Léo G. Medeiros
A filosofia que dirige o sistema carcerário japonês é
diferente da que rege todos os outros presídios ocidentais, que tentam reeducar
o preso para que ele se reintegre a Sociedade. O objetivo, no Japão, é levar o
condenado ao arrependimento. Como errou, não é mais uma pessoa honrada e
precisa pagar por isso.
“Além de dar o devido castigo em nome das vítimas, o período
de permanência na prisão serve como um momento de reflexão no qual induzimos o
preso ao arrependimento”, explica Yutaka Nagashima, diretor do Instituto de
Pesquisa da Criminalidade do Ministério da Justiça.
Os métodos para isso são duros para olhos ocidentais, mas em
nada lembram os presídios brasileiros, famosos pela superlotação, formação de
quadrilhas, violência interna e até abusos sexuais.
Organização e limpeza imperam. Os detentos têm espaço de
sobra e ficam no máximo seis por cela. Os estrangeiros têm um quarto
individual. Ninguém fica sem trabalhar e os detentos não têm tempo livre para
arquitetar fugas.
O dia do preso japonês começa às 6h50min. Às 8h ele já está
na oficina trabalhando na confecção de móveis ou brinquedos. Só para o serviço
por 40 minutos para o almoço e trabalha novamente até às 16h40min. Durante todo
este período nenhum tipo de conversa é permitido, nem durante as refeições.
O preso volta à cela e fica ali até 17h25min, quando saí
para o jantar. Às 20h tem que retornar ao quarto, de onde só saíra no dia
seguinte.
Banhos não fazem parte da programação diária. No verão eles
acontecem duas vezes por semana. No inverno apenas um a cada sete dias. “Não
pode ser diferente porque faltam funcionários. Mas damos toalhas molhadas para
eles limparem o corpo”, justifica-se Yoshihito Sato, especialista em segurança
do Departamento de Correção do Ministério da Justiça.
Apesar das reclamações, os presos estrangeiros recebem um
tratamento melhor que os japoneses: além do quarto individual, ganham cama e um
aparelho de televisão onde são transmitidas aulas de japonês.
A comida é diferenciada. Não é servido nada que desagrade
religiosamente qualquer crença de um povo. Para os vegetarianos, por exemplo,
não é oferecida carne bovina.
O Japão não aceita acordos de extradição. Afinal, como
causou sofrimento à população, o criminoso tem que pagar por isso no Japão
mesmo.
Logo ao chegar à penitenciária, os presos recebem uma rígida
lista do que poderão ou não fazer. Olhar nos olhos de um policial, por exemplo,
é absolutamente proibido. Cigarro não é permitido em hipótese alguma. Na hora
da refeição o detento deve ficar de olhos fechados até que ouça um sinal para
abri-los.
Qualquer transgressão a uma das determinações o detento
termina numa cela isolada. Apesar de oferecer tudo o que teria num quarto
normal (privada, pia e cobertor), ela tem pouca iluminação. Se houver
reincidência na falha, será punido com algemas de couro, que imobilizam os
braços nas costas. Sem a ajuda das mãos, o preso tem que comer como se fosse um
cachorro. Também tem dificuldades para fazer as necessidades fisiológicas.
Assim, conhecido o caso japonês, é interessante ver que
nenhuma ou quase nenhuma “ONG” de direitos humanos interfere no sistema, dita
políticas ou o governo permite que senador (como fez, numa ocasião, o senador
Eduardo Suplicy) durma entre os presos, sob a justificativa de impedir
represálias do Estado após rebeliões.
Aliás, como se diria “rebelião de preso” em japonês? Esta
expressão lá não existe.
A última vez que vi alguma coisa sobre o sistema carcerário do Japão, já tem uns 20 anos, o índice de reincidência era de 50%, ou seja, metade voltavam a cometer crimes depois de cumprir a pena. Entendo que nenhum sistema carcerário pode ser unificado, parece mais racional avaliar o indivíduo com outros fatores, além do simples crime cometido. Concordo que o arrependimento deve ser a prioridade, mas a ressocialização deve acontecer em algum momento. Mesmo assim, dificilmente será possível alcançar 100% de recuperação.
ResponderExcluirAonde você leu sobre esse índice, Milton? Você já procurou um índice mais atualizado?
ExcluirFoi num documentário sobre sistemas carcerários, no Discovery ou no Natgeo.
ExcluirO que eu tenho a dizer é que hoje o índice de reincidência no Japão é de 46,7%, mas há vinte anos, como informa o Japan Times era de menos de 30%.
ResponderExcluir"The National Police Agency’s 2014 white paper on crimes shows that the percentage of recidivists among people investigated for criminal offenses, except for those probed for traffic accidents, has been on a steady increase since 1997 — from less than 30 percent to a record 46.7 percent. At the same time, the report shows that convicts who are released early from prison on parole are less likely to commit additional offenses than those released after serving their full sentences."
De qualquer forma é melhor que o do Brasil, 70%.
No Brasil, uma parte desses 70%, não é reincidente, são aqueles que foram presos equivocadamente e aprenderam a ser bandidos enquanto cumpriam pena.
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