Um bom artigo de Luciano Felipe, presidente do Partido
Novo/RJ, hoje no Globo
Tem sido dura a vida dos estudiosos das ideologias no
Brasil. Sociólogos e cientistas políticos são forçados a rever conceitos
clássicos que nortearam outras gerações de pesquisadores. Princípios antes
sagrados no discurso proselitista de comunistas, socialistas e trabalhistas
foram ficando pelo caminho errático que culminou na prisão do ex-presidente
sindicalista. O brado rouco contra a corrupção talvez seja o mais visível
deles.
Houve um tempo em que o PT convencia multidões com discursos
inflamados contra oligarquias, empresas corruptoras, políticos ladrões. Em
1993, Lula provocou a ira dos eleitos e a euforia dos eleitores ao dizer que no
Congresso havia “uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus
interesses”. Quem hoje, em sã consciência, longe de uma garrafa de cachaça,
pode apostar que a esquerda brasileira, ainda sob a hegemonia do PT de Lula,
voltará a carregar a bandeira da luta contra a corrupção?
Na viagem sinuosa dos marxistas, outra música jogada fora
foi a da defesa da liberdade de imprensa, tão cantada em prosa e verso contra o
regime de 1964. Hoje, a imprensa é estapeada por não pensar como eles, e
jornalistas são expulsos de ambientes públicos como nos governos militares. A
intolerância superou a demagogia.
Qual cientista político pode identificar entre os
socialistas brasileiros de hoje a luta contra privilégios? A despeito dos
programas assistencialistas nos governos Lula e Dilma, é difícil encontrar um
só político de esquerda denunciando com vigor a injustiça social das mordomias
e altos salários do serviço público. Essa turma privilegiada consome com gula
verbas que poderiam ser destinadas à educação e à segurança dos que mais sofrem
os efeitos da violência galopante.
Nesse ritmo, o sectarismo e o cinismo foram empurrando a
esquerda para o nicho, onde ela se agarra aos privilégios de suas elites. A
lambança com o dinheiro do povo é tão grande que a privatização, além de abrir
caminho para a eficiência e o crescimento econômico, tornou-se imperiosa para
tirar o poder dessas castas do serviço público.
O trabalho insano dos estudiosos da política não para por
aí. No país em que a esquerda defende privilégios e injustiças, grande parte da
direita recusa-se a enxergar, mesmo a um palmo do nariz, a enorme oportunidade
de unir o povo brasileiro na defesa da livre-iniciativa e da redução do Estado
repressor dos investimentos. Em vez de aproveitar a chance histórica de
construir um projeto merecedor de respeito internacional, muitos embarcam na
canoa furada do aventureirismo, pulverizando forças e desmoralizando-se diante
do eleitor sensato.
Enquanto liberais do mundo todo olham o futuro, debruçam-se
sobre projetos de desenvolvimento de países e regiões, muitos dos nossos
preferem ficar parados em cima de um muro que já caiu faz tempo, o de Berlim.
Enxergam comunistas atrás do armário, debaixo da cama, perdem tempo precioso
com clichês dos anos 50. O liberalismo carece de líderes mais inteligentes,
capazes de olhar para a frente, de pensar em um país mais justo, empreendedor e
livre, com impostos menores e bem aplicados. Com menos interferência de um
Estado que foi sequestrado pelas elites da burocracia e tornou refém quem cria
empregos e riqueza. A hora é de homens e mulheres com seriedade, não de
bravateiros inconsequentes e de sanidade duvidosa.
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