quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O ranço que a esquerda deixa

São raríssimas as pessoas que deixaram o radicalismo de esquerda de lado e hoje conseguem equilibrar-se em raciocínios coerentes que permitam uma identificação correta dos seus objetivos e das suas novas ideologias. Sei que estou falando de um conceito que muita gente considera ultrapassado - esquerda/direita -, mas não há outra maneira de diferenciar correntes político-ideológicas. Rodrigo Constantino bem que tentou ontem, dizendo que “esquerda e direita são conceitos que, no Brasil, costumam gerar muita confusão, após décadas de monopólio da virtude por parte da esquerda. Por isso é melhor adotar a divisão entre populistas e republicanos. Eis o grande embate da atualidade”, que não convence, até porque há populistas de direita e republicanos de esquerda. Por isso, eu fico com as definições tradicionais mesmo, exemplos “wikipédicos”, até:

“Na França, onde os termos se originaram, a Esquerda tem sido chamada de ‘o partido do movimento’ e a Direita de ‘o partido da ordem’. Há um consenso geral de que a esquerda inclui progressistas, sociais-liberais, ambientalistas, social-democratas socialistas, democrático-socialistas, libertários socialistas, secularistas, comunistas e anarquistas , enquanto a direita inclui fascistas, conservadores, reacionários, neoconservadores, capitalistas, alguns grupos anarquistas, neoliberais, econômico-libertários, monarquistas, teocratas (incluindo parte dos governos islâmicos), nacionalistas e nazistas.”

Não é lá um primor, mas é melhor que a definição do lexicógrafo Houaiss, um comunista, que define a esquerda como o “conjunto de parlamentares que tradicionalmente lutam por ideias avançadas” e a direita como o “conjunto dos partidários de ideias conservadoras”. Sinceramente, só lembrar que as “ideias avançadas” da esquerda datam do Século XIX é suficiente para elevar ao cubo o ridículo desse rótulo. Ainda se fosse vinho...

Voltando ao assunto da falta de coerência dos ex-esquerdistas, é público e notório que sempre que se critica o PT e seus partidos “irmãos”, quase todos eles, para mostrar que têm memória - tão prodigiosa quanto seletiva e falsa -, bradam sobre supostos “malfeitos” de FHC, além de tergiversarem, alegando coisas do tipo “não foi o Partido dos Trabalhadores que inventou a corrupção”, quando o assunto nunca foi sobre a tal “invenção”, e sim a sua prática. É um tal de avocar episódios como a votação da reeleição, mensalões tucanos, dossiês fajutos, ocorridos por volta de quinze anos atrás, que não há mais saco que aguente.

A registrar que a oposição à época era voraz. Nunca houve uma medida de FHC, por mais correta que fosse, que não tenha sido contestada pelo PT e, apesar disso, nada que desabonasse o governo de então foi provado judicialmente, por mais que escarafunchem os fatos até hoje.

Outra coisa é a tal de economia. E a palavra maldita é capitalismo, como se essa porcaria de governo não o praticasse em sua forma mais nociva, o capitalismo de estado, que atrela o prejuízo causado pela ineficiência, aparelhamento e consequente inchaço da máquina pública a lucros que, exatamente por esses motivos, são impossíveis de se obter. Mas mesmo assim os rançosos estão lá, benzendo-se a cada vez que o capitalismo é mencionado, como se houvesse outra maneira melhor de fazer dinheiro, de gerar empregos e de acabar com a miséria. O pior é que eles sabem disso, mas não querem dar o braço a torcer.

Além disso, bolsas isso e aquilo, pagas com impostos que chegam a 38% da renda de quem trabalha, nunca foram solução para coisa nenhuma, mas sim paliativos que teriam que ser desativados na mesma medida do crescimento da economia. É como disse Ronald Reagan: “Nós não devemos julgar o assistencialismo por quantas pessoas estão nele, mas por quantas pessoas estão saindo dele”.

Eu nunca passei por isso de ser obrigado pelo óbvio ululante a mudar toda uma ideologia política, mas acho que deve ser difícil lidar com inevitáveis conflitos de consciência, admissão dos erros, revisão dos parâmetros, ponderações, reflexões e cobranças externas. Por isso eu entendo esse ranço, mas não concordo com os resultados que ele traz: um hibridismo ideológico tão impraticável quanto difícil de se entender.

7 comentários:

  1. (argento) ... de memória: desde a década de 60 somos bombardeados pela propaganda Marxista ... notícia de última hora, deu na Globo, JN, foi condenada por Abuso do Poder, a Agente de Trânsito que abordou um juís(sic), em uma blitz, que dirigia sem a CNH, um automóvel sem placas - "cidadãos inferiores têm que ser postos em seu devido lugar"! (sistema de crenças) - acho que um Juiz de verdade não usaria das suas prerogativas para ser liberado.

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    1. (argento) ... "Propaganda deixa Sequelas"!!!

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    2. (argento) ... http://extra.globo.com/noticias/rio/justica-decide-manter-indenizacao-de-agente-da-lei-seca-juiz-14541095.html

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    3. Eu evitei abordar esse caso porque em 2011, ano do ocorrido, eu postei um texto a respeito e hoje só me restaria chamá-lo de filho da puta e a justiça de corrupta de merda.

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  2. terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

    Um juiz que alega desconhecer a Lei pode julgar?

    Falando em praia, o juiz da 1a - Vara de Búzios, João Carlos de Souza Correa, não sabia que não podia trafegar com seu carro sem placa e nem que não podia dirigi-lo sem carteira de habilitação. Não é interessante?

    Ao ser parado pela operação Lei Seca, domingo no Rio, dirigindo seu Land Rover(!) sem placa, João identificou-se como juiz e, ao tentar fazer prevalecer a sua autoridade com argumentos pouco convincentes, uma agente de trânsito indagou como ele, sendo juiz, poderia alegar desconhecimento da lei. Foi o bastante para o valente dar uma absurda voz de prisão à funcionária.

    Luciana Tamburini, a agente, e Correa, que já foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) devido a sentenças polêmicas proferidas por ele em processos sobre disputas fundiárias em Búzios, foram parar na delegacia onde ela afirmou que vai entrar com uma representação contra o juiz, por abuso de autoridade.

    Ah, o Land Rover foi devidamente rebocado, mas, como se vê na foto, em vez de ir para o Detran, foi também para a delegacia, de onde, certamente, deve ter saído logo depois, sem documentação legal, sem placa e dirigido pelo próprio juiz.

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  3. O problema é que tanto a propaganda marxista quanto a propaganda capitalista são enganosas, ambas usam a falácia de que estão certos por que os outros estão errados (falsa dicotomia) e ambas deturpam as informações sobre a história.

    Apenas para mostrar a dimensão da deturpação:
    a) Marx era retardado e jamais conseguiu entender o que acontecia ao seu redor, nem o que lia ou escrevia.
    b) Marx se apropriou das palavras socialismo e comunismo, mas o marxismo não tem nada a ver nem com socialismo e nem com comunismo. Disse Bakunin: isso não é socialismo é marxismo.
    c) O capitalismo não tem nada a ver com a teoria de Adam Smith. Na verdade o LIBERALISMO de Adam Smith era defendido pelos socialistas e os opositores foram justamente os capitalistas.
    d) Com a implantação do marxismo na Rússia, tudo o que não era marxismo passou a ser chamado de capitalismo e tudo o que não era capitalismo passou a ser chamado de socialismo/comunismo.
    e) Para tornar tudo mais abstrato, começaram a usar os termos esquerda e direita, não possuem qualquer significado ideológico.

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    1. O ponto não é esse, Milton. Eu usei definições simples e conhecidas apenas para ser claro. O ponto são as pessoas.

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