Ruth de Aquino
Um juiz federal em Brasília mandou afastar seis
vice-presidentes dos Correios. Por falta de qualificação técnica. Em outras
palavras, por incompetência para o cargo. Quem indicou os seis dos oito
vice-presidentes (e para que os Correios precisam mesmo de oito
vice-presidentes?) foi a Casa Civil do presidente Michel Temer. Quem pediu o
afastamento foi a Associação dos Profissionais dos Correios, cansada de pagar o
pato pelo aparelhamento da empresa.
A base do pedido foi a recente Lei das Estatais, em vigor desde
junho do ano passado. Como o Brasil é, historicamente, um país que valoriza o
Q.I. (Quem Indica), foi necessário aprovar uma lei que estipula o óbvio.
Tenta-se evitar, nas empresas estatais, as indicações políticas que beneficiam
o amiguinho, o afilhado ou o parente de alguém importante ou muito chegado,
numa troca amoral de favores. Diz o texto da lei que diretores de estatais
devem ter “reputação ilibada, notório conhecimento mediante comprovação de
experiência profissional, formação compatível com o cargo e ficha limpa”. Não
deveria ser sempre assim?
Nenhum desses seis vice-presidentes dos Correios, eleitos em
agosto, comprovou qualificação técnica. Não foram analisados seus currículos. O
Conselho dos Correios pediu a análise, mas não foi ouvido. Maria Inês Capelli,
presidente da Associação dos Profissionais dos Correios, foi ouvida pelo Bom
Dia Brasil: “O prejuízo [dessas indicações] estamos vendo agora. [Os Correios
são] uma empresa deficitária, por muito tempo reconhecida por sua alta
credibilidade e pelo serviço que prestava. O aparelhamento da empresa é a causa
maior de sua decadência”.
No fim, os Correios convocam seus próprios funcionários a
cobrir o rombo com descontos no contracheque ou com a adesão a programas de
demissão voluntária. Em 2015, o prejuízo dos Correios passou de R$ 2 bilhões.
No ano passado, chegou perto: R$ 1,9 bilhão no vermelho. Agora, os
vice-presidentes dos Correios prometem recorrer da sentença do juiz Márcio de
França Moreira. Afirmam não ter tido chance de se defender. Não sabemos se o
afastamento é justo ou não. Mas os Correios não estão sozinhos no
apadrinhamento de incompetentes nas estatais.
Se algo ficou claro para os brasileiros no expurgo da Lava
Jato é que a politicagem estimula a corrupção. O que aconteceu com Petrobras,
BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil – e por aí vai – foi uma injustiça com
o país e com o trabalhador. A imagem do Brasil sofre lá fora. Pela primeira
vez, passamos a China num ranking internacional de propina, elaborado nos
Estados Unidos por um site especializado em legislação anticorrupção. Os três
campeões nesse ranking são Brasil, China e Iraque.
O preço da má gestão, aliado à cobrança de subornos, é muito
alto. O desemprego vai aumentar em 2017. Será o pior quadro entre as 20 maiores
economias no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Mais de
1,2 milhão de brasileiros perderão seu emprego. Ao todo, teremos 13,6 milhões
de desempregados, ou 12,4% da população com idade para trabalhar.
Os Correios não têm concorrente. Estão sozinhos no mercado.
Precisava ser uma empresa tão deficitária e crivada de denúncias de desvio e
fraudes, também no fundo de pensão, o Postalis? Precisava ter gestores nomeados
por partidos políticos, para encher as burras individuais de dinheiro? Todos
devem lembrar que o escândalo do mensalão começou com a CPI dos Correios, em
2005. Um vídeo mostrou um executivo dos Correios, Maurício Marinho, negociando
propina com empresas e agindo em nome do deputado Roberto Jefferson. Jefferson
cunhou o neologismo “mensalão”. Seu depoimento derrubou o ministro-chefe da
Casa Civil de Lula, Zé Dirceu.
Governos após governos ignoram o anseio da sociedade para
acabar com os cabides enferrujados de empregos, onde se penduram marajás não
qualificados para os cargos. Isso não quer dizer que a privatização resolva os
males da incompetência. Uma empresa privada precisa de boa gestão tanto quanto
uma estatal. O Q.I. pode levar à falência empresas privadas.
O presídio de Manaus é um exemplo drástico de como uma
“semiprivatização” malsucedida serve para disfarçar a omissão do Estado. Era o
Estado que deveria ter saneado as condições carcerárias explosivas em Manaus,
detectadas desde 2013. É o Estado que precisa agora dar as devidas respostas
para a segurança dos presídios, em vez de defender o indefensável: que se
gravem as conversas entre advogados e presos. Michel Temer ainda não percebeu
os males da incompetência em seu Ministério. Como Dilma Rousseff, cercou-se de
vários ministros que podem afundá-lo.
Se afastar todos os desqualificados, não serão afastado seis, sobrarão apenas seis.
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