terça-feira, 7 de junho de 2016

Francisco, um Papa para ser esquecido

O Papa cedeu a Europa ao Islã?

Por Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, jornalista e escritor italiano.

Ao desenrolarmos a lista das viagens apostólicas do Papa Francisco - Brasil, Coreia do Sul, Albânia, Turquia, Sri Lanka, Equador, Cuba, Estados Unidos, México, Quênia, Uganda, Filipinas - poder-se-ia dizer que a Europa não está exatamente no topo da sua agenda.

Os dois pontífices que o antecederam lutaram pela continuidade do cristianismo. O Papa João Paulo II enfrentou o Comunismo ao auxiliar na derrubada do Muro de Berlim e a Cortina de Ferro. O Papa Bento XVI atacou de frente “a ditadura do relativismo” (a crença segundo a qual a verdade está nos olhos de quem a vê) e apostou tudo na renovação da evangelização do continente ao viajar através dele (ele visitou três vezes a Espanha) e em discursos magnificentes como os proferidos em Regensburg, onde ele falou franca e firmemente a respeito da ameaça do Islã e no Parlamento Alemão, onde alertou os políticos presentes no tocante ao declínio da religiosidade e o “sacrifício de seus próprios ideais em nome do poder”.

O Papa Francisco, diferentemente, simplesmente ignora a Europa, como se já a considerasse perdida. O Ex-cardeal argentino, representante do cristianismo “Sul global”, realizou viagens espetaculares às ilhas dos migrantes de Lampedusa (Itália) e Lesbos (Grécia), mas nunca ao coração do continente. O Papa Francisco também dificultou o ingresso dos Anglicanos na Igreja Católica, ao menosprezar o diálogo com eles.

Acima de tudo, no entanto, em seu importante discurso proferido em 6 de maio durante a entrega do Prêmio Internacional Carlos Magno, o Papa perante líderes europeus, repreendeu severamente a Europa no tocante aos imigrantes pedindo-lhes que sejam mais generosos com eles. Em seguida ele introduziu algo revolucionário no discurso: “a identidade da Europa é, e sempre foi uma identidade multicultural”, ressaltou o Papa. Essa concepção é questionável.

O multiculturalismo é uma política específica, formulada nos anos 1970, estando ausente do vocabulário político de Schuman e Adenauer, dois dos fundadores da Europa. Agora ela foi invocada pelo Papa que falou da necessidade de uma nova síntese. E essa síntese trata do quê?

Hoje o cristianismo na Europa parece não ter importância e ser irrelevante. A religião se defronta com um desafio ideológico e demográfico, ao mesmo tempo em que os remanescentes pós Auschwitz das comunidade judaicas estão fugindo do novo antissemitismo. Nessas condições, uma síntese do velho continente e o Islã equivaleria a rendição à pretensão da Europa em decidir seu próprio futuro.

O “multiculturalismo” é a mesquita erguida sobre as ruínas da igreja. Não é a síntese defendida pelo Papa. É o caminho da extinção.

Pedir à Europa para que ela seja “multicultural” enquanto está passando por uma dramática 'descristianização' também é extremamente arriscado. Na Alemanha, um relatório que acaba de ser divulgado, constatou que o “país se tornou, em termos demográficos, um país multireligioso”. No Reino Unido, uma pesquisa de opinião abrangente constatou que a “Grã-Bretanha não é mais um país cristão”. Na França, o Islã também está superando o cristianismo como religião dominante. É possível encontrar a mesma tendência em todos os lugares, da Protestante Escandinávia à Bélgica Católica. É por esta razão que o Papa Bento XVI estava convencido que a Europa precisava ser “'re-evangelizada'.” O Papa Francisco nem tentou 're-evangelizar' ou reconquistar a Europa. Contrariamente, ao que tudo indica, ele acredita piamente que o futuro do cristianismo está nas Filipinas, Brasil e África.

Provavelmente pela mesma razão, o Papa utiliza menos de seu tempo censurando o terrível destino dos cristãos no Oriente Médio. Sandro Magister, o observador do Vaticano mais conceituado da Itália, lança uma luz sobre o silêncio do Papa:

“Ele permaneceu em silêncio em relação a centenas de estudantes nigerianas sequestradas pelo Boko Haram. Ele permaneceu em silêncio a respeito de Meriam, a jovem mãe sudanesa, sentenciada à morte exclusivamente por ser cristã e no final libertada com a intervenção de outros. Ele nada diz em relação à mãe paquistanesa Asia Bibi, que se encontra no corredor da morte há cinco anos porque ela também é uma 'infiel', o Papa sequer respondeu a duas cartas devastadoras que ela lhe enviou este ano, tanto antes quanto depois da reconfirmação da sentença”.

Em 2006, o Papa Bento XV, em sua palestra proferida em Regensburg, ressaltou que nenhum Papa jamais ousou dizer que havia um elo entre violência e Islã. Dez anos depois o Papa Francisco jamais invoca pelo nome os responsáveis pela violência anticristã e nunca menciona a palavra “Islã”. Recentemente o Papa Francisco também reconheceu o “Estado da Palestina”, antes mesmo dele existir - uma estreia simbólica sem precedentes. O Papa também poderá abandonar a longa tradição da Igreja da “guerra justa”, a guerra considerada justificável moral e teologicamente. O Papa Francisco sempre fala da “Europa dos povos”, mas nunca da “Europa das Nações”. Ele defende o acolhimento de migrantes e lava seus pés, ao passo que ignora que essas incontroladas ondas demográficas estão transformando a Europa, pouco a pouco, em um estado islâmico.

O significado das viagens do Papa Francisco às ilhas de Lampedusa na Itália e Lesbos na Grécia: ambas símbolos de uma dramática fronteira geográfica e civilizacional. Também é este o significado do discurso do Papa na entrega do Prêmio Internacional Carlos Magno.

Será que o chefe do cristianismo desistiu da Europa como uma terra cristã?

Tradução: Joseph Skilnik


6 comentários:

  1. (argento) ... Giulio Meotti, como jornalista, entende "picas" de Globalization ...

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  2. Ainda por cima é argentino. Só idiota não enxerga que a Europa será muçulmana. Já existem exemplos em Londres. A Alemanha será a que irá mais sofrer. Nem Roma faria uma invasão tão bem planejada.

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  3. Não foi o chefe do cristianismo que desistiu da Europa, é a Europa que está desistindo das religiões.

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    1. Sim, Milton. Mais agora com a valiosa colaboração de Chico, um populista demagogo que não fica nada a dever aos nossos.

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  4. (argento) ... bão, parece que os Católicos não estão muito preocupados com o papa Xico ...

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    1. Eu entendo que é o Papa, e os clérigos em geral, que não estão preocupados com os devotos, isso vale para todas as igrejas. Bem disse o Ricardo, Chico é um populista demagogo, assim como Marcelo Rossi, Malafaia e outros.

      Essa política começou com João Paulo II, que simplesmente acabou com os propósitos do Concílio Vaticano II, colocando a igreja no sentido contrário. O resultado foi uma debandada de fiéis, só comparada à reforma protestante.

      Mas ninguém está preocupado com a perda de devotos, principalmente a igreja católica, o interesse está na influência que pode ser exercida sob os devotos. Como disse o Bispo Mais Cedo, em uma orientação gravada sem ele saber: "Se um não quer dar dinheiro, não perca tempo insistindo, procure outro até encontrar".


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