O Globo
Levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a
pedido do O GLOBO mostra que o Brasil continua na lanterna da produtividade do
trabalho. Segundo o estudo, um empregado brasileiro gera, em média, US$ 16,80
(ou R$ 54,09) por hora trabalhada, o que o coloca na 50ª posição dentre uma
lista que inclui 68 países. Na Alemanha, por exemplo, país modelo em
produtividade e o quinto do ranking, os empregados são quase quatro vezes mais
produtivos do que os brasileiros (produzem US$ 64,40 por hora), e trabalham, em
média, 340 horas menos por ano que o trabalhador no Brasil.
Para especialistas, a baixa qualificação da mão de obra
brasileira, a falta de investimento em inovação, o perfil do setor produtivo,
que concentra a maior parte da mão de obra em setores mais informais — como
comércio e serviços — e a economia ainda bastante fechada à concorrência
estrangeira não só explicam esse desempenho ruim como anulam as perspectivas de
melhora a curto e médio prazos.
— O grau de qualificação da mão de obra, a capacidade de
inovar e de difundir novas técnicas são fundamentais para a produtividade do
trabalho crescer. A jornada de trabalho é consequência disso. Trabalhadores de
países com maior produtividade geralmente têm um padrão de vida melhor, são
mais qualificados e têm maiores salários, e, por isso, não veem necessidade de
ter mais de um emprego ou uma jornada tão extensa — analisa Tiago Barreira,
pesquisador do Ibre/FGV e um dos autores do estudo.
É o caso, por exemplo, da Noruega, primeira do ranking, com
produtividade de US$ 102,80 por hora trabalhada e uma jornada de 1.427 horas
anuais, e a Holanda, terceira da lista, onde os trabalhadores têm uma jornada
de 1.419 horas por ano e geram US$ 65,50 a cada hora trabalhada. Para fazer o
levantamento, ele dividiu o Produto Interno Bruto (PIB) pela média de horas
trabalhadas por ano pela população empregada de cada país. Foram usados os
dados mais recentes disponíveis dos 68 países, referentes a 2014, do instituto
americano Penn World Table, especialista no tema.
— Mesmo quando pegamos dados de outras pesquisas, como da
OIT (Organização Internacional do Trabalho), o Brasil não vai bem há três
décadas, e as perspectivas para o futuro não são nada favoráveis. Países como
Taiwan e Coreia do Sul, que nos anos 1980 tinham uma produtividade muito
inferior, passaram à nossa frente e a tendência é que essa defasagem aumente.
Isso já se reflete em baixo nível de renda para a população, menor capacidade
de concorrência no cenário externo e deterioração da balança comercial brasileira
— avalia Claudio Dedecca, economista da Unicamp.
No ranking da FGV, Taiwan está 29 posições à frente do
Brasil, e a Coreia, 15. Entre os países da região, a Argentina está em 42º
lugar, com produtividade de US$ 26,80 por hora trabalhada. Segundo Dedecca, o
desempenho acima da média da Alemanha, por exemplo, decorre de políticas
públicas em vigor desde o século XIX focadas na formação da mão de obra e nos
constantes aprimoramentos das relações de trabalho.
— Na contramão, no Brasil temos um ambiente de trabalho ruim
e uma péssima relação entre sindicatos de trabalhadores e patrões. Perdeu-se a
oportunidade de fazer uma reforma trabalhista focada no aumento de
produtividade. Em vez disso, optou-se por criar condições para reduzir os
custos com o trabalhador. Há no Brasil uma postura lamentável do governo, dos
trabalhadores e dos empresários de só querer ganhar a curto prazo — critica
Dedecca.
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