Carlos Newton |
O título da matéria de Carlos
Newton na Tribuna da Internet é
forte, mas as evidências que as UPPs são uma farsa são mais fortes ainda.
Se não fosse corrupto e totalmente deslumbrado com o
enriquecimento ilícito, Sérgio Cabral tinha grandes chances de ser eleito
presidente da República. Era o candidato mais forte do PMDB e realmente havia
conquistado grande projeção nacional e até internacional, com base na criação
das famosas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Foi mais audacioso projeto
administrativo dos últimos tempos e conquistou apoio consensual e incondicional
da mídia. Enfim, parecia haver surgido uma iniciativa capaz de pacificar as
favelas, e o exemplo do Rio de Janeiro passou a ser seguido em outras cidades
do país, era uma verdadeira “febre do bem”.
ACORDO COM O TRÁFICO – Mas era tudo uma farsa, a pacificação
não passava de um acordo espúrio entre o governo estadual e os traficantes, com
a participação ostensiva do principal cúmplice de Sérgio Cabral nessa criminosa
ação de grande alcance político-eleitoral – o delegado federal José Mariano
Beltrame, que também se tornou um verdadeiro ídolo, festejado durante 13 anos
no Brasil e no exterior.
Beltrame somente deixou a Secretaria de Segurança no dia 11
de outubro, há exatamente três meses, e ainda estava cercado de glórias, pois
tinha sido convidado a dar palestras no dia 16 de novembro nos Estados Unidos,
e, logo depois, no dia 30, na Áustria. E a Federação das Indústrias do Rio
(Firjan) anunciou que convidaria Beltrame para ser uma espécie de diretor para
assuntos de políticas de segurança pública. Mas agora verdade sobre o falso
herói veio à tona e ele já não vale mais nada. Seu currículo está se
transformando numa folha corrida.
MÍDIA ADORMECIDA – Durante sua longa gestão, o governador
Sérgio Cabral, assessorado pelo experiente publicitário Rogério Monteiro, cuja
agência fica pertinho do Palácio Guanabara, investiu pesado na mídia escrita,
falada e televisada, conseguindo excelente retorno. Por preguiça e
conveniência, os jornalistas enalteciam cada vez mais Cabral, Beltrame e as
UPPs, embora já se soubesse que havia algo de podre na suposta pacificação da
favelas, devido a uma série de artigos do jornalista Helio Fernandes.
Isso ocorreu em 2009, quando recebi denúncias sobre a fraude
das UPPs. Saí em campo e confirmei as informações de que realmente ocorrera um
acordo entre Cabral/Beltrame e os chefões do tráfico. Passei então os dados a
Helio Fernandes, que publicou bombásticas reportagens aqui no blog, em dezembro
de 2009.
“O acordo está “firmado” sob as seguintes cláusulas: 1 – Os
traficantes somem com as armas da favela, com os “soldados” de máscaras ninjas,
com os olheiros e tudo o mais. 2 – A PM entra na favela, sem enfrentar
resistência, ocupa os pontos que bem entender, mas não invade nenhuma casa,
nenhum barraco, e não prende ninguém, pois não “acha” traficantes ou
criminosos. 3 – A favela é tida como “pacificada”, não existem mais marginais
circulando armados, os moradores não sofrem mais intimidações, não há mais
balas perdidas. 4 – Em compensação, o tráfico fica liberado, desde que feito
discretamente, sem muita movimentação”, escreveu Helio Fernandes.
SEM DISPARAR UM TIRO – Nessas matéria, o decano dos
jornalistas brasileiros demonstrava que, por causa do acordo com os chefões,
não foi disparado um único e escasso tiro na “ocupação” das favelas, os
traficantes e seus soldados de máscaras ninjas não lançaram uma só granada, um
solitário morteiro, não acionaram lanças-chamas, mísseis portáteis, rifles
AR-15 e M-16, metralhadoras Uzi, nada, nada.
Não houve nem mesmo troca de tiros, porque havia o acordo
entre os traficantes e o governador, que teve a desfaçatez de vir a público e
proclamar, textualmente: “Dei prazo de 48 horas para os traficantes deixarem o
Cantagalo-Pavão-Pavãozinho!”. Ou seja, o próprio Cabral confirmava que havia o
entendimento com o crime, que ele conduzira pessoalmente. E tudo isso só foi
possível com a cumplicidade direta e objetiva de Beltrame, é claro.
LIBEROU GERAL – Foi assim que o tráfico de drogas a rolar
solto no Rio de Janeiro, inclusive com a adoção do sistema de “delivery”, a
entrega a domicílio. Por orientação do governador e do secretário de Segurança,
a Polícia Civil e a PM simplesmente passaram a não mais coibir o narcotráfico,
cujo combate ficou exclusivamente por conta da Polícia Federal e da Polícia
Rodoviária.
Basta lembrar a comédia da falsa “desocupação” do Complexo
do Alemão, acompanhada ao vivo pela TV. Os soldados do tráfico corriam, a
poucos metros dos policiais, que não fizeram um só disparo. Se algum deles
tivesse dado um tiro de advertência para cima, todos os criminosos parariam de
fugir e se entregariam. Mas era uma farsa, ninguém foi preso. Mesmo assim, a
imprensa comemorou o “sucesso” da operação.
AS MÁSCARAS CAÍRAM – Agora, Sérgio Cabral e a falsa
superadvogada Adriana Ancelmo estão presos em Bangu, sem possibilidade de serem
soltos. Já se sabe também que o superdelegado José Mariano Beltrame não passava
de uma fraude e foi a peça principal da ardilosa armação de marketing político
destinada a fazer Sérgio Cabral ser eleito presidente.
É impressionante que o próprio governo federal, na era Lula,
tenha anunciado a criação das UPPs em âmbito federal, mas depois tenha
desistido, devido ao alto custo. Mas adotou (e continua adotando na era Temer)
a fraude da UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), que são apenas uma nova
denominação de ambulatórios ou postos de saúde. A suposta invenção das UPAs
demonstra que Cabral não era competente apenas em corrupção e enriquecimento
ilícito, mas também um grande mestre em matéria de marketing
político-administrativo.
Sem a menor dúvida, Cabral seria um fortíssimo candidato à
Presidência da República, se a fraude das UPPs não tivesse sido desmontada pela
disputa permanente entre as facções. Não adianta liberar o tráfico, porque
sempre haverá guerra de quadrilhas.
Ricardo, "ser eleger" não dá né? Que tal corrigir o título?
ResponderExcluirCorrigido, Milton.
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