1. ‘90% das medidas
provisórias editadas nos governos Lula e Dilma tinham propina’
Em seu termo de delação, Palocci enumera algumas das formas
que seriam usadas pelos partidos e políticos para receber propina. Entre elas,
estaria a adição de emendas a medidas provisórias, feitas sob encomenda para
atender a interesses de empresas e setores econômicos - que depois pagam os
políticos. Segundo Palocci, 90% das emendas parlamentares editadas nos anos
Lula e Dilma envolveram propina: ou foram editadas pelo governo com este
objetivo, ou receberam emendas fraudulentas no Congresso.
O delator “estima que das mil medidas provisórias editadas
nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas
exóticas em propina”, diz o texto.
Palocci, porém, errou o número: durante os anos do PT no
poder, foram editadas 624 medidas provisórias, segundo relatório da
Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, gerado a pedido da BBC News Brasil.
2. ‘A maior parte das
doações oficiais de empresas, registradas no TSE, eram na verdade propina’
Discorrendo sobre as doações de empreiteiras, Palocci diz
que uma parte das grandes obras contratadas pela Petrobras fora do período
eleitoral eram depois pagas com propinas na hora da eleição. “Grandes obras
contratadas fora do período eleitoral faziam com que os empresários, no período
das eleições, combinassem com os diretores (da Petrobras) que o compromisso
político da obra firmada anteriormente seria quitado com doações oficiais
acertadas com os tesoureiros dos partidos, coligações, etc”, disse.
Segundo Palocci, o dinheiro dado “por dentro”, isto é, de
forma oficial, pode também ser ilícito, “bastando que sua origem seja ilícita”.
“A doação oficial pode ser lícita e ilícita, bastante
verificar sua origem, sendo criminosa quando originadas em acertos de corrupção”,
disse. “a maior parte das doações registradas no TSE é acometida de origem
ilícita”, diz um trecho do depoimento.
3. ‘Temer, Eduardo
Cunha e Henrique Eduardo Alves superfaturaram um contrato de US$ 800 milhões na
Petrobras’
No começo do governo Lula, em 2003, o PMDB não tinha
qualquer cargo na Petrobras. Isto mudou a partir de 2008, quando o ex-deputado
Fernando Diniz (MDB) e outros emedebistas do Congresso conseguiram emplacar
Jorge Zelada como diretor da área Internacional da Petrobras, segundo Palocci.
Como exemplo, Palocci diz que Zelada “tratou de promover a
celebração de um contrato” na área internacional com a Odebrecht “com larga
margem para propina, a qual alcançava cerca de 5% do valor total de 800 milhões
de dólares, ou seja, 40 milhões”. “O contrato, tamanha a ilicitude revestida
nele, teve logo seu valor revisado e reduzido de 800 para 300 milhões”, diz um
trecho do depoimento - Palocci afirma ainda que o tema foi tratado por
delatores da Odebrecht.
4. ‘Em reunião de
2010, Lula, Dilma e Sérgio Gabrielli acertaram propina por meio da construção
de sondas’
Na delação, Palocci narra uma reunião “no início de 2010”,
da qual ele teria participado com Lula, Dilma Rousseff e o ex-presidente da
Petrobras e hoje coordenador de campanha de Haddad, José Sérgio Gabrielli.
Na reunião, diz Palocci, Lula “foi expresso ao solicitar do
então presidente da Petrobras (Gabrielli) que encomendasse a construção de 40
sondas para garantir o futuro político do país e do PT, com a eleição de Dilma,
produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha
que se aproximava”.
No encontro, Lula “afirmou que caberia ao colaborador
(Palocci) gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e o seu devido
emprego na campanha de Dilma”. Aquele foi o primeiro encontro realizado por
Lula no qual tratou-se da “arrecadação de valores a partir de grandes contratos
da Petrobras”, segundo o delator.
Em sua delação, Palocci disse ainda que o PT gastou, na
verdade, R$ 1,4 bilhão nas campanhas de Dilma Rousseff à Presidência em 2010 e
2014. O valor é mais que o dobro do declarado oficialmente pelo partido ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e tanto o PT quanto Dilma negam ter feito
estes gastos.
5. ‘3% do valor dos
contratos de publicidade da Petrobras iam para o caixa do PT’
Sobre os esquemas de corrupção na Petrobras, Palocci afirma
que 3% do total das verbas de publicidade da estatal petroleira eram desviados
para o caixa do PT. O esquema seria operado por Wilson Santarosa, que à época
chefiava a Gerência Executiva de Comunicação Institucional da estatal.
Santarosa era “conhecido líder sindical dos petroleiros e do
PT de Campinas (SP), era pessoa ligada a Lula, a Luiz Marinho (hoje candidato
do PT ao governo de São Paulo) e Jacob Bittar. Em sua gerência, foram
praticadas ilicitudes em conjunto com as empresas de marketing e propaganda”.
As empresas “destinavam cerca de 3% dos valores dos contratos de publicidade ao
PT através dos tesoureiros”.
6. ‘Lula fingiu surpresa
ao descobrir irregularidades na Petrobras’
Palocci descreve um encontro reservado com Lula em fevereiro
de 2007, logo depois da reeleição do petista para o segundo mandato
presidencial. A reunião ocorreu “em ambiente reservado, no primeiro andar” do
palácio da Alvorada.
Lula estava “bastante irritado”, e disse a Palocci ter
ficado sabendo que os ex-diretores da Petrobras Renato Duque (ligado ao PT) e
Paulo Roberto Costa (indicado pelo PP) estavam cometendo crimes em suas
diretorias. Lula, então, questionou Palocci sobre a veracidade dos relatos, e o
delator teria confirmado a ele que sim, havia irregularidades. Lula, então,
perguntou quem tinha nomeado os dois, e Palocci respondeu que foram nomeados
pelo próprio Lula.
O delator diz acreditar que Lula “agiu daquela forma porque
as práticas ilícitas dos diretores da estatal tinham chegado aos seus ouvidos e
ele queria saber qual era a dimensão dos crimes, bem como sua extensão, e
também se o colaborador (Palocci) aceitaria sua versão de que não sabia das
práticas ilícitas que eram cometidas em ambas as diretorias, uma espécie de
teste de versão, de defesa”.
“Essa prática empregada por Lula era muito comum”, diz o
depoimento. “Era comum Lula, em ambientes restritos, reclamar e até esbravejar
sobre assuntos ilícitos que chegavam a ele e que tinham ocorrido por sua
decisão. A intenção de Lula era clara no sentido de testar os interlocutores
sobre seu grau de conhecimento e o impacto de sua negativa”, diz o texto.
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