Lauro Jardim precisa se explicar |
A hora da responsabilidade - O Estado de S.Paulo
Este grave momento da vida nacional deverá passar à história
como aquele em que a irresponsabilidade e o oportunismo prevaleceram sobre o
bom senso e sobre o interesse público. Tudo o que se disser agora sobre os
desdobramentos do terremoto gerado pela delação do empresário Joesley Batista,
em especial no que diz respeito ao presidente Michel Temer, será mera
especulação. Mas pode-se afirmar, sem dúvida, que a crise é resultado de um
encadeamento de atitudes imprudentes, tomadas em grande parte por gente que
julga ter a missão messiânica de purificar a política nacional. A consequência
é a instabilidade permanente, que trava a urgente recuperação do País e joga as
instituições no torvelinho das incertezas – ambiente propício para aventureiros
e salvadores da pátria.
O vazamento de parte da delação do empresário Joesley
Batista para a imprensa não foi um acidente. Seguramente há, nos órgãos que têm
acesso a esse tipo de documento, quem esteja interessado, sabe-se lá por quais
razões, em gerar turbulência no governo exatamente no momento em que o
presidente Michel Temer parecia ter arregimentado os votos suficientes para a
difícil aprovação da reforma da Previdência. Implicar Temer em uma trama para
subornar o deputado cassado Eduardo Cunha a fim de mantê-lo calado, como fez o
delator, segundo o pouco que chegou ao conhecimento do público, seria
suficiente para justificar seu afastamento e a abertura de um processo contra o
presidente – o Supremo Tribunal Federal já autorizou a instauração de
inquérito.
É preciso destacar, no entanto, o modus operandi do
vazamento. A parte da delação que foi divulgada não continha senão fragmentos
de frases transcritas de uma gravação clandestina feita por Joesley Batista em
uma conversa com Temer. Não se conhecia o contexto em que o diálogo se deu,
porque a gravação não foi tornada imediatamente pública. Durante as horas que
se seguiram à divulgação da existência do explosivo material, mesmo que não se
soubesse o exato teor do que disse Temer, criou-se um fato político gravíssimo.
A demora em tornar pública a gravação se prestou, deliberadamente ou não, a
prejudicar o acusado, encurralando-o. A versão que certamente interessava ao
vazador, portanto, se impôs.
Até mesmo uma conversa informal, na qual Temer teria
confidenciado a Joesley Batista que a taxa de juros estava para cair – o que
qualquer pessoa medianamente inteirada da conjuntura já imaginava –, está sendo
interpretada como tráfico de informação privilegiada. O Banco Central informou
o óbvio – que não há possibilidade de que Temer tenha tido conhecimento
antecipado de uma decisão sobre juros –, mas, num momento em que o debate
político se resume ao disse que disse frívolo das redes sociais, prevalece não
a verdade, mas o rumorejo.
Não é de hoje que há vazamentos desse tipo – e isso só pode
ser feito por quem tem acesso privilegiado a documentos sigilosos. Ao longo de
toda a Operação Lava Jato, tornou-se corriqueira a divulgação de trechos de
depoimentos de delatores, usados como armas políticas por procuradores. O
vazamento a conta-gotas das delações dos executivos da Odebrecht que envolvem
quase todo o Congresso Nacional, mantendo o mundo político em pânico em meio a
especulações sobre o completo teor dos depoimentos, foi um claro exemplo desse
execrável método.
Enquanto isso, fica em segundo plano o fato de que Joesley
Batista e outros delatores sairão praticamente livres, pagando multas
irrisórias, embora tenham cometido – e confessado! – cabeludos crimes. Para
honrar tão generoso acordo com o Ministério Público, o empresário saiu por
Brasília a armar flagrantes, com gravador escondido no bolso, a serviço dos que
pretendem reformar a política na marra.
Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares
e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais
estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre
aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País.
Resta demandar que a Constituição não seja rasgada ao sabor
das conveniências daqueles que lucram com o caos.
Pois é, a OAB pediu impedimento do Temer, mas não se pronunciou sobre a prova adulterada contra o presidente. Estranho demais para a OAB, não devia se preocupar com a verdade, com a justiça?
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