sexta-feira, 13 de julho de 2018

Um asno chamado Crivella e seu livro

Semana passada, o prefeito carioca Marcelo Crivella (PRB) disse a pastores que eles deveriam procurar sua assessora Márcia Nunes para agilizar procedimentos médicos destinados aos seus fiéis, mas em seu livro ‘Evangelizando a África’ ele escreveu que a cura passa longe de gabinetes ou consultórios – seria alcançada pela fé. Segundo o então missionário da Igreja Universal do Reino de Deus em países africanos, “os remédios e médicos tratam dos efeitos, mas a causa de todos os males, que é espiritual, somente pode ser tratada com o poder de Jesus”. Na visão de Crivella, “a vontade de Deus para nós é a saúde perfeita” e as doenças “são causadas pelo diabo ou pelas circunstâncias causadas por ele”. Nesta quinta-feira, a Câmara Municipal do Rio discute dois pedidos de impeachment do prefeito, acusado de favorecer evangélicos em atendimentos na rede pública de saúde.

No Quênia, enganando os ingênuos e trouxas

No livro, publicado em inglês em 1999 e lançado no Brasil três anos depois, Crivella fala de “problemas e doenças eminentemente espirituais” e cita “vícios e homossexualidade” entre “os principais sintomas de possessão demoníaca” – os outros são desmaios e dores de cabeça constantes, pensamentos suicidas, insônia e medo. Segundo ele, os problemas físicos, “embora causados pelos espíritos imundos”, “ não significam dizer que a pessoa esteja possessa por um deles”. Diz que tais espíritos causam doenças mentais, físicas e espirituais. Entre estas últimas, ele cita “terríveis dores de estômago, dores de cabeça, tonturas, desmaios, crises e outros sintomas que, quando investigados, não levam a nada”. Como exemplo, Crivella relata o caso de uma enfermeira que, depois da morte do filho, passou a ter “terríveis dores de cabeça”. Após desmaiar e passar dias numa unidade de terapia intensiva, ela conseguiu a cura em um templo da Universal na África do Sul, “quando o espírito imundo foi expulso de sua vida”.

Hoje bispo licenciado da Universal, Crivella revela orar pelos médicos e frisa que a medicina é de Deus, mas ressalta que “o Senhor Jesus sempre lidava com as doenças como algo maligno e as expulsava como se fossem espíritos”. “Talvez hoje em dia chamássemos a febre que afligia o corpo da sogra de Pedro de infecção, tuberculose etc. Mas o Senhor repreendeu a febre, e a febre a deixou”. Para o prefeito do Rio, a questão é simples: “Na verdade, a febre era um sintoma, mas a causa eram os demônios”. Segundo Crivella, “não existe nenhuma situação na Bíblia que poderia nos fazer acreditar que o Senhor tem algum interesse em nos tornar doentes ou que Ele é o responsável por nossas doenças”.

Em outro trecho do livro, ele cita um texto em que o tio Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, atribui aos demônios a criação dos microrganismos que causam as doenças: “Toda doença tem uma causa, e essa causa é sempre um vírus, um bacilo, um germe ou uma bactéria que causa a destruição dos tecidos. Perguntamos: de onde vem essa vida? De Deus não pode ser, pois Ele não é destruidor”, conclui. De acordo com o bispo Macedo, para que um microrganismo “se movimente e destrua” é necessário “que haja uma força dentro dele; um espírito destruidor, e não podemos identificá-lo como nenhuma outra coisa, senão como uma força demoníaca”. Assim, para evitar doenças, o bispo receita “a precaução de se encher do Espírito Santo” – ele ressalva, porém, a importância da alimentação sadia e da necessidade de ninguém se expor a doenças transmissíveis.

Da Veja

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