quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Marcos Valério vai depor ao juiz Sérgio Moro e reviver o caso Celso Daniel

Andrei Meireles - Os Divergentes

A expressão tempestade perfeita era apenas a descrição de um fenômeno meteorológico de grandes proporções causado por uma inusitada confluência de fatores. Na última década, esse conceito caiu como uma luva para explicar desastres políticos e crise econômicas mundo afora, resultantes de raras combinações de circunstâncias.

Ali e aqui, a gente usou essa expressão em cenários que anteciparam a abertura, o processo e o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A cassação de Dilma é apenas o epílogo de uma novela menor que chega ao fim.

O grande drama tem como personagens Lula e o PT, partido criado com o propósito de combater as promíscuas relações entre as elites econômicas e a política brasileira. Ao romper esse berço de corrupção, abriria a oportunidade para a redução das desigualdades sociais e a promoção da cidadania.

INTENÇÃO E GESTO – Em Fado Tropical, Chico Buarque de Holanda consagrou a diferença entre intenção e gesto. O PT fez mais. O gesto se tornou o maior inimigo da intenção. Esse é o filme que todos assistimos nos últimos anos, montado a partir de fragmentos expostos ao longo da história do PT.

Nessa sexta-feira (19), a Justiça de Minas Gerais autorizou que Marcos Valério Fernandes de Souza vá a Curitiba depor para o juiz federal Sérgio Moro. Será no dia 12 de setembro, por coincidência a mesma data marcada para o julgamento de Eduardo Cunha pelo plenário da Câmara dos Deputados.

Marcos Valério foi o principal operador privado do escândalo do Mensalão. Foi também o último a acreditar que na hipotética vigésima quinta hora seria salvo pelo esquadrão político que controlava a máquina do poder.

OPERAÇÃO CALA A BOCA – Quando a ficha finalmente caiu, Marcos Valério resolveu entregar uma nova carta: a operação cala boca para que nada fosse revelado sobre os motivos reais do assassinato de Celso Daniel, o prefeito de Santo André escalado para ser o coordenador da campanha de Lula à Presidência da República, em 2012.

Nessa frustrada tentativa, Marcos Valério chegou a prestar um depoimento, tido como relevante por alguns e tardio pela maioria. Pois bem. A Operação Lava Jato comprovou tintim por tintim o que Valério contou no depoimento, ao investigar negociatas e empréstimos fraudulentos entre a Petrobras, o grupo Schahin, o compadre de Lula José Carlos Bumlai e o empresário Ronan Maria Pinto – dono do Diário do Grande ABC e apontado como cúmplice do esquema petista na cidade.

Marcos Valério em Curitiba traz à cena os três grandes fantasmas da história petista: a morte de Celso Daniel, o escândalo do Mensalão, e o assalto aos cofres da Petrobras. Tudo junto e misturado. A rigor, a tempestade perfeita.

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