quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Com ajuda do corrupto Beltrame, Cabral tinha até chances de se eleger presidente

Carlos Newton
O título da matéria de Carlos Newton na Tribuna da Internet é forte, mas as evidências que as UPPs são uma farsa são mais fortes ainda.

Se não fosse corrupto e totalmente deslumbrado com o enriquecimento ilícito, Sérgio Cabral tinha grandes chances de ser eleito presidente da República. Era o candidato mais forte do PMDB e realmente havia conquistado grande projeção nacional e até internacional, com base na criação das famosas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Foi mais audacioso projeto administrativo dos últimos tempos e conquistou apoio consensual e incondicional da mídia. Enfim, parecia haver surgido uma iniciativa capaz de pacificar as favelas, e o exemplo do Rio de Janeiro passou a ser seguido em outras cidades do país, era uma verdadeira “febre do bem”.

ACORDO COM O TRÁFICO – Mas era tudo uma farsa, a pacificação não passava de um acordo espúrio entre o governo estadual e os traficantes, com a participação ostensiva do principal cúmplice de Sérgio Cabral nessa criminosa ação de grande alcance político-eleitoral – o delegado federal José Mariano Beltrame, que também se tornou um verdadeiro ídolo, festejado durante 13 anos no Brasil e no exterior.

Beltrame somente deixou a Secretaria de Segurança no dia 11 de outubro, há exatamente três meses, e ainda estava cercado de glórias, pois tinha sido convidado a dar palestras no dia 16 de novembro nos Estados Unidos, e, logo depois, no dia 30, na Áustria. E a Federação das Indústrias do Rio (Firjan) anunciou que convidaria Beltrame para ser uma espécie de diretor para assuntos de políticas de segurança pública. Mas agora verdade sobre o falso herói veio à tona e ele já não vale mais nada. Seu currículo está se transformando numa folha corrida.

MÍDIA ADORMECIDA – Durante sua longa gestão, o governador Sérgio Cabral, assessorado pelo experiente publicitário Rogério Monteiro, cuja agência fica pertinho do Palácio Guanabara, investiu pesado na mídia escrita, falada e televisada, conseguindo excelente retorno. Por preguiça e conveniência, os jornalistas enalteciam cada vez mais Cabral, Beltrame e as UPPs, embora já se soubesse que havia algo de podre na suposta pacificação da favelas, devido a uma série de artigos do jornalista Helio Fernandes.

Isso ocorreu em 2009, quando recebi denúncias sobre a fraude das UPPs. Saí em campo e confirmei as informações de que realmente ocorrera um acordo entre Cabral/Beltrame e os chefões do tráfico. Passei então os dados a Helio Fernandes, que publicou bombásticas reportagens aqui no blog, em dezembro de 2009.

“O acordo está “firmado” sob as seguintes cláusulas: 1 – Os traficantes somem com as armas da favela, com os “soldados” de máscaras ninjas, com os olheiros e tudo o mais. 2 – A PM entra na favela, sem enfrentar resistência, ocupa os pontos que bem entender, mas não invade nenhuma casa, nenhum barraco, e não prende ninguém, pois não “acha” traficantes ou criminosos. 3 – A favela é tida como “pacificada”, não existem mais marginais circulando armados, os moradores não sofrem mais intimidações, não há mais balas perdidas. 4 – Em compensação, o tráfico fica liberado, desde que feito discretamente, sem muita movimentação”, escreveu Helio Fernandes.

SEM DISPARAR UM TIRO – Nessas matéria, o decano dos jornalistas brasileiros demonstrava que, por causa do acordo com os chefões, não foi disparado um único e escasso tiro na “ocupação” das favelas, os traficantes e seus soldados de máscaras ninjas não lançaram uma só granada, um solitário morteiro, não acionaram lanças-chamas, mísseis portáteis, rifles AR-15 e M-16, metralhadoras Uzi, nada, nada.

Não houve nem mesmo troca de tiros, porque havia o acordo entre os traficantes e o governador, que teve a desfaçatez de vir a público e proclamar, textualmente: “Dei prazo de 48 horas para os traficantes deixarem o Cantagalo-Pavão-Pavãozinho!”. Ou seja, o próprio Cabral confirmava que havia o entendimento com o crime, que ele conduzira pessoalmente. E tudo isso só foi possível com a cumplicidade direta e objetiva de Beltrame, é claro.

LIBEROU GERAL – Foi assim que o tráfico de drogas a rolar solto no Rio de Janeiro, inclusive com a adoção do sistema de “delivery”, a entrega a domicílio. Por orientação do governador e do secretário de Segurança, a Polícia Civil e a PM simplesmente passaram a não mais coibir o narcotráfico, cujo combate ficou exclusivamente por conta da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária.

Basta lembrar a comédia da falsa “desocupação” do Complexo do Alemão, acompanhada ao vivo pela TV. Os soldados do tráfico corriam, a poucos metros dos policiais, que não fizeram um só disparo. Se algum deles tivesse dado um tiro de advertência para cima, todos os criminosos parariam de fugir e se entregariam. Mas era uma farsa, ninguém foi preso. Mesmo assim, a imprensa comemorou o “sucesso” da operação.

AS MÁSCARAS CAÍRAM – Agora, Sérgio Cabral e a falsa superadvogada Adriana Ancelmo estão presos em Bangu, sem possibilidade de serem soltos. Já se sabe também que o superdelegado José Mariano Beltrame não passava de uma fraude e foi a peça principal da ardilosa armação de marketing político destinada a fazer Sérgio Cabral ser eleito presidente.

É impressionante que o próprio governo federal, na era Lula, tenha anunciado a criação das UPPs em âmbito federal, mas depois tenha desistido, devido ao alto custo. Mas adotou (e continua adotando na era Temer) a fraude da UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), que são apenas uma nova denominação de ambulatórios ou postos de saúde. A suposta invenção das UPAs demonstra que Cabral não era competente apenas em corrupção e enriquecimento ilícito, mas também um grande mestre em matéria de marketing político-administrativo.

Sem a menor dúvida, Cabral seria um fortíssimo candidato à Presidência da República, se a fraude das UPPs não tivesse sido desmontada pela disputa permanente entre as facções. Não adianta liberar o tráfico, porque sempre haverá guerra de quadrilhas.


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