Ruy Castro
Depois de argumentar que Lula não poderia ser o proprietário
do famoso tríplex no Guarujá por nunca ter dormido nele, sua defesa se prepara
para provar que Lula também não poderia ser o proprietário do não menos célebre
sítio em Atibaia justamente por ter dormido nele e o desaprovado.
Na verdade, Lula precisou dormir no sítio por 111 noites em
quatro anos para ter certeza de que não era o que ele queria. Os marrecos
fazendo qüem-qüem sob a sua janela ele era obrigado a aturar, por serem uma
exigência de dona Marisa. Mas junte a cacofonia de sapos, grilos e cigarras
azucrinando-o dia e noite e as picadas de pernilongos, pulgas e carrapatos e
qualquer juiz deduzirá que a vida agrária, campestre e pastoril não é para um
animal urbano como Lula. Para piorar, nada de muito emocionante acontece num
sítio, exceto talvez a inauguração de um alambique ou o abate de uma leitoa.
Quer saber? Lula sempre teve a maior antipatia pelo tal
sítio, e com razão. Quando Marisa povoou o lago com os pedalinhos em forma de
cisne, ele achou aquilo de uma cafonice atroz. E para quê aquela cozinha
faraônica que ela não parava de reformar? Já não bastava a churrasqueira ser
maior do que duas ou três unidades do Minha Casa, Minha Vida? O pesqueiro que
ele mandou construir também nunca deu peixe. Uma jararaca mordeu seu cachorro.
E sua fabulosa adega vivia sendo saqueada por gente que não respeitava o fato
de ele ter levado 50 anos para degustar sua primeira garrafa de Romanée-Conti.
E não lhe falem da torre gentilmente instalada pela Oi para
ele poder conectar-se. O sinal caía a toda hora, bem no melhor das conversas
com os companheiros Delcídio, Cunha, Renan, Sarney ou Sérgio Cabral. Quem ia
querer uma tranqueira como aquele sítio?
Esse sítio roubou a Lula muitas noites de sono, isso, sim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário