Algumas considerações sobre a Fundação Clinton.
Felippe Hermes
Ao parar na Rússia, após ter colaborado para vazar
documentos que comprovavam a existência de uma rede internacional de espionagem
por parte da NSA (a Agência Nacional de Segurança dos EUA), Edward Snowden,
segundo denúncias de oficiais do próprio governo americano, teria sido
convidado pelo governo russo para trocar sua expertise no assunto pelo
famigerado asilo político. O alvo desta vez era mais específico: o DNC, o
Comitê Nacional do Partido Democrata.
A ideia original era descobrir detalhes da desastrosa atuação
de Hillary Clinton na Síria, no Líbano e no Egito, enquanto secretária de
Estado do governo Obama, e com isso desestabilizar a campanha democrata,
entregando a presidência a Donald Trump. No entanto, uma vez na posse de
e-mails como os do chefe de campanha de Hillary, John Podesta, tais objetivos
tornaram-se simples demais.
Em meio a tamanha quantidade de informações, descobrir, por
exemplo, que Hillary recusou-se a atender o comandante do exército americano na
embaixada de Benghazi na noite em que a mesma embaixada foi alvo de ataque por
um grupo de radicais islâmicos, resultando na morte de quatro cidadãos
americanos, tornou-se um mero detalhe (o atentado foi inclusive o motivo da
renúncia de Hillary ao cargo de secretária de Estado). Nos e-mails de Podesta e
em outros arquivos do DNC, o Kremlin acabou descobrindo aquilo que pode se
tornar o maior escândalo de corrupção da história da política americana – tudo
capitaneado pelo casal Clinton e sua fundação, que leva o nome da família.
Criada ainda durante o mandato de Bill Clinton na
presidência, em 1997, a Fundação Clinton recebeu por volta de US$ 2 bilhões em
doações ao longo da última década. Boa parte deste dinheiro, proveniente de
grandes empresas, milionários e governos estrangeiros, foi doado enquanto
Hillary estava sentada na cadeira de Secretária de Estado, comandando toda a
política externa americana. As razões por trás de tamanha generosidade são o
que leva Hillary a estar hoje no centro de um possível escândalo. E motivos pra
isso não faltam.
A ascensão do casal
Clinton: do zero aos primeiros US$ 200 milhões.
Os oito anos de mandato de Bill Clinton na Casa Branca
costumam ser lembrados pelo rigor e o equilíbrio fiscal, incluindo alguns anos
em que o governo chegou a registrar superávit, diminuindo a dívida pública do
país. No entanto, segundo relatos da própria Hillary, o casal saiu da
residência oficial repleto de dívidas.
Bancar os estudos da filha e a hipoteca da casa foram, ainda
segundo a democrata, as principais motivações para que Bill se empenhasse em
tornar-se um palestrante reconhecido. Poucos anos depois, o ex-presidente
americano já recebia por volta de US$ 200 mil por uma única palestra. Entre
seus principais clientes? Os grandes bancos de Wall Street e outras corporações
americanas. Apenas no período em que Hillary foi secretária de Estado, Bill embolsou
US$ 48 milhões dessa forma.
Eleita senadora em 2008, Hillary só passou a atuar no ramo
de palestras em 2013, oito meses depois de deixar o cargo de secretária de
Estado por conta do atentado em Benghazi. Entre 2013 e 2014, a democrata
recebeu US$ 20 milhões para proferir palestras, incluindo US$ 3,5 milhões
apenas de grandes bancos de Wall Street.
Em outubro de 2013, por exemplo, Hillary teria recebido US$
225 mil do banco Goldman Sachs para proferir uma palestra. Em junho do mesmo
ano, Bill recebeu outros US$ 200 mil do mesmo banco.
As relações de Hillary com o sistema financeiro, no entanto,
não se limitam às palestras. Goldman Sachs, Morgan Stanley, Citigroup e JP
Morgan foram quatro dos cinco principais doadores enquanto Hillary ainda estava
no Senado.
Em 2015, ainda disputando as prévias pelo Partido Democrata,
a candidata apresentou seu plano para Wall Street, que previa, entre outras
coisas, taxar alguns negociadores de alta frequência e fundos de investimento
não-bancários – algo que seus adversários dentro do próprio partido fizeram
questão de lembrar que era audaciosamente bem elogiado pelos próprios
banqueiros.
Tamanha influência fez dos Clinton um casal não usual em
Washington – uma fortuna de US$ 200 milhões, afinal, construída em apenas
quinze anos é algo raro dentro da política americana. Alguns casos controversos
acabaram sendo gerados graças ao novo estilo de vida do casal, como o discurso
dado em junho, quando Hillary venceu as primárias do partido criticando
duramente a desigualdade em seu país. Na ocasião, a candidata vestia uma
jaqueta de Giorgio Armani de US$ 12 mil – um valor maior do que a renda anual
necessária para alguém deixar de ser considerado pobre nos Estados Unidos.
Para onde vão os
milhões da fundação Clinton?
US$ 500 milhões é a quantia arrecadada entre 2009 e 2012 (o
período onde Hillary esteve à frente do departamento de Estado) pela fundação
Clinton. No mesmo intervalo, a Fundação despendeu apenas US$ 75 milhões em
programas como uma iniciativa global de combate à AIDS e suporte ao Haiti.
Os demais US$ 425 milhões? Foram gastos com despesas de
viagens (US$ 25 milhões), salários e benefícios de empregados (US$ 110 milhões)
– incluindo a filha do casal, Chelsea Clinton -, além de outras despesas.
Segundo um e-mail vazado recentemente pelo Wikileaks, até
mesmo o casamento de Chelsea Clinton teria sido bancado pela Fundação, com um
custo estimado entre US$ 2 e US$ 5 milhões.
Em 2013 a Fundação arrecadou cerca de US$ 140 milhões para
seus programas, mas apenas US$ 8,9 milhões foram de fato doados.
Em 2014, por exemplo, foram US$ 5 milhões em programas de
ajuda humanitária (teoricamente, a função para a qual a Fundação Clinton
existe) e US$ 6 milhões em despesas de viagens, além de US$ 25 milhões em
salários para a equipe da fundação.
Os negócios da
Fundação Clinton
Empresas como Dow Chemical, Coca-Cola, Duke Energy ou BHP se
comprometem todos os anos com milhões de dólares para fazer parte da Clinton
Global Initiative, a CGI. Como deixa claro o recente vazamento de e-mails
envolvendo Chelsea Clinton e Doug Band – o principal responsável por levantar
fundos para a Fundação – muito mais do que apoiar causas nobres, o que leva
tais empresas a contribuir é uma oportunidade única de aumentar sua influência
sobre Washington. Em outras palavras, é puro lobby.
Em uma série de e-mails trocados entre Chelsea e Doug, a
filha do casal manifesta preocupação com possíveis conflitos de interesse
envolvendo a Fundação, o Departamento de Estado e Fundação Teneo, de Doug.
Em um caso notório, relatado pelos e-mails de Doug, o
presidente da Dow Chemical, Andrew Liveris, tornou-se membro da fundação com
acesso especial ao casal Clinton.
Cerca de um mês após a Dow ter pagado pelo privilégio,
Andrew convidou Bill e Doug para uma tarde de golf. Após o encontro, a empresa
acabaria doando outros US$ 500 mil à fundação, além de contratar Bill para
comparecer a um jantar em Davos, ao custo de outros US$ 150 mil. No mesmo
período, a Dow pagou à fundação de Doug, a Teneo, cerca de US$ 18,6 milhões em
serviços de consultoria. Bill, por sua vez, é membro honorário da Teneo, de
quem recebe US$ 3,5 milhões anuais para fazer parte do conselho.
O caso tornou-se emblemático não apenas pela ligação clara
entre a organização de caridade do casal Clinton e atividades bastante
lucrativas por parte de Bill, mas também por envolver diretamente dois doadores
conhecidos da Fundação.
No mesmo período em que levava Bill para jogar golf e pagava
centenas de milhares de dólares para que ele comparecesse a festas, além de
emprestar o jatinho da companhia para suas viagens pessoais, a Dow esteve
envolvida em um acordo para captar até US$ 9 bilhões junto ao Kwait, outro
doador recorrente do casal Clinton.
Não apenas o Kwait doou US$ 5 milhões à Fundação, como
também Arábia Saudita e Qatar tornaram-se conhecidos por apoiar as iniciativas
do casal. Regimes ditatoriais como os do golfo, porém, não foram os únicos a
colaborar. O Marrocos também teria contribuído com US$ 12 milhões em doações.
Responsável direta pela política externa americana enquanto
secretária de Estado, Hillary e sua família estenderam uma longa rota de
colaboração com governos estrangeiros, em um caso ainda pouco explicado. O que
leva ditaduras do golfo pérsico a doar recursos para a fundação de um
ex-presidente americano e sua esposa é o que casos como o vazamento de e-mails
de Doug Band ajudam a explicar. O que faz com que alguns dos regimes mais
repressores do mundo, especialmente em relação às mulheres, doem dinheiro a uma
fundação que alega agir em defesa dos direitos individuais, especialmente de mulheres?
Como uma série de e-mails do Departamento de Estado
Americano mostram, Hillary teria se encontrado para reuniões com o príncipe do
Bahrein, outro grande doador da fundação, e após o encontro, garantido apoio
para que os Estados Unidos ampliassem as autorizações de exportação de
armamentos para o país. Somados aos mais de 33 mil e-mails trocados por Hillary
em um provedor privado, e posteriormente deletados, este caso traz à luz parte
das entranhas do poder em Washington.
Warlord Hillary Clinton
Sob o comando de Hillary Clinton, o Departamento de Estado
americano autorizou vendas de armamentos no valor de US$ 165 bilhões a cerca de
20 países doadores da Fundação Clinton.
No mesmo período, o Pentágono autorizou ainda acordos, no
valor de US$ 151 bilhões, com cerca de 16 países doadores da Fundação Clinton,
o que representa um aumento de 143% em relação ao mesmo período no governo
Bush. Na prática, doadores da Fundação Clinton tiveram autorizada a compra de
143% a mais em armamentos, contra 80% a mais em países não doadores. Incluindo
empresas e governos envolvidos apenas nas negociações de vendas de armamentos,
a Fundação Clinton recebeu entre US$ 54 milhões e US$ 141 milhões.
As relações da Arábia Saudita, porém, tornam-se um pouco
mais extensas quando levamos em consideração alguns dos principais responsáveis
pela campanha de Hillary – como seu secretário, John Podesta.
John e seu irmão Tony Podesta são dirigentes do The Podesta
Group, uma organização prestadora de serviços de relações públicas que tem como
cliente a própria Arábia Saudita, que paga US$ 200 mil mensais pelo serviço.
Apesar de receber recursos destes países, Hillary não deixa
de afirmar abertamente que a Arábia Saudita e o Qatar têm, de forma bastante
direta, colaborado para financiar o terrorismo – em especial o Estado Islâmico
(ISIS). Nas palavras de Hillary:
“Enquanto esta operação militar/paramilitar segue adiante,
precisamos usar nossos recursos diplomáticos e de inteligência mais
tradicionais para pressionar os governos do Qatar e da Arábia Saudita, que
fornecem apoio financeiro e logístico clandestinamente ao ISIS e outros grupos
sunitas radicais na região.”
As relações do casal Clinton com países pouco conhecidos
pelo respeito aos direitos humanos, no entanto, não se limitam ao Oriente
Médio. No continente africano, por exemplo, a Fundação Clinton presenteou o
presidente de Ruanda, Paul Kagame, com o prêmio Clinton Global Citizen Award,
para indivíduos que se destacam na promoção de valores de liderança. Como
aponta o jornal The New York Times, Kagame é de fato acusado de inúmeros crimes
de guerra, além de ser responsável por recrutar crianças para seu exército.
O caso do Haiti
A atuação global do casal Clinton é extensa e ao longo de
quinze anos tornou-se repleta de casos notórios, como no terremoto que atingiu
o Haiti. Na ocasião, Bill foi escalado para representar os Estados Unidos em um
mega esquema de reconstrução e ajuda ao país. Sob o pretexto de apoiar a
reconstrução, foram concedidos bilhões em contratos entre o governo americano e
grandes empresas.
Companhias como a Wal-Mart receberam vultuosos benefícios
fiscais para construir um parque industrial no norte do país (a despeito de o
terremoto ter devastado a parte sul) e, com isso, produzir bens mais baratos
para serem diretamente exportados aos Estados Unidos. Contratos de construção
de moradias foram concedidos a empreiteiras americanas e aproximadamente US$ 90
milhões pagos para construir cerca de 2,6 mil residências em um contrato
original que previa 15 mil residências por US$ 53 milhões.
Outro doador frequente da Fundação, a companhia Digicel, que
doou entre US$ 5 e US$ 10 milhões, contratou Bill Clinton para palestrar na
Jamaica – apenas quatro dias depois, ela entraria em uma licitação do governo
americano para ser a responsável por operar um sistema de transferência de recursos
entre celulares.
Na mesma leva de contratos para apoiar o desenvolvimento do
país, a companhia mineradora VCS conseguiu um dos dois únicos contratos de
mineração de ouro emitidos nos últimos cinquenta anos no Haiti. O conselho
administrativo da companhia conta com a presença de Tony Rodham. Não ligou o
nome ao sobrenome? Tony tem uma irmã famosa: Hillary Rodham Clinton, que, no
auge de tantos escândalos, tem [tinha] tudo para ser a presidente mais corrupta
já eleita nos Estados Unidos.
Fonte fidedigna, a Rússia, onde a liberdade de informações é exemplo para o mundo. Sem dúvida, a única maneira de saber sobre as doações que a Fundação Clinton recebeu, é através desse herói, Edward Snowden, uma vez que a Fundação não dever ter contabilidade, assim como os bancos e governos que fizeram as doações também não tem.
ResponderExcluirEu não sou um gênio da informática, não sei invadir os computadores do Partido Democrata, mas se soubesse, invadiria também o os computadores do Partido Republicano e divulgaria informações sobre os dois, e não apenas daquele que interessa aos russos.
Mas o governo russo é muito bem intencionado, como mostra o vídeo onde o mentor intelectual da política russa ensina seu projeto aos universitários de Moscou:
https://www.youtube.com/watch?v=PUi24J5MtMM