Carlos Newton
Muito reveladora a entrevista que Eike Batista concedeu em
Nova York, pouco antes de embarcar de volta ao Brasil, falando com
exclusividade ao repórter Henrique Gomes Batista, de O Globo, que estava
acompanhado pelo repórter cinematográfico Sherman Costa, do Fantástico. Foram
frases curtas e pausadas, mas de grande profundidade e clareza, que indicam com
precisão o caminho que Eike decidiu percorrer e que vai destruir o que ainda
resta dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, incriminando também
outros importantes agentes de corrupção, como o ex-governador Sérgio Cabral e o
economista Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES.
Eike estava aparentemente calmo, parecia meio sedado,
certamente estava sob efeito de algum tranquilizante, porque na longa viagem
até o Rio de Janeiro ele conseguiu dormir quase o tempo inteiro, apesar dos
gravíssimos problemas que enfrenta.
O repórter Henrique Gomes Batista se preparou bastante para
a entrevista, fez questionamentos importantes e necessários, mas sempre
respeitando o entrevistado, o cinegrafista do Fantástico participou de forma
ativa, também fazendo perguntas. E o resultado foi retumbante, porque não
deixou margem a dúvidas.
Ficou absolutamente claro que o empresário pretende
reivindicar o direito à delação premiada. E vai conseguir, porque sua situação
se enquadra perfeitamente nos pré-requisitos que o juiz Moro exige: “Faz-se um
acordo com um criminoso pequeno para obter prova contra o grande criminoso ou
com um grande criminoso para lograr prova contra vários outros grandes
criminosos”, diz o magistrado.
Como Eike só vai entregar peixes graúdos, é claro que seu
pedido de acordo com a força-tarefa será facilmente aceito, e ele começou se
posicionando de uma forma muito hábil. “A Lava Jato está passando o Brasil a
limpo de uma maneira fantástica. Eu digo que o Brasil que está nascendo agora
vai ser diferente, tá certo? Porque você vai pedir suas licenças (para obras),
vai passar pelos procedimentos normais, transparentes, e se você for melhor,
você ganhou e acabou a história, né?”
Sua estratégia de defesa, orientada pelos advogados Sérgio
Bermudes e Alexandre Sigmaringa Seixas, é inteiramente adequada à situação, ao
defender a tese de que os empresários são vítimas do sistema de corrupção
montado no país:
“As regras têm que ser claras e transparentes, e o que está
acontecendo vai permitir que o Brasil seja um país em que todo mundo vai querer
investir. Por isso está passando essa fase difícil, mas na frente todo mundo
vai dar uma nota diferente para o Brasil em termos de transparência”, disse
Eike, que acha a Operação Lava-Jato “espetacular” e quer colaborar: “Eu estou à
disposição da Justiça, como um brasileiro cumprindo o meu dever. Estou
voltando, essa é a minha obrigação.”
A tese é interessante. Na verdade, todos os envolvidos se
beneficiam com os esquemas, porém é óbvio que as negociatas só existem porque
os políticos são corruptos. Se não fossem, não haveria maracutaias, como Lula
gosta (ou gostava) de dizer.
Em seus depoimentos, Eike vai desmontar dois esquemas de
corrupção – o estadual, comandado por Sérgio Cabral, e o federal,
institucionalizado por José Dirceu e Lula da Silva, com prosseguimento nas
gestões de Dilma Rousseff. E desta vez não vai adiantar Dilma dizer que não
sabia de nada, porque se trata de ação governamental que envolvia diversos
protagonistas nos dois governos do PT – Ministérios da Fazenda e do
Desenvolvimento, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobras e outros órgãos públicos.
Detalhe importante: a prisão de Eike foi festejada no
Planalto. O ministro Eliseu Padilha e sua entourage comemoraram para valer.
Como se sabe, a assessoria foi toda nomeada por Padilha. Na realidade, Temer só
conta com Moreira Franco, que não tem status de ministro, e com o falso
porta-voz Alexandre Parola, que não sabe se impor e foi facilmente subjugado
por Padilha.
De toda forma, apesar da terrível disputa interna que está
ocorrendo entre os grupos de Temer e Padilha, não há dúvida de que, com a
manutenção do sigilo na delação da Odebrecht, garantido equivocadamente pela
ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, o Planalto ganhou tempo para
tocar o barco enquanto for possível, porque la nave va, cada vez mais
fellinianamente.
...garantido equivocadamente pela ministra...
ResponderExcluirUma presidente de poder tem direito de se equivocar? Duas vezes?
Mantendo o cangaceiro alagoano e agora mantendo o sigilo?
Não é manutenç˜ão demais para um brasil só?
Será que só no jogo do bicho vale o que está escrito?
Se vai destruir eu não sei, mas que vai tentar jogar a bomba no colo dos outros, isso eu tenho certeza.
ResponderExcluir(argento - eleitor em Greve) ... Eike Batista, as 77 delações da Odebrecht, o Caranguejo e outros menos cotados, forneceram informações pra derrubar e por na cadeia a República de Ladrõe - ainda não estão e, creio, os Ladrões já tiveram tempo mais que suficiente para "assimilar os golpes" e reagirem; é viver pra ver ...
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