Guilherme Fiuza - Época
Mais um festival de rock se vai, deixando mensagens no ar.
Mas quem quiser decifrá-las para entender, afinal, o que é que muda o mundo,
poderá se assustar: mantidas as tendências atuais, logo o rock’n’roll estará
servindo para protestos contra a Guerra do Vietnã e em defesa da pílula
anticoncepcional. Será que o mundo está mudando de marcha a ré? Existe rock
reacionário?
Foi comovente ver aquelas bandas brasileiras caricaturando o
passado que nunca tiveram, soltando brados heroicos contra o governo e a
política nacional. Se tivessem gritado com metade desse entusiasmo nos 13 anos
de rapinagem do PT... Bem, não teria acontecido nada, porque esses rebeldes não
fazem mal a ninguém.
A rebeldia empalhada do Rock in Rio não se lembrou de Luiz
Inácio Lula da Silva, o comandante do maior assalto da história republicana.
Num país mais ou menos saudável, os acordes ensurdecedores do mensalão, do
petrolão e das revelações obscenas da Operação Lava Jato imporiam, sobre
qualquer outro som, o brado pela prisão de Lula. No entanto, o heptarréu (já
condenado em um dos processos) não inspira os revolucionários da tirolesa.
É a onda purificadora mais poluída da história da rebeldia
cívica (alô, vigilância sanitária!). No embalo do bordão carne assada “fora
Temer”, que virou até brinco no festival, os intelectuais de porta de
assembleia resolveram classificar o impeachment da senhora Rousseff (que também
está solta) como a mera substituição de uma quadrilha por outra. Não,
companheiros da limpeza. Não foi isso o que aconteceu.
Notícia em primeira mão para vocês que estão chegando de
Woodstock: a Petrobras, maior empresa nacional, jogada na lona pelo estupro
petista, foi saneada e reerguida no espaço inacreditável de um ano. A mesma
transfusão de gestão aconteceu no Banco Central, no Tesouro e nas principais
instituições que comandam a economia nacional. Vocês não poderiam saber de nada
disso porque estavam assistindo a Jimmy Hendrix, mas aí vai: o dólar, os juros,
o risco país e a inflação despencaram, também em tempo recorde. Portanto,
companheiros revolucionários, avisem ao pessoal da limpeza que, no coração do
estado brasileiro, não houve a substituição de uma quadrilha por outra. A não
ser que a que entrou seja uma quadrilha do bem, como vocês fingem que a gangue
do Lula é.
Quem está bancando esse saneamento da orgia petista na
máquina pública, contra tudo e contra todos, queridos metaleiros de playground,
é o mordomo! Ele mesmo, um cacique do velho e fisiológico PMDB, que tem de ser
investigado sempre. Mas o que se viu foram denúncias fajutas montadas por um
falso justiceiro para fazer política – ou, mais precisamente, retomar o poder
central para a turminha do progressismo trans.
Em outras palavras, os rebeldes de festival que pagam 500
pratas por um ingresso gritavam por uma virada de mesa a favor de quem esfolou
o povo. Não esse povo imaginário que eles defendem, mas o povo que jamais
passará nem na porta do Rock in Rio, muito menos participará de protesto
fashion bem na hora que o emprego começa a reaparecer.
Os heróis dos revolucionários de auditório são personagens
como Rodrigo Janot, que alegrou a criançada com sua brincadeira de arco e
flecha enquanto conspirava com os açougueiros biônicos do PT. Janot e os
rebeldes de festival deram à delinquência de Dilma Rousseff uma anistia
comovente. A regente do petrolão, com seus e-mails de obstrução à Lava Jato
esfregados na cara do país, não mereceu flechadas verdadeiras nem gritinhos da
plateia.
O Rock in Rio 2017, com suas claques colegiais regidas por
cantores decadentes – desesperados por um pouco de charme ideológico –,
sintetizou a covardia fantasiada de bravura: todos passando aquele perfuminho
de rebeldia para pertencer a um levante imaginário da esquerda popular contra a
direita elitista. Todos, portanto, atrás do mesmo véu que protegeu o deputado
petista flagrado comprando sua eleição no próprio PT – o último milagre da
narrativa coitada.
A má notícia, companheiros perfumados, é que essa barulheira
demagógica vai morrer dentro de sua própria bolha. A trilha sonora desse
festival deveria ter sido cerimoniosamente solicitada ao Roger do Ultraje a
Rigor: a gente somos inútil!
Santas periquitas!
ResponderExcluirQue fechamento de matéria!
A gente ficamos com inveja...