quinta-feira, 10 de maio de 2018

Insanidade política


Um bom artigo de Luciano Felipe, presidente do Partido Novo/RJ, hoje no Globo

Tem sido dura a vida dos estudiosos das ideologias no Brasil. Sociólogos e cientistas políticos são forçados a rever conceitos clássicos que nortearam outras gerações de pesquisadores. Princípios antes sagrados no discurso proselitista de comunistas, socialistas e trabalhistas foram ficando pelo caminho errático que culminou na prisão do ex-presidente sindicalista. O brado rouco contra a corrupção talvez seja o mais visível deles.

Houve um tempo em que o PT convencia multidões com discursos inflamados contra oligarquias, empresas corruptoras, políticos ladrões. Em 1993, Lula provocou a ira dos eleitos e a euforia dos eleitores ao dizer que no Congresso havia “uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus interesses”. Quem hoje, em sã consciência, longe de uma garrafa de cachaça, pode apostar que a esquerda brasileira, ainda sob a hegemonia do PT de Lula, voltará a carregar a bandeira da luta contra a corrupção?

Na viagem sinuosa dos marxistas, outra música jogada fora foi a da defesa da liberdade de imprensa, tão cantada em prosa e verso contra o regime de 1964. Hoje, a imprensa é estapeada por não pensar como eles, e jornalistas são expulsos de ambientes públicos como nos governos militares. A intolerância superou a demagogia.

Qual cientista político pode identificar entre os socialistas brasileiros de hoje a luta contra privilégios? A despeito dos programas assistencialistas nos governos Lula e Dilma, é difícil encontrar um só político de esquerda denunciando com vigor a injustiça social das mordomias e altos salários do serviço público. Essa turma privilegiada consome com gula verbas que poderiam ser destinadas à educação e à segurança dos que mais sofrem os efeitos da violência galopante.

Nesse ritmo, o sectarismo e o cinismo foram empurrando a esquerda para o nicho, onde ela se agarra aos privilégios de suas elites. A lambança com o dinheiro do povo é tão grande que a privatização, além de abrir caminho para a eficiência e o crescimento econômico, tornou-se imperiosa para tirar o poder dessas castas do serviço público.

O trabalho insano dos estudiosos da política não para por aí. No país em que a esquerda defende privilégios e injustiças, grande parte da direita recusa-se a enxergar, mesmo a um palmo do nariz, a enorme oportunidade de unir o povo brasileiro na defesa da livre-iniciativa e da redução do Estado repressor dos investimentos. Em vez de aproveitar a chance histórica de construir um projeto merecedor de respeito internacional, muitos embarcam na canoa furada do aventureirismo, pulverizando forças e desmoralizando-se diante do eleitor sensato.

Enquanto liberais do mundo todo olham o futuro, debruçam-se sobre projetos de desenvolvimento de países e regiões, muitos dos nossos preferem ficar parados em cima de um muro que já caiu faz tempo, o de Berlim. Enxergam comunistas atrás do armário, debaixo da cama, perdem tempo precioso com clichês dos anos 50. O liberalismo carece de líderes mais inteligentes, capazes de olhar para a frente, de pensar em um país mais justo, empreendedor e livre, com impostos menores e bem aplicados. Com menos interferência de um Estado que foi sequestrado pelas elites da burocracia e tornou refém quem cria empregos e riqueza. A hora é de homens e mulheres com seriedade, não de bravateiros inconsequentes e de sanidade duvidosa.


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