Ana Paula Henkel - Estadão
A emocionante e inesquecível Copa do Mundo de 2018 encantou
o mundo e revelou para o grande público Kylian Mbappé, o menino genial nascido
em Bondy, próximo a Paris, único adolescente além de Pelé a marcar na final de
um mundial. Francês de nascimento e criação, é companheiro de Neymar no Paris
Saint-Germain e roubou a cena, com mérito. A taça é da França, mas todos ainda
estão falando de Mbappé. Alguns de seu talento, já notável nas divisões de base,
outros mais preocupados em fazer proselitismo racialista por conta de sua
ascendência camaronesa pelo lado paterno e argelina pela mãe, a ex-jogadora de
handebol Fayza.
De todas as reações do lado eugenista, uma das que
lamentavelmente mais repercutiu foi a do ativista, apresentador e comediante
Trevor Noah. Nascido em Johanesburgo, filho de pai suíço e mãe sul-africana,
Noah fomentou uma polêmica com o governo francês por uma “piada” que
parabenizava sua África natal pela conquista francesa. Noah, ecoando o discurso
racialista de muitos, mistura propositalmente cultura e genética, como se
parabenizar Mbappé e seus companheiros pela criação na França, dentro da
cultura francesa e com as benesses de ser francês, negasse sua carga genética
negra.
A resposta de Noah em seu programa, o The Daily Show, aos
franceses foi que ele se sente no direito de elogiar tanto Mbappé ser “francês”
quanto “africano” e isto seria o verdadeiro discurso de tolerância e uma ode ao
multiculturalismo, quando na verdade é, seguindo os argumentos racistas que
remontam as abjetas leis Jim Crow, dos seus queridos correligionários do
Partido Democrata, que o “sangue” africano de Mbappé definiria sua identidade
ao menos tanto quanto a cultura, a língua e os laços sociais que ligam o jovem
atacante à França. Eugenia, por mais disfarçada que seja por uma tropa de
roteiristas do primeiro time da TV americana, será sempre eugenia.
A questão é mais séria do que parece e envolve algumas das
mais complexas e delicadas divisões políticas do mundo atual, na qual o esporte
internacional acaba se inserindo, mesmo que a contragosto. Meu marido, Carl
Henkel, é californiano da gema e representou a seleção americana de vôlei de
praia também em jogos olímpicos. Ele é neto de alemães, como o sobrenome não
nega, mas seus títulos não estão sendo disputados por Angela Merkel até onde eu
sei. Carl é americano, sempre foi e sempre será, e sua formação, não apenas
acadêmica mas atlética, foi construída e moldada com todos os incentivos e
benesses de uma nação livre e próspera. Sua origem germânica não parece
despertar a atenção de uma imprensa cada vez mais preocupada com a cor da pele
dos atletas, um retrocesso civilizacional que precisamos combater antes que
seja tarde. O esporte não é isso.
Duas legítimas famílias portuguesas, os Mendes e os
Rodrigues, por sorte se encontraram no sul de Minas, e cá estou eu. Sou mineira
com orgulho, descoberta para o esporte no querido Minas Tênis Clube, mas também
com ascendência portuguesa. Lendo o noticiário e seguindo o raciocínio
racialista de gente como Trevor Noah, estou quase convencida de que minhas
medalhas poderiam ser reivindicadas pela Federação Portuguesa de Voleibol
(FPV). Espero que Marcelo Rebelo de Sousa, atual presidente do país, não comece
a ter idéias sobre isso.
A ignorância (ou má-fé) de muitos “fiscais de melanina” que
resolveram teorizar sobre a cor da pele de Mbappé, e outros jogadores da equipe
francesa, fica mais evidente quando lembramos que recentemente a França foi
alvo de ataques terroristas, alguns realizados por muçulmanos com nacionalidade
francesa, em locais próximos de onde o craque foi criado. Enquanto Mbappé
treinava para se tornar uma das maiores revelações da história recente do
esporte, outros jovens franceses também descendentes de estrangeiros estudavam
como causar mortes de inocentes. Quem acredita que o determinante, nos dois
casos, é a cor da pele ou a carga genética, deveria realmente se envergonhar.
A politização radical do esporte, que já combati em artigos
anteriores como quando questionei a injustificável incorporação de “mulheres
transgêneras”, homens biológicos com estrutura física de homem, em esportes
femininos, continua na sua agenda de desfigurar o que deveria ser o terreno do
congraçamento, da paz e da união dos povos. O último penetra da festa do
esporte é a agenda política da imigração desenfreada para países ocidentais,
que coloca sob ataque o que sempre foi consensual e pacífico: cada país
soberano tem o direito de ter fronteiras e estabelecer critérios de imigração
que beneficiem, em primeiro lugar, seus próprios cidadãos legais.
A integração é a única saída, não apenas para a imigração
quanto para o próprio racismo, como resumiu de forma definitiva o reverendo
Martim Luther King em seu histórico discurso “Eu tenho um sonho”. Seu sonho era
viver num país em que suas filhas fossem julgadas pelo conteúdo do caráter e
não pela cor da pele. Imigração legal com integração cultural, aliada a um
controle inteligente e eficiente de fronteiras, sempre foi e será algo positivo
para todos. Já invasão ilegal, especialmente quando patrocinada por políticos
em busca de votos em troca de programas assistencialistas e empresários
oportunistas de olho em mão-de-obra barata, é um crime de alta traição e
lesa-pátria. O povo americano está cada vez mais alerta sobre isso, como tenho
presenciado na vida na América.
Os terroristas que matam inocentes na Europa não podem ser
entendidos, monitorados e combatidos pela cor da pele ou pela carga genética,
mas pelo caráter e pelas idéias que abraçaram e transformam em ações que
colocam a segurança de inocentes em risco, assim como Mbappé é fruto não apenas
de aptidão física mas também, e principalmente, dos ideais que incorporou de
esforço, talento e superação pelo esporte herdados da França.
Não há lugar para racismo no esporte e no mundo, tanto em
campo quanto fora dele. Que o exemplo de Mbappé nos ajude a superar mais essa
chaga da humanidade, começando pelas narrativas tóxicas e anti-ocidentais
disfarçadas de tolerância.
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