José Casado
Foi numa quarta-feira de fevereiro, véspera do carnaval de
2010. Em Brasília, seis ministros se reuniram para referendar uma “decisão de Estado”
tomada no Palácio do Planalto. Em pouco mais de meia hora, aprovaram um socorro
de US$ 4,9 bilhões a Cuba, o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto do país
na época.
Foi uma das maiores operações de “apoio financeiro” a
governo estrangeiro com subsídios do Tesouro brasileiro. Da memória desse
crédito, restou apenas a ata (Camex/LXX) assinada por ministros do Itamaraty,
Planejamento, Indústria e Comércio, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e um
representante da Fazenda.
Não existe registro de qualquer fato que motivasse, nem
sequer uma justificativa jurídica dessa “decisão de Estado” — concluíram
técnicos do Tribunal de Contas da União depois de vasculhar a papelada de seis
organismos governamentais envolvidos.
Há outras 140 operações de crédito externo similares, entre
2003 e 2015, em benefício dos governos de Venezuela, Angola, Moçambique,
Bolívia e Guiné Equatorial, entre outros. Seguiu-se um padrão: critérios bancários
foram manipulados, para “adequar” a capacidade de pagamento dos governos
beneficiários; financiamentos concedidos “sem prévios estudos técnicos”, ou
quaisquer justificativas jurídicas.
Sempre havia uma empreiteira brasileira interessada, quase
sempre a Odebrecht, que na semana passada recebeu proteção judicial contra a
cobrança de US$ 26 bilhões em dívidas não pagas — um dos maiores calotes
domésticos.
Foram 12 anos de vale-tudo, como ocorreu com os US$ 800
milhões para o Porto de Mariel, em Cuba, erguido pela Odebrecht. O crédito
subsidiado brasileiro teve prazo de 25 anos, o dobro do permitido. O governo de
Cuba apresentou uma única garantia: papéis (recebíveis) da indústria local de
tabaco depositados num banco estatal cubano.
O Brasil deu US$ 4,9 bilhões a Cuba. Financiou até um porto
no Caribe e aceitou em caução o caixa da venda de charutos. Acabou sem o
dinheiro e sem os “Cohiba Espléndido”, “Montecristo Nº 2”, “Partagás 8-9-8”...
Pobre Brasil, nas mãos de facínoras...
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