Nem tanto, mas com um pouco de amadurecimento dos meninos, é uma boa aposta.
Claudir Franciatto
Sinceramente, não esperava viver o tempo suficiente para ver
isso. Por mais otimista que eu pudesse ser. Um movimento de jovens
verdadeiramente liberais. Estudiosos, conscientes, convictos e ativistas
dinâmicos. O MBL não é o único, mas o principal e, para mim, o fato mais
importante da política brasileira dos últimos 30 ou 40 anos! E não estou
exagerando.
Escrevo este artigo no intuito de dar aos nossos leitores
uma noção de o quanto o panorama mudou. E o quanto esses jovens significam como
o ápice de uma guinada em favor da luta pela liberdade. Vejam só: há 32 anos, o Estadão me convidou para fazer
um livro sobre o Liberalismo. Uma obra ambiciosa. Eu deveria juntar liberais do Brasil e de
outros países, formando um painel crítico sobre o passado, o presente e o
futuro dessa filosofia política e visão de mundo. Convidei os principais
intelectuais da ala liberal clássica do jornal no país para um debate, que foi
transcrito na íntegra no livro. E convenci o peruano Mário Vargas Llosa, o
mexicano Octavio Paz e o grande liberal venezuelano Carlos Rangel – que morreu
de forma estranha três anos depois – , entre outros, a me enviarem textos
exclusivos.
O livro ficou pronto e, aproveitando uma frase do próprio
Mário Vargas Llosa, segundo a qual o fato de a liberdade ainda estar até então
viva e lutando por ela mesma era um verdadeiro feito, quase um milagre – em
face do avanço inexorável do social-estatismo na América Latina – coloquei o título de A Façanha da Liberdade.
Sim, era uma incrível façanha ela sobreviver num grau de resiliência
inimaginável. E agora vemos que continua avançando.
Entretanto, tão logo a obra foi publicada, percebemos o
tamanho do desafio. À época, o desalento quanto à sobrevivência e progresso do
pensamento liberal era tão grande que nem eu, nem o jornal do qual partiu a
ideia do livro, tivemos fôlego sequer para divulgar o trabalho. O projeto era
iniciar algo com essa obra. Uma série de publicações de conteúdo liberal,
forjar discussões para a cultura da liberdade numa sociedade de mercado não
desaparecer, etc.. Mas lutávamos com os exageros do regime militar à direita e
com o progresso da ideologia socialista à esquerda. A distância que havia entre
o discurso dos poucos liberais da época e o resto da sociedade era tão
gigantesca, que se tratou de um sonho natimorto. O deserto era desencorajador.
E prevaleceu.
Foram necessárias uma sequência de descalabros
intervencionistas nos governos pós-redemocratização e mais a tragédia dos 13
anos da malfadada experiência dos socialistas no poder para que muita gente
acordasse. E esses jovens liberais representam hoje o sopro de vida de que o
liberalismo necessitava. Diferentemente dos libertários e anarcocapitalistas (que,
em minha opinião, são úteis no combate ao gigantismo do Estado, mas querem ser
os mesmos intelectuais descritos por Thomas Sowell que se colocam acima da
ordem espontânea definida por Hayek, tanto quanto os
racionalistas-socialistas), os meninos do MBL apresentam uma lucidez de
pensamento verdadeiramente espantosa.
Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Artur Moledo do Val (que
criou o canal “Mamãe, Falei” e tem tanta identificação com o MBL que a este se
juntou em várias empreitadas) – principalmente estes – se posicionam sobre
todas as matérias cujo conteúdo representa mais um risco à liberdade da
sociedade civil. E o fazem com argumentos irrefutáveis. É constrangedor para
políticos, intelectuais e estudantes socialistas quando se veem derrotados num
debate diante de garotos de 20 a 30 anos de idade.
Eles escaparam da armadilha criada pelo regime militar de
1964 que involuntariamente favoreceu fortemente a trama cultural-socialista do
gramiscismo. Eles fundamentam seus argumentos, com surpreendente desenvoltura,
nos grandes mestres da escola austríaca, referendam teses econômicas de Milton
Friedman e Roberto Campos da mesma forma que a minha geração de universitários
adolescentes, desafortunados ideologicamente,
mencionávamos máximas de Marx, Lênin e Trotski.
É evidente que seria até infantilidade mitificá-los a ponto
de afirmar que não cometem erros. Sim, eles erram, mas na direção certa. É
notório que seria melhor uma proposta de “Escola sem tutela estatal” –
pulverizar o MEC, uma ingerência absurda no ensino-aprendizado da sociedade
civil – do que a Escola sem Partido, uma
lei desnecessária; talvez mais transparência em suas atividades, para sossegar
os tresloucados adversários, etc. Mas nada disso supera a coragem de seguir em
frente no bom combate, estando eles com a verdade soberana da defesa da ordem
espontânea existente na cultura, na tradição, na moral e no mercado de um
capitalismo liberal.
Nós, os liberais de todas as idades, precisamos estar
atentos e denunciar firmemente toda e qualquer tentativa de perseguir e calar
esses jovens. Como fez recentemente, por exemplo, Rodrigo Constantino no artigo
“Auditores fiscais pedem investigação contra MBL por defender reforma da
Previdência”, em 12 de dezembro passado. Nesse título está escrito tudo. É
surreal! Os privilegiados funcionários públicos se revoltam contra os garotos
que apoiam a luta para acabar com os privilégios!
Há uns meses, num grupo de mídia social do qual faço parte
porque ali compartilhamos opiniões entre amigos de muitos anos, postei um vídeo
em que um dos líderes do MBL dá uma aula de economia liberal para parlamentares
petistas. Um show. Digno de se tirar o chapéu. Diante disso, um dos integrantes
do grupo, esquerdista empedernido, respondeu: “Esses fascistas do MBL são
financiados pela CIA”.
Isso nada mais é que a ampliação da falácia conhecida em
epistemologia por argumentum ad hominem. Por falta de argumento contra o
conteúdo, ataca-se o ser humano que se quer contestar. A cada mês surgem novos
boatos sobre os “financiamentos interesseiros” ao MBL. Dou risada. E eles
também riem diante dessas barbaridades. Assim também quando, inexoravelmente,
seus entrevistadores questionam se não sabem que, entrando na política – o que
pretendem fazer, em 2018, pelo voto -, irão fatalmente se corromper. Como se
houvesse outro caminho senão o da política para mudar os rumos do país. Como se
as assembleias parlamentares fossem pocilgas contagiosas. Em meu novo livro, O
Círculo do Bem (ainda infelizmente sem editora), faço um mergulho mais fundo na
questão do liberalismo nos dias de hoje e sua importância, adotando uma
linguagem para os jovens. De uma forma inédita. As crianças do MBL me inspiraram.
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