, é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e professor visitante na Universidade Stanford.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Constatação óbvia da DataFalha: 26% dos evangélicos não pensam

E acho pouco.

A maioria dos brasileiros –8 em cada 10– diz que não costuma levar em conta a opinião de seus líderes religiosos quando eles fazem campanha por algum candidato, mostra pesquisa Datafolha (que não computou os 8% que declaram não ter religião). Entre os 19% que consideram as recomendações de seus guias de fé, 4% o fazem apenas se o pleiteante ao cargo for ligado à sua igreja.

A parcela evangélica que dá ouvidos a seus pastores é um pouco mais alta do que a média –26%, taxa que sobe para 31% entre fiéis neopentecostais (fatia que abrange igrejas como Universal e Renascer).

Isso na teoria. Na prática, 9% disseram já ter votado em alguém indicado por sua liderança religiosa, número similar aos 8% verificados em sondagem de quatro anos atrás.

Novamente, evangélicos (16%), sobretudo os neopentecostais (28%), se revelam mais suscetíveis à recomendação de suas congregações. Ainda sim, uma minoria dentro desse universo religioso.

Possível explicação para esse fenômeno: entre os que se dizem católicos, muitos não são praticantes, portanto são menos propensos a seguir eventual orientação do clero. Fora que a Igreja Católica tem como regra evitar apoio explícito a um ou outro candidato. Sem um poder central –um líder único, como o papa–, cada denominação evangélica decide se endossa um nome.

“E muitas vezes a influência desses líderes é supervalorizada. A tendência observada nas eleições sugere que os eleitores estão mais autônomos e seletivos, buscando um voto pragmático que ajude na resolução de seus problemas cotidianos”, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Para Gerson Moraes, professor de teologia e de política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é errado tratar evangélicos como uma massa uniforme. “Por exemplo, grupos históricos, em geral mais escolarizados, têm a visão de que a igreja pode ser a consciência do Estado, mas jamais dominar o Estado.”

O tanto de influência política revelado pela pesquisa pode não ser dominante, mas, como afirma Paulino, também “não é desprezível”. A imagem do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, é um bom exemplo: “Sua reprovação, que atinge 40% no total, cai para 26% entre os pentecostais e para apenas 6% entre os neopentecostais. Juntos, os segmentos representam um terço da população carioca”.

Ainda que tenda a não se alinhar com instruções políticas vindas da igreja, o eleitor não coloca a fé em segundo plano na hora de ir às urnas. O Brasil é um país que crê (98% acreditam em Deus) e é sobretudo cristão. A presença evangélica dobrou de 2000 para cá: de 15,4%, segundo o Censo, para os atuais 32% detectados no Datafolha. Já católicos murcharam de 73,6% para 52%.

Nos dias 27 e 28/9, o Datafolha apresentou a 2.772 entrevistados de 194 cidades três hipóteses: um presidenciável católico, um evangélico e um ateu. O cenário mais favorável foi o do católico: 25% votariam nele com certeza, 49% talvez e 16% de jeito nenhum (os 10% restantes vêm de outras respostas, inclusive de quem não quis opinar). Os índices para o evangélico, respectivamente: 21%, 46% e 24%.

O ateu levou a pior: só 8% não titubeariam em escolhê-lo, 33% cogitariam e 52% jamais o elegeriam. Entre neopentecostais, a resistência ao político descrente chega a 67%.

A derrota de Fernando Henrique Cardoso na corrida de 1985 à Prefeitura paulistana é em parte creditada à sua oscilação quando o jornalista Boris Casoy lhe perguntou: “Acredita em Deus?”. Limitou-se a reclamar: “Essa pergunta o senhor disse que não me faria”.


sábado, 21 de outubro de 2017

Notícia que vai abalar o mundo! Suprema Corte dos EUA decidiu que tomate é vegetal, embora seja fruta

Como se pode ver, lá como cá a justiça é a lesma lerda. Aliás, perdão: lesma lerda é aqui, lá é lesma rápida...

Por João Ozorio de Melo

Embora tomates sejam frutas, em caso tributário, em 1893 Suprema Corte dos EUA definiu que eles são vegetais.

Com doses de maldade, um artigo indica que os ministros são “alérgicos” a matemática, o que não recomenda apostas em um dos casos da pauta. Outro, que são avessos a estatísticas e podem se basear em dados falsos quando fazem levantamentos por conta própria. E outro mais, que a lógica dos ministros algumas vezes é surpreendente.

Para comprovar que as decisões da corte às vezes contrariam o que se pensa que é a lógica, o jornal The Washington Post desenterrou uma decisão do século XIX. Em 1893, a Suprema Corte decidiu que tomate é um vegetal, e não uma fruta, como ensinam a Botânica e os professores na escola.

Naquela época, havia uma diferença significativa entre vegetais e frutas, não por causa da botânica, mas por causa da “receita federal”. O governo tributava a importação de vegetais em 10%, mas não tributava a importação de frutas. Assim, o governo quis coletar impostos da atacadista de Manhattan John Nix & Co, que importava tomate em grandes quantidades.

Em 1887, John Nix e sócios (familiares) moveram uma ação contra o então diretor da Alfândega no porto de Nova York, Edward Hedden, procurando “recuperar impostos pagos sob protestos” e parar de pagá-los. Seis anos mais tarde, o processo chegou à Suprema Corte (caso Nix v. Hedden).

Em sua defesa, os autores da ação citaram três dicionários (Webster’s, Worcester’s e Imperial) e apresentaram duas testemunhas especializadas, para provar que tomate é uma fruta. Os ministros não contestaram a botânica, mas decidiram que tomate é um vegetal assim mesmo. Existia uma lógica por trás da vegetalidade do tomate :

“Botanicamente falando, tomates são frutos de uma parreira, tais como pepinos, abóboras, feijão e ervilhas. Mas na linguagem comum das pessoas, sejam vendedores ou consumidores dos mantimentos, todos esses são vegetais, que crescem nas hortas e que, quer sejam cozidos ou crus, como batatas, cenouras, pastinacas, nabos, beterrabas, couve-flor, repolho, aipo e alface, são todos servidos no jantar ou depois da sopa com peixe ou carnes, o que constitui a parte principal da refeição e não como sobremesa como é o caso das frutas”.

“Tomates, tal como nozes, podem ser classificado como sementes [o fruto da planta], mas não no comércio e na linguagem popular. (...) Como um artigo de alimentação em nossas mesas, sejam assados ou cozidos ou formando a base da sopa, eles são usados como vegetais, maduros ou verdes. Esse é seu principal uso”.

Essa foi uma tese que, apesar de surpreendente por contrariar a botânica e os dicionários, coincidiu com a lógica popular. Dizia-se na época, a propósito da discussão na Justiça, que se tomate fosse uma fruta, estaria na feira e nos mercados entre as outras frutas, não entre os vegetais, como sempre está.

A decisão teve algumas repercussões na sociedade. Com base na decisão da corte, a alfândega, a Liga das Nações e o Departamento de Agricultura dos EUA classificaram o tomate como vegetal. Nova Jersey declarou o tomate o vegetal do estado. Mas não houve unanimidade. Por exemplo, Tennessee e Ohio declararam o tomate a fruta do estado.

Tal decisão poderia ser aceita em muitos países, no caso do tomate. Mas haveria controversas, se o objeto da discussão fosse o abacate. Nos EUA e em países hispânicos, o abacate pode ser visto como um vegetal. Afinal, com ele se fazer pratos salgados, muito apreciados nesses países, como o guacamole, o aguacate, saladas e salsas. Mas, no Brasil, abacate é mesmo uma fruta na botânica e no uso popular mais comum.


Apesar de vocês

Guilherme Fiuza

O gigante está se guardando pra quando o carnaval eleitoral chegar. A opinião pública — essa entidade simpática e distraída — deu um tempo da dura realidade, que não leva a nada, e saiu aprontando suas alegorias para 2018. Funaro Guerreiro do Povo Brasileiro é uma das preferidas.

Funaro é aquele agente do caubói biônico escalado para “fechar o caixão” do mordomo, conforme áudio divulgado para todo o Brasil. Mas nessa hora o Brasil estava ocupado com as alegorias, e não ouviu os bandidos bilionários confessando a armação da derrubada do governo com Rodrigo Janot — outro guerreiro do povo brasileiro.

Vejam como o Brasil é sagaz: seu despertar ético está depositado numa denúncia bêbada (leitura obrigatória, prezado leitor) urdida por Joesley (preso), Janot (solto), Miller (solto e rico) e Fachin (solto e dando expediente na Suprema Corte), todos cacifados política e/ou financeiramente pela quadrilha que depenou o país por 13 anos. Como se diz na roça, é a ética que passarinho não bebe.

A vocação dos brasileiros para santificar picaretas não é novidade. Se fosse, o conto do vigário pornô não teria durado 13 anos, fantasiado de apoteose social. A novidade — tirem as crianças da sala — é a adesão dos bons.

Isso sim pode ser o fechamento inexorável da tampa do caixão — não de um presidente ou de um governo, mas desse lugar aqui como tentativa de sociedade. Os bons não são esses heróis de história em quadrinhos tipo Dartagnol Foratemer, que transformam notoriedade em gula eleitoral e sonham ser ex-BBBs de si mesmos. O que dizer de um aprendiz de Janot, que poderia ter Sergio Moro como inspiração, mas preferiu o truque de demonizar os políticos para virar político?

Os bons não são ex-tucanos patéticos como Álvaro Dias e demais reciclados, que ressurgem sob slogans espertos tentando perfumar o próprio mofo. Nem os ainda tucanos (e ainda mais patéticos) como Tasso Jereissati, com seu teatrinho de dissidência ética. Os realmente bons são os que sabem que, após a ruína administrativa do PT, se impôs a agenda da reconstrução — defendida desde sempre por eles mesmos.

Agora, o escárnio: mesmo testemunhando os resultados inegáveis, a restauração de indicadores socioeconômicos para ricos e pobres, as perspectivas repostas a duras penas por gente que trabalha sério (eles conhecem cada um), dos juros/inflação ao risco/investimento, essa minoria esclarecida resolveu surfar no engodo. Os ex-virtuosos também estão se guardando para quando o carnaval eleitoral chegar.

Fim de papo, Brasil. Um réquiem para o espírito público e todos à praia. Espírito público?! Pode gargalhar, prezado leitor. Melhor do que ir ao Google checar quantos nomes insuspeitos do meio acadêmico e da administração pública estão dando sangue neste governo de transição, virando noites para enfrentar o estrago dos cupins de Lula (solto), e vendo seus melhores parceiros intelectuais virando a cara, colocando os óculos escuros e dando uma surfadinha no foratemer, que ninguém é de ferro. Não vá ao Google. Chega de história triste.

Ponha seus óculos escuros e assuma imediatamente seu lugar ao sol. Você também é filho de Deus, e Ele há de consertar essa porcaria toda. Peça uma caipirinha e fique gritando contra tudo isso que aí está, porque a essa altura cogitar que haja alguém trabalhando sério em Brasília pode até dar cana. Já que os picaretas são maioria, faça como a maioria: finja que ninguém presta, que só você e sua caipirinha são confiáveis. Grite para que ninguém seja reeleito — que era mais ou menos a mensagem de Adolfinho na Alemanha dos anos 30, e a limpeza que ele imaginou também era arretada.

Mas diga aos sorveteiros que você é contra a ditadura, contra a censura (que censura? Procurem saber), a favor da beleza e também da felicidade. Você é contra o sistema, contra o que é velho e a favor do que é novo. A sua modernidade está provada inclusive no seu apoio à causa gay — que já tem meio século, mas os revolucionários do Facebook não precisam saber disso.

Grite que está cercado e sufocado por famílias conservadoras decrépitas, finja que os dias são assim e você é a contracultura! Se precisar, defenda a pílula anticoncepcional contra os celibatários malditos. Quem sabe até alguém te convida para um convescote noturno com Dartagnol Foratemer e a alegre tropa de choque da Dilma (bota choque nisso).

Minta como todo mundo: finja que o governo de transição pertence à gangue do Cunha e ignore a salvação da Petrobras da gangue do Dirceu. Isso pega bem. E é claro que a sua luta cívica contra a corrupção jamais terá qualquer campanha lamuriosa pela prisão de Lula e Dilma. Eles esfolaram o Brasil, mas são do bem.

Quanto a vocês, ex-virtuosos em situação de surfe, vocês que sabem como poucos o que está se passando de fato no país, vocês que conhecem exatamente o tamanho da fraude narrativa e o custo criminoso disso para a recuperação nacional, boa sorte em seus projetos particulares. O Brasil não parou, e talvez até nem caia nas mãos de um idiota em 2018. Apesar de vocês.


terça-feira, 17 de outubro de 2017

O refúgio da esquerda

Denis Lerrer Rosenfield

A queda do Muro de Berlim foi uma linha divisória. O sonho esquerdista esvanecera, expondo o pesadelo que tinha engendrado. Talvez nenhum país mostre melhor o sucesso do capitalismo e o fracasso do socialismo. Enquanto a Alemanha Ocidental era uma amostra de um Estado de bem-estar social, com todas as liberdades garantidas, a Alemanha Oriental, dita democrática e socialista, obrigava seus cidadãos a compartilharem a penúria, sufocando todas as liberdades. Não eram propriamente cidadãos, mas súditos do Estado.

Podemos também comparar, a modo de exemplo, a próspera e capitalista Coreia do Sul, Estado democrático, com a totalitária e socialista Coreia do Norte, que vive da opressão de seus súditos, da fome, e aterroriza o planeta com suas armas nucleares. Ou se pense, ao nosso lado, na ditadura de Maduro e em seu apoio em Cuba e no PT, no Brasil. Esses parecem não ter nada aprendido com a História, embora, talvez como galhofa, queiram reivindicá-la.

Note-se que nem lhe sobrou a defesa dos pobres e do então dito proletariado, pois os Estados que mais conquistaram direitos sociais são os capitalistas, seja em suas vertentes social-democrata (países nórdicos), trabalhista (Grã-Bretanha) ou democrata-cristã (Itália e Alemanha). Aliás, neste último país o consenso era de tal ordem que a alternância entre os partidos cristãos e social-democrata em nada alterou, se não implementou, os ganhos sociais por todos reconhecidos. À esquerda não restou nem o social, salvo em sua face social-democrata, tida por direita pelos comunistas, socialistas e, entre nós, petistas.

Fracassada, a questão colocada à esquerda foi: onde refugiar-se? Parece não ter tido outra opção senão refugiar-se nos costumes, nos valores sociais ou em políticas ditas progressistas, que só mascaram seu próprio afã de uma nova hegemonia política. O politicamente correto é, nesse sentido, uma expressão dessa sua nova máscara, mais palatável para quem ignora ou compartilha todos os crimes perpetrados pela esquerda no poder. Entre nós, em experiência recentíssima, observamos o PT levar o País praticamente à bancarrota, não fosse, para evitar o pior, o impeachment da ex-presidente Dilma. Nem as conquistas sociais foram mantidas, com o desemprego avassalador e a inflação corroendo os salários dos mais desfavorecidos.

A esquerda fracassada procura, agora, reinventar-se. Escolheu para cavalo de batalha os que ela considera “conservadores”, em particular mira o MBL, por ter-se insurgido contra duas exposições, uma no Santander, em Porto Alegre, com imagens de zoofilia e pedofilia, e a outra no MAM, com mostra de um homem nu sendo tocado por uma criança. Para tentar capturar a classe média usa palavras como censura, arte e ditadura, numa sequência de bobagens capaz de atormentar qualquer pessoa sensata.

Foquemos a questão. O problema não está nas exposições em si, mas em crianças que se encontram face a face com situações de eroticidade precoce, incapazes que são, em sua idade, de juízos morais. Ficam expostas, vulneráveis. O que garante que uma criança que se acostume a tocar em homens nus não o faça com outro homem qualquer na rua ou que queira tocar seu órgão sexual? Seria a liberdade dos progressistas?

Que adultos apreciem tais tipos de eventos é meramente uma escolha pessoal, que deve, evidentemente, ser garantida. Se isso é “arte”, problema deles. Não há censura. Cada um escolhe suas visitas a exposições, assim como a forma que mais lhe parecer apropriada para desfrutar o sexo. Trata-se de uma questão individual de pessoas adultas no uso – ou desuso – de seu desejo e de sua razão. Outra coisa, muito diferente, é permitir ou obrigar uma criança a fazer o mesmo.

Na exposição do Santander, crianças eram levadas por escolas a visitar a exposição, como se se tratasse de algo pedagógico. Qual pedagogia? A da erotização das crianças? A de as impulsionar para relações sexuais precoces? A de considerar animais como objetos sexuais? Se isso for considerado liberdade, só pode ser em sua acepção muito particular de completa ausência de limites, conduzindo, depois, ao mais completo desregramento moral.

O que parece mais incomodar essa esquerda sem bússola, contudo, é o fato de estar perdendo a batalha pela opinião pública. Artistas desocupados ou que não têm o que dizer chegaram a falar em “ditadura”. Qual, aliás? A do Estado, que não se imiscuiu nesse assunto senão sob a forma de uma recomendação do Ministério Público para que a exposição em Porto Alegre fosse reaberta? O banco, sensatamente, teve juízo para não seguir essa “recomendação”. O que, na verdade, pretendem os prosadores da ditadura é que o Estado intervenha para defender as suas concepções. Pretendem implantar a ditadura do “progressismo” e do “politicamente correto”, enquanto formas compensatórias do fracasso de suas concepções esquerdistas.

O MBL, ao defender a ideia de que crianças não se submetam a essa ideologia, foi o seu alvo preferido. Não foi o Estado. Por quê? Pela simples e boa razão de que os autointitulados progressistas estão perdendo a luta pela conquista da opinião pública. Observe-se que não se trata de uma disputa entre sociedade e Estado, mas uma interna à própria sociedade. Um setor desta não suporta mais a “ditadura” do politicamente correto, que lhe é imposta goela abaixo. Decidiu dar um basta. E tem legitimidade para tal.

A onda dita conservadora no Brasil é uma reação a esses excessos e arbítrios. É como se não existisse a liberdade de escolha entre ser conservador, liberal ou “progressista”. Valeria somente esta última opção. Tudo o mais seria “ditadura”. Pretendem impor a sua hegemonia a uma sociedade que passou a rejeitá-los. Não podem mais suportar este outro fracasso. Estão desnorteados e vociferam. É a pobreza mesma do pensamento!


DETRAN: Habilitação para dirigir carro ou pilotar avião?

Por Jenifer Castilho

Você, com certeza, já viu uma cena de algum filme em que o adolescente que mora nos Estados Unidos completa 16 anos e implora aos pais para o levarem para tirar sua carteira de motorista.
O procedimento é simples: apesar de existir, você não é obrigado a passar por nenhuma auto escola.
1 – Você apresenta seus documentos;
2 – Faz exame de vista;
3 – Faz a prova teórica;
4 – Faz a prova de direção (que pode ser no seu próprio carro).
Passou? Eles te darão um documento no valor de 20 dólares para você pagar e pegar sua habilitação. Tudo isso no mesmo dia.
E no Brasil? Bem, é um pouquinho mais complicado.

Procedimentos:

1 – Você tem que ter 18 anos completos para tirar sua habilitação;

2 – Pagar de cara o DUDA que custa R$ 270,65 só para iniciar o processo. Ele tem validade de um ano.

E não esqueça! Só é aceito em dinheiro e pago através de boleto bancário. É basicamente uma propina legalizada para você ter o direito de ter uma carteira de motorista.

3 – Você vai a um posto do DETRAN com o documento da propina legalizada pago, eles verificam seus documentos de Identidade e CPF, tiram suas digitais e uma foto sua.

Depois, eles te entregam um formulário chamado RENACH (Registro Nacional de Condutores Habilitados) que só existe essa via, é sua e intransferível. Se perder terá que pagar outro DUDA e começar tudo do zero em qualquer etapa do processo.

Então, o DETRAN escolherá em qual médico e psicólogo você deverá fazer os exames.

4 – No dia do exame você paga em torno de R$ 150,00 em dinheiro vivo para o teste médico e psicológico da primeira habilitação.

Isso tudo para conversar com um médico clínico geral que acha que é oftalmologista e para desenhar pauzinhos numa folha com o psicólogo. E, preste atenção, pois se você fizer o pauzinho torto no teste, você é reprovado e terá que pagar mais R$ 150,00 para refazer o “exame”. Se o médico burocrata achar que você tem que utilizar óculos, você está ferrado, terá que voltar nele usando óculos e com o laudo de um oftalmologista. Além de, é claro, pagar os R$ 150,00 em dinheiro vivo na hora do seu retorno ao médico burocrata.

5 – Finalmente, você pode se matricular na autoescola.

É por volta de R$ 1200,00 e obrigatório.

6 – De início são 45 horas/aulas teóricas que você é obrigado a assistir numa sala da autoescola com controle de presença biométrica do governo.

Lembra que eles colheram suas digitais?

Entre uma hora/aula e outra os alunos têm cerca de 5 minutos para irem ao banheiro, beber água e comer senão o sistema não valida a sua impressão digital que tem que ser colocada no início e no fim de cada hora/aula.

Você só pode assistir no máximo 10 horas/aulas por dia. Se quiser terminar isso tudo em uma semana, terá que fazer uma maratona na autoescola de segunda à quinta-feira 10 horas diárias e na sexta-feira 5 horas.

Acredite, muitas pessoas fazem isso só para acelerar esse processo angustiante.

7 – Você terá que marcar a prova teórica na autoescola e fazê-la em um posto do DETRAN que eles indicarem pra você.

Isso dura cerca de 1 ou 2 semanas, ou até mais. Nessa prova, você responde 30 perguntas, das quais tem que acertar 21 delas, se conseguir estará apto a começar as aulas de direção na sua autoescola que o governo obrigou você a contratar.

8 – Nas aulas de direção, você é obrigado a ter cinco horas em um simulador de automóvel.

Isso mesmo, parece que você vai tirar um brevê de piloto.

9 – Depois do simulador, você terá 25 horas de direção com um carro de verdade, adaptado para o instrutor ao seu lado poder controlar o carro através dos pedais instalados no banco do passeiro.

Das 25 horas de direção, 5 horas são obrigatoriamente em horário noturno.

10 – Feito as aulas práticas, a autoescola marcará sua prova prática de direção e claro, o governo escolherá o melhor dia e o horário para você. Isso pode demorar 30 à 60 DIAS.

11 – Foi aprovado na prova prática? Depois de 5 dias úteis a contar da data da aprovação da prova, você pode pegar a sua carteira de habilitação no posto do DETRAN que você se inscreveu.

Mas não se anime tanto assim. A primeira carteira de habilitação não é uma carteira de habilitação. Ela é apenas uma permissão que o governo dá para você dirigir. Ela tem validade de 1 ano.

Se você levar uma multa, já era, terá que fazer o processo todo de novo do zero. Ou seja, depois de tirar a habilitação é melhor você ficar longe do carro por um ano para poder pegar sua verdadeira carteira de habilitação. Aí sim, poderá comemorar e dar uma volta no seu carro.

Se você for reprovado em qualquer etapa do exame teórico ou prático terá que pagar uma taxa de reexame que custa hoje R$ 101,16.

Tempo estimado para tirar habilitação:

De 90 à 120 dias se tiver sorte e se dedicar a isso. Pessoas comuns e muito ocupadas podem levar de 7 a 10 meses.

Valor total para tirar a habilitação no Brasil:

R$ 270,65 do DUDA + R$ 150,00 do exame médico e psicológico mais + R$ 1200,00 da autoescola. Vai gastar em torno de R$ 1620,65. Isso sem contar os seus custos como passagem de ônibus e/ou alimentação para frequentar a autoescola nas aulas teóricas e práticas e para fazer os exames médico e psicológicos.

Você realmente ficará preso durante 10 horas em uma sala de aula comendo fandangos e tomando água porque almoçar, só se você pedir para entregar comida. E, sim, algumas pessoas fazem isso.

E aí, se animou para tirar sua carteira de habilitação no Brasil?


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Juiz americano imbecil aceita e bandido americano processa o Rio em quase R$ 1 trilhão

A gente fala da nossa Justiça, mas a americana também é uma comédia. Na semana que passou um juiz americano do Distrito de Columbia mandou uma carta rogatória para o Superior Tribunal de Justiça pedindo que o Rio de Janeiro seja notificado do processo em que o americano John Gregory Lambros, cobra a mixaria de US$ 300 bilhões (R$ 945 bilhões) do estado.

Lambros foi preso e extraditado no Rio de Janeiro em 1991 a pedido dos Estados Unidos por sua condenação a 30 anos de prisão por tráfico de drogas. Hoje cumpre pena na penitenciária Leavenworth, em Kansas. Sua alegação para o processo movido é ter sido torturado pela polícia daqui, garantindo ter tido eletrodos implantados no cérebro durante o tempo em que passou na cadeia.

Na carta rogatória enviada ao Brasil, Lambros alega ter sido torturado dentro das dependências da Polícia Federal em Brasília, para onde foi levado enquanto aguardava o julgamento pelo STJ do pedido de extradição feito pelo Estados Unidos. Os agentes da PF teriam, segundo ele, implantado os eletrodos para impedir que ele comparecesse às audiências do processo de extradição. Lambros não menciona torturas no Rio, onde foi detido, mas a carta rogatória pede para notificar o estado, onde ocorreu a prisão do traficante.

Detalhe: Lambros já processa a União pelo que chama de tortura e extradição ilegal.

A imbecilidade de certos juízes nos Estados Unidos já é conhecida há muito tempo, principalmente por acatar o que os americanos chamam de processos frívolos vindos de presos condenados pelo sistema de justiça criminal de lá. Há muito os governos gastam fortunas com advogados públicos com tais processos.

Para ilustrar, eis alguns:
  • Um preso de Virginia tentou processar a si mesmo em 5 milhões de dólares por sua embriaguês, o que o levou a afastar-se de suas convicções religiosas cometendo um crime. Por não ter o dinheiro, ele acionou o Estado para pagar os 5 milhões.
  • Um condenado de Nova Iorque, preso por furto, processou o estado alegando ter começado a sofrer de enxaqueca e insônia após ter tido seu cabelo cortado de maneira defeituosa por um barbeiro inábil.
  • Um preso processou o estado de Nevada porque a cantina da prisão errou ao atender seu pedido de dois potes de manteiga de amendoim concentrada, fornecendo-lhe um pote de concentrada e outro de cremosa.
  • Em San Quentin, um preso na fila de morte processou o estado da Califórnia alegando que seus direitos civis foram violados porque sua correspondência fora enviada pela United Parcel Service of America em lugar do U.S. Postal Service.
  • Um preso de Oklahoma alegou que suas liberdades religiosas foram violadas, mas não poderia dizer como, porque a doutrina principal da sua fé era que todas suas práticas eram secretas.
  • Um preso no Arizona processou o Estado por não ter sido convidado para uma festa à base de pizza que os funcionários da prisão ofereceram a um colega que ia se aposentar.
  • Um preso de Indiana processou o Estado para obter um remédio chamado Rogaine para sua calvície.
  • Um preso em Oklahoma processou o Estado por ser forçado a ouvir country music na penitenciária.



quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Cudelabro

Isso é uma "performance artística". Imaginem o fedor de cu dessa sala.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Vocês são “inútil”

Guilherme Fiuza - Época

Mais um festival de rock se vai, deixando mensagens no ar. Mas quem quiser decifrá-las para entender, afinal, o que é que muda o mundo, poderá se assustar: mantidas as tendências atuais, logo o rock’n’roll estará servindo para protestos contra a Guerra do Vietnã e em defesa da pílula anticoncepcional. Será que o mundo está mudando de marcha a ré? Existe rock reacionário?

Foi comovente ver aquelas bandas brasileiras caricaturando o passado que nunca tiveram, soltando brados heroicos contra o governo e a política nacional. Se tivessem gritado com metade desse entusiasmo nos 13 anos de rapinagem do PT... Bem, não teria acontecido nada, porque esses rebeldes não fazem mal a ninguém.

A rebeldia empalhada do Rock in Rio não se lembrou de Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante do maior assalto da história republicana. Num país mais ou menos saudável, os acordes ensurdecedores do mensalão, do petrolão e das revelações obscenas da Operação Lava Jato imporiam, sobre qualquer outro som, o brado pela prisão de Lula. No entanto, o heptarréu (já condenado em um dos processos) não inspira os revolucionários da tirolesa.

É a onda purificadora mais poluída da história da rebeldia cívica (alô, vigilância sanitária!). No embalo do bordão carne assada “fora Temer”, que virou até brinco no festival, os intelectuais de porta de assembleia resolveram classificar o impeachment da senhora Rousseff (que também está solta) como a mera substituição de uma quadrilha por outra. Não, companheiros da limpeza. Não foi isso o que aconteceu.

Notícia em primeira mão para vocês que estão chegando de Woodstock: a Petrobras, maior empresa nacional, jogada na lona pelo estupro petista, foi saneada e reerguida no espaço inacreditável de um ano. A mesma transfusão de gestão aconteceu no Banco Central, no Tesouro e nas principais instituições que comandam a economia nacional. Vocês não poderiam saber de nada disso porque estavam assistindo a Jimmy Hendrix, mas aí vai: o dólar, os juros, o risco país e a inflação despencaram, também em tempo recorde. Portanto, companheiros revolucionários, avisem ao pessoal da limpeza que, no coração do estado brasileiro, não houve a substituição de uma quadrilha por outra. A não ser que a que entrou seja uma quadrilha do bem, como vocês fingem que a gangue do Lula é.

Quem está bancando esse saneamento da orgia petista na máquina pública, contra tudo e contra todos, queridos metaleiros de playground, é o mordomo! Ele mesmo, um cacique do velho e fisiológico PMDB, que tem de ser investigado sempre. Mas o que se viu foram denúncias fajutas montadas por um falso justiceiro para fazer política – ou, mais precisamente, retomar o poder central para a turminha do progressismo trans.

Em outras palavras, os rebeldes de festival que pagam 500 pratas por um ingresso gritavam por uma virada de mesa a favor de quem esfolou o povo. Não esse povo imaginário que eles defendem, mas o povo que jamais passará nem na porta do Rock in Rio, muito menos participará de protesto fashion bem na hora que o emprego começa a reaparecer.

Os heróis dos revolucionários de auditório são personagens como Rodrigo Janot, que alegrou a criançada com sua brincadeira de arco e flecha enquanto conspirava com os açougueiros biônicos do PT. Janot e os rebeldes de festival deram à delinquência de Dilma Rousseff uma anistia comovente. A regente do petrolão, com seus e-mails de obstrução à Lava Jato esfregados na cara do país, não mereceu flechadas verdadeiras nem gritinhos da plateia.

O Rock in Rio 2017, com suas claques colegiais regidas por cantores decadentes – desesperados por um pouco de charme ideológico –, sintetizou a covardia fantasiada de bravura: todos passando aquele perfuminho de rebeldia para pertencer a um levante imaginário da esquerda popular contra a direita elitista. Todos, portanto, atrás do mesmo véu que protegeu o deputado petista flagrado comprando sua eleição no próprio PT – o último milagre da narrativa coitada.

A má notícia, companheiros perfumados, é que essa barulheira demagógica vai morrer dentro de sua própria bolha. A trilha sonora desse festival deveria ter sido cerimoniosamente solicitada ao Roger do Ultraje a Rigor: a gente somos inútil!


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O gospel da crente doida

Ontem eu postei no Facebook o vídeo acima e escrevi:

“Esculhambou geral!

Na semana passada, o vereador “Bispo” Inaldo Silva, da Universal, transformou a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro em filial da sua igreja, com direito a berrarias (que chamam de música gospel) e as já tradicionais caretas dos fieis quando fingem louvar ao deus deles.

Perguntar não ofende: é pra isso que sustentamos esses vereadores?”

Agora vejam o que a “cantora Raquel Lima” me respondeu:

“O que falar no e verdade, Deus e fiel pois tudo formou, agora me diga? Se uma terra que Deus formou e em uma simples casa chamada Câmara não se pode adora a Deus pq? Se ele tudo formol de uma coisa eu sei o senhor envia Moisés para livra seu povo faraó não quis deixar mais enfim não teve geito o povo continuou e adorou a Deus!!! A terra foi feita por ele e como diz o louvor a ele a Glória para todo sempre AMÉM!!! Bispo Inaldo vai nessa força querido todos apóstolos foram perseguido e nós tb seremos, estamos orando por ti homem de Deus.!!!!! Aqui é cantora Raquel Lima!!!!!”


É mole ou querem mais?

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Estranhos comportamentos “supremos”: Fux beija pé da Adriana Ancelmo e Barroso abre champanhe após afastar Aécio

Não duvido, mas as minhas barbas ficam de molho.

Por Reinaldo Azevedo

O Supremo Tribunal Federal não está imune aos comportamentos heterodoxos que têm marcado homens e entes do Estado. Ao menos dois ministros que tentam demonstrar uma particular robustez moral nos dias que correm andaram fazendo coisas pouco corriqueiras. Luiz Fux — o que nem se estranha muito — e Roberto Barroso.

O primeiro, ora vejam!, que admitiu em entrevista ter como padrinhos Delfim Netto, João Pedro Stédile e Antonio Palocci, além de ter mantido encontro prévio com José Dirceu à época do mensalão, não esqueceu de ser grato, de forma bem pouco usual, a um outro entusiasta de sua candidatura ao Supremo: o então governador Sérgio Cabral. A reverência, na verdade, foi feita à mulher do antigo Rei do Rio: a advogada Adriana Ancelmo, que está em prisão domiciliar. O marido está em cana a perder de vista.

Indicado por Dilma, Fux foi a casa de Cabral para agradecer o apoio. E, diante de testemunhas, fez um gesto que ele mesmo disse que seria inédito: ajoelhou-se, diante de todos, e beijou os pés de Adriana. Tem seu lado criativo, convenham. Já se conhecia o beija-mão. O beija-pé, se não é símbolo máximo da sujeição, deve ser puro ato de picardia.

E Barroso? Não consegui apurar por quê, mas o fato é que aconteceu. Depois da sessão da Primeira Turma que afastou, por 3 a 2, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) de seu mandato, violando a Constituição, o ministro seguiu para o seu gabinete e abriu um champanhe, que dividiu com assessores. Barroso tinha aberto também a divergência, contrariando os respectivos votos de Marco Aurélio (relator) e Alexandre de Moraes.

Qualquer que fosse a razão da beberagem, uma coisa é certa: não se comemorava ali o triunfo do Estado de Direito.

É crime beijar os pés de alguém ou abrir champanhe? Resposta: não!

Mas convém ouvir São Paulo: nem tudo o que podemos fazer nos convém, né?