O coro dos contrários juntou Jair Bolsonaro, Lula, os
críticos profissionais do governo e, para a minha surpresa, uma verdadeira
multidão de especialistas em intervenção federal. Nem sabia que eles existiam.
Dado o ineditismo da coisa, qual é a fonte de informação dos
palpiteiros? Essa gente cotejou as suas respectivas teses com que realidade
fática? Não há nada. Só mesmo o ímpeto de maldizer e a picaretagem retórica.
Até a semana passada, dizia-se que a reforma da Previdência
era a cartada do presidente para tentar se viabilizar eleitoralmente. Nunca
entendi por qual caminho, dada a óbvia e injustificada impopularidade da
proposta.
Agora vociferam: Temer trocou a Previdência pela
intervenção. Para uma mentira ao menos verossímil, forçoso seria que a reforma
fosse questão de vontade. Era? Para inviabilizá-la, até Cármen Lúcia,
presidente do STF, vestiu meias e chuteiras e entrou em campo, impedindo a
nomeação de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho. Em nome da suposta
probidade, a doutora deu uma bica na Constituição, inciso I, artigo 84, e a
mandou pro mato.
O verdadeiro temor dos adversários de Temer atende pelo nome
de "efeito espoleta". Dilma conheceu o dito-cujo pelo avesso. Em 31
de março de 2013, seu governo era considerado ótimo ou bom por 65% dos
brasileiros (Datafolha). A economia havia crescido só 2,7% em 2011 (contra 7,5%
no ano anterior), com inflação de 6,5%. Em 2012, esses índices foram de 0,9% e
5,84%, respectivamente; em 2013, de 2,3% e 5,91% --mas já com dois trimestres
seguidos de PIB negativo.
O mal-estar era sentido, mas não percebido. Aí a
extrema-esquerda, encarnada pelo Movimento Passe Livre, resolveu botar fogo no
circo. Na primeira semana de junho, 57% ainda consideravam a gestão Dilma ótima
ou boa. Na última, depois de alguns dias de protestos, o índice haveria
despencado 27 pontos. O MPL perdeu o controle das ruas, que passaram a ser
ocupadas por adversários do petismo.
Dilma foi reeleita, batendo na trave. O resto é história.
Não caiu por causa da Lava Jato. Foi derrubada pela recessão, pelo desemprego,
pela inflação, pelos juros, pelo déficit. O crime de responsabilidade foi só a
condição necessária, mas nunca suficiente, para o impeachment.
Temer está no poder há 21 meses. Não tenho memória de uma
gestão tão eficaz em período tão curto. A inflação saiu da casa dos 10% para
menos de 3%, mas 69%, segundo o Ibope, reprovam a atuação do governo na área. A
Selic desceu a ladeira: de 14,25% para 6,75%, mas estupendos 82% repudiam a
política no setor. Saímos de uma recessão de 3,6% para um crescimento de ao
menos 3,5% neste ano, mas 70% consideram o governo ruim ou péssimo. Os que
anteviram as múltiplas ruínas no governo vão ter de renovar seu estoque de
cacoetes do pessimismo profissional ou despudorado —porque a serviço de
causas...
Dilma sustentava sua popularidade num paiol de pólvora. O
esquerdista Passe Livre foi a espoleta que mandou pelos ares o governo de
esquerda. Sempre serei grato à turma.
Temer tirou o país do buraco, mas uma espécie de "doxa
de opinião" --os motivos são conhecidos-- impede que se veja a vida como
ela é.
Dilma teve uma queda de popularidade de 27 pontos em três
semanas. Reviravoltas acontecem em política, em especial quando aprovação ou
reprovação, por motivos os mais diversos, são artificiais. O fato é que os
adversários do presidente temem que a intervenção no Rio possa ser o mecanismo
a despertar parte considerável dos brasileiros para a nudez crua da verdade
—que, no caso, é favorável a Temer.
Isso explica a gritaria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário