Tô começando a gostar do cara.
Spotniks
Você já deve estar cansado de ter ouvido isso nos últimos
meses. São tempos de crise. E os efeitos de políticas econômicas equivocadas ao
longo da última década impactam negativamente no orçamento de praticamente
todos os municípios do país.
Com São Paulo não é diferente. E Doria, seu novo prefeito,
já demonstrou logo em seu primeiro mês de mandato que usará de toda criatividade
possível para driblar esse cenário, indicando soluções simples para problemas
complexos, sem peso no orçamento do município.
Desde que foi eleito, o novo prefeito anunciou corte de 15%
em todos os contratos com empresas prestadoras de serviços, de 30% nos aluguéis
pagos pela Prefeitura, de 25% em todas as despesas (com exceção de educação e
saúde) e de 30% nos cargos comissionados.
Além disso, o prefeito também se desfez dos cerca de 1.300
veículos da Prefeitura, que serão leiloados ou devolvidos a locadoras.
“É uma economia substantiva, de quase R$ 120 milhões por
ano, contando o custo dos veículos, combustível, seguro, pneus, mecânica,
motoristas, custos de estacionamento”, disse.
Desde seu primeiro dia, os funcionários de sua gestão são orientados
a utilizarem táxi ou Uber. Doria mesmo vai à Prefeitura com o seu próprio
veículo.
E antes que você encare a sequência dessa matéria, um aviso:
não temos a pretensão de abraçar aqui todas as ideias de João Doria. Se há algo
que a história recente do país nos ensinou é que não devemos tratar políticos,
de qualquer natureza, como salvadores da pátria. Pelo contrário. Aos políticos,
e isso independente das cores de seus partidos, toda dose de ceticismo é pouca.
E isso vale especialmente para os eleitores de Doria.
Mas assim como já elogiamos a ideia de Fernando Haddad em
privatizar a previdência municipal, acreditamos que boas ações não devam apenas
ser enaltecidas, mas apontadas, especialmente para que sirvam de exemplo para
outros governantes espalhados país afora.
Em tempos de crise, João Doria parece ter boas soluções para
resolver os problemas da maior cidade do país sem que isso pese no bolso dos
pagadores de impostos. E aqui, nós temos 7 exemplos de como ele pretende fazer
isso.
1. O seu próprio
salário.
R$ 24.165,87. Esse é o salário de um prefeito da maior
cidade do país. Mas não se engane: ele não entrará na conta de João Doria.
Com uma fortuna avaliada em R$ 180 milhões (dez vezes mais
do que a soma de seus rivais na última eleição), Doria decidiu abrir mão de sua
remuneração no cargo. Com isso, deixará de receber R$ 1.159.961,76 durante seus
quatro anos de mandato.
Impedido por lei, no entanto, de devolver o dinheiro aos
cofres públicos, doará cada centavo a organizações não governamentais,
restituindo uma parcela da sociedade com o dinheiro dos pagadores de impostos.
A primeira escolhida é a Associação de Assistência à Criança
Deficiente (AACD), que recebeu a doação do mês de janeiro (R$ 18,5 mil se
descontados os encargos). Em fevereiro, a organização escolhida atuará no
terceiro setor.
2. A limpeza das
pichações da Ponte Estaiada.
A Ponte Octavio Frias de Oliveira, também conhecida como
Ponte Estaiada, é um dos marcos da cidade de São Paulo. Inaugurada em maio de
2008, após três anos de construção, a obra não demorou muito tempo para ser
tomada completamente pela ação dos pichadores. E foi exatamente por esse motivo
que Doria, logo em seus primeiros dias de mandato, anunciou a sua restauração:
como um marco no combate ao picho na cidade.
A limpeza da ponte começou na manhã do dia 2 de janeiro e
demorou duas semanas. Segundo a Prefeitura, o investimento total da obra foi de
R$ 900 mil, mas com custo zero aos pagadores de impostos paulistanos.
“As empresas que cooperaram fizeram seus próprios
investimentos atendendo um pedido feito pelo prefeito da cidade de São Paulo
para entregarem à população essa ponte recuperada”, confirmou.
Para evitar novos atos de vandalismo, Doria disse que
aplicará uma estratégia que inclui a instalação de sensores nos portões, que
acionarão a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar em tentativas de
arrombamento, além de iluminação – já instalada – e câmeras para captar a
presença de invasores durante a madrugada.
3. O “melhor programa
social”, bancado pela iniciativa privada.
Foi Ronald Regan quem disse que o melhor programa social é o
emprego. Desde então, a frase foi dita exaustivamente por políticos do mundo
inteiro.
Há poucos dias, incorporando esse espírito, Doria acertou
uma parceria com os sindicatos de conservação e limpeza de São Paulo para que
reservem vagas de varredores nas empresas privadas do setor para atender o
programa Trabalho Novo, que visa empregar moradores de rua.
A meta é contratar 20 mil pessoas até o final do ano. Como
contrapartida, as empresas pagarão um salário mínimo mensal (R$ 937), além de
plano de saúde. Para conseguir a vaga, os candidatos terão de se comprometer em
deixar as ruas em até três meses – uma das opções é ir para os albergues da
cidade.
O governo estadual também auxiliará o programa, através do
Poupatempo – com ele, os moradores de rua conseguirão obter documentos necessários
para sua contratação.
Nenhum centavo do dinheiro dos pagadores de impostos será
gasto com o programa.
4. A reestruturação
dos albergues para os moradores de rua.
“E os albergues para
os mendigos, apresentam condições mínimas para recebê-los?”, você deve estar se
perguntando. E foi exatamente para atender esse questionamento que a Prefeitura
criou um novo modelo de gestão: estabelecer uma série de parcerias com empresas
privadas para melhorar a condição desses espaços.
A iniciativa faz parte de um projeto batizado de Espaço
Vida. Fazem parte do modelo, a rede hoteleira Accor, a Procter & Gamble, a
rede de comida orgânica Mundo Verde e a empresa de tintas Coral. A ideia é
modificar radicalmente o cenário dos 83 albergues espalhados pela cidade
preparados para atender os moradores de rua.
A Accor, por exemplo, ajudará a Prefeitura a oferecer cursos
de capacitação e a configurar os quartos dos albergues. A Mundo Verde fornecerá
alimentos de origem orgânica e a Procter & Gamble produtos de higiene. O
Senac também fechou parceria para oferecer cursos profissionalizantes. Não
haverá um único centavo dos pagadores de impostos no projeto.
Além de melhorar a estrutura dos espaços, a ideia do Espaço
Vida é disponibilizar canis e estrutura para que os animais de estimação e as
famílias dos moradores de rua sejam acolhidas juntas. Hoje, homens e mulheres
são atendidos separadamente nos abrigos e os animais são proibidos.
5. Atendimento nos
melhores hospitais privados do país pelo custo da tabela do SUS.
É quase uma unanimidade. A maioria esmagadora dos
brasileiros estão insatisfeitos com a saúde pública no país – segundo o
Datafolha, foi a maior preocupação dos eleitores em 2014.
E em São Paulo a situação não é diferente. Para 37% dos
paulistanos, ela é o grande problema da cidade – e a preocupação é maior entre
os mais pobres (41%) do que entre os mais ricos (24%).
Foi pensando nisso que João Doria desenvolveu o programa
“Corujão da Saúde”. A ação tem como meta zerar a fila de exames em um prazo de
90 dias. Participarão do programa alguns dos melhores hospitais privados do
país, como o Hospital do Coração (HCor), o Sírio-Libanês, o Albert Einstein e o
Oswaldo Cruz. Além deles, também estarão presentes as seguintes instituições:
Edmundo Vasconcelos, Sepaco, Santa Casa de Santo Amaro, Santa Marcelina de
Itaquera, Cruz Azul, Santa Casa de São Paulo, Instituto Arnaldo Vieira de
Carvalho, Cetrus, Dasa-Lavoisier, Hospital Santa Joana, Beneficência
Portuguesa, Aviccena, Hospital Presidente e o Tadao Mori.
A rede Dasa-Lavoisier será a instituição a oferecer o maior
número de exames. Serão 16.380. No total, cerca de 137.100 exames foram
agendados para janeiro, outros 79.900 para fevereiro e 20.600 para março.
No Corujão da Saúde, a Prefeitura repassa recursos e as
intuições privadas fornecem equipamentos e funcionários no período entre 20h e
8h. Ou seja, diferentemente dos outros pontos levantados nessa lista, esse não
será gratuito. A remuneração dos procedimentos, no entanto, seguirá os valores
da tabela do SUS. Isto é: a população paulistana receberá atendimento nos
melhores hospitais do país sem nenhum centavo a mais do que já gasta com a
remuneração dos serviços dos hospitais públicos.
6. A adoção de praças
por empresas privadas.
A Prefeitura de São Paulo anunciou na última segunda-feira
reativar o programa “Adote uma Praça”, idealizado pelo ex-governador do estado,
Mário Covas. Segundo o projeto, a manutenção de praças da cidade será custeado
por empresas ou pessoas interessadas em recuperá-las quando deterioradas, sem
custo aos pagadores de impostos. Nesses locais há calçadas e bancos destruídos,
lixo, pichações falta de serviço de capina e de segurança.
O que essas empresas ganharão com isso? A possibilidade de
realizar anúncios no local.
A proposta da atual gestão é regulamentar o antigo programa,
com três grandes mudanças:
A Prefeitura terá um prazo para avaliar um pedido de adoção
de uma praça, que será de 30 dias;
O tamanho dos parques que serão disponibilizados para
zeladoria privada aumentará de 5 mil para 10 mil metros quadrados;
As empresas que se interessarem pelo projeto poderão
divulgar seus produtos conforme os critérios da Lei Cidade Limpa, respeitando o
tamanho da propaganda.
Segundo o vice-prefeito, Bruno Covas, neto do ex-governador:
“A orientação do prefeito é de buscar e facilitar parcerias,
sem criar dificuldades para que esta boa iniciativa da sociedade fique parada
na burocracia da Prefeitura.”
De acordo com a Prefeitura, os recursos economizados serão
investidos na saúde e na educação da cidade.
7. A reforma e a manutenção
dos banheiros do Ibirapuera.
Há poucos dias, Doria estabeleceu uma parceria com duas
empresas privadas: a revitalização e manutenção de 16 banheiros (oito
masculinos e oito femininos) e da marquise do Parque Ibirapuera, na forma de
doação, sem custos para os pagadores de impostos do município. No lançamento da
ação, Doria que a revitalização será realizada sem contrapartidas:
“É o parque mais importante, um símbolo para a cidade.
Independentemente do programa de concessões que vamos fazer, tomamos a decisão
de arrumar imediatamente os banheiros. Com a falta de recursos, pedimos o apoio
do setor privado, que nos atendeu em um ato cidadão.”
A incorporadora Cyrela fará a reforma dos banheiros, com a
troca de todas as louças e metais. As obras iniciam no próximo dia primeiro de
fevereiro e a previsão é que em quatro meses todos os banheiros estejam
renovados. A Cyrela também se comprometeu em contribuir com a regularização da
laje, pintura e troca de lâmpadas da marquise do Ibirapuera (que no momento
apresentam algumas infiltrações).
Após a conclusão da reforma, a Unilever passará a
administrar os sanitários durante doze meses. O acordo firmado pela Prefeitura
prevê a manutenção, a limpeza e o fornecimento de produtos de limpeza e de
materiais de higiene, como sabonete e papel higiênico.
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