Não é por eu ser de direita que vou deixar
de classificar Jair Messias Bolsonaro como um rematado idiota, um ignorantão
oportunista, demagogo e boquirroto que só serve mesmo para ser motivo de
chacota da esquerda, que, por sua burrice congênita, não perde tempo em associar
quem lhe faz oposição a essa triste figura.
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), 61,
promete nomear militares para metade de seu ministério se eleito presidente.
Ele atribui seu desempenho –tem 9% das intenções de voto no Datafolha à defesa da violência como meio para
combater a violência.
Bolsonaro conversou com a Folha em seu gabinete na Câmara na terça e
por telefone na sexta. Disse que nem imprensa nem Supremo “vão me falar o que é
limite”.
Ele determinou que um assessor filmasse a
entrevista para evitar “deturpações”.
Sua candidatura nem sempre é levada a
sério. Qual sua expectativa para 2018?
Quando vou para qualquer capital de
Estado, tem no mínimo mil pessoas me esperando. Tenho bandeiras que um
presidente pode levar avante e o povo está gostando.
Quem sou eu na política perto de Serra, Aécio, Alckmin, Marina, Ciro? Ninguém.
Sou um deputado que vocês chamam de baixo clero. Só que não sou uma coisa antes
das eleições e outra depois.
Quais setores o apoiam?
Tenho simpatia enorme das Forças Armadas e
auxiliares, do público evangélico.
Parte da comunidade judaica o apoia e parte diz que suas ideias fomentam
neonazismo.
Só na cabeça de vocês. Onde tem uma frase
minha, um gesto meu, um “heil, Hitler”?
O senhor diz que não defende tortura, mas
acusa de vitimização quem a condena.
Quando disse “isso que dá torturar e não
matar”, foi uma resposta para os vagabundos aqui que estavam se vitimizando que
foram torturados pelos militares. Ninguém é favorável à tortura.
E a métodos de violência para obter
informação?
Tem de ter métodos enérgicos. Eu proponho,
o Congresso aprova. Ninguém é candidato para ser ditador.
O que é método enérgico?
Tratar o elemento com a devida energia.
Bater?
Qual o limite entre bater e tratar com
energia? Não tem limite, pô. O cara senta ali, faz a pergunta, ele responde. Se
não responde, bota na solitária. Fica uma semana, duas semanas, três meses,
quatro meses... Problema dele.
Com comida?
Dá comidinha para ele, dá. Dá um negocinho
para ele tomar lá, um pãozinho, uma água gelada, um brochante na Coca-Cola, tá
tranquilo.
O que é brochante?
Calmante, um “boa-noite, Cinderela”.
Acha construtivo adotar um discurso
violento?
Você não combate violência com amor,
combate com porrada, pô. Se bandido tem pistola, [a gente] tem que ter fuzil.
O sr. não teme ser punido?
Por que seria? Eu tenho imunidade para
quê? Sou civil e penalmente inimputável por qualquer palavra. Posso falar o que
bem entender, isso é democracia. Já dei soco em alguém, dei tiro, dei coice?
Mas é réu por incitação ao crime de
estupro e injúria.
Não vou discutir. Não é a imprensa nem o
Supremo que vão falar o que é limite pra mim. Vão catar coquinho, não vou
arredar em nada, não me arrependo de nada que falei.
O senhor é a favor que militares assumam
postos como, por exemplo, no Congresso?
Pelo voto, pode assumir qualquer coisa. E
tenho certeza que a gente vai botar muito militar aqui dentro em 2018.
O senhor já disse ser favorável a fechar o
Congresso. Mudou?
Eu demonstrei uma indignação popular. Se
você perguntar para o povo, ele diz que tem de fechar o Congresso e tocar fogo.
Eu não vou pregar fechar o Congresso nunca. Mas vocês têm que ajudar a mudar
isso aí [a qualidade do Legislativo].
O sr. disse que fuzilaria FHC.
Falei pela forma como ele privatizou a
Vale do Rio Doce. Lembrei-me do pai dele, quando passamos do Império para a
República, quando perguntaram [o que ocorreria] se a família real não fosse
embora, ele falou “fuzila a família real”. [O avô de FHC teria dito isso.]
Está valendo?
Não. São metáforas, formas de expressão.
O sr. o admira?
Ele [FHC] está para ganhar o título de
princesa Isabel da maconha, porque quer liberar as drogas no Brasil.
E Lula?
Pelo amor de Deus, não vou nem responder
[risos].
Como avalia o governo Temer na economia?
A âncora da inflação é a perda de poder
aquisitivo, não tem mérito do governo. A legislação trabalhista é completamente
madrasta para quem quer empregar. Segundo os empresários, não segundo
Bolsonaro, o trabalhador vai ter de decidir: menos direitos e emprego ou todos
os direitos e desemprego.
Por que é contra a reforma da Previdência?
Completamente contra. É um remendo de aço
numa calça podre. Está muito forte a proposta dele.
É a favor da exclusão dos militares da
reforma?
A carreira militar tem tanto privilégio
que nenhum deputado tem filho militar.
O senhor tem três filhos no Legislativo.
Não tem nada a ver. Eles viram que o pai
sofreu, trabalhava 80 horas por semana [no Exército], com salário lá embaixo.
Não queriam essa vida.
E vida de deputado é boa?
É o céu e o inferno. Se bem que vai virar
inferno na semana que vem, quando o nome do pessoal vem à tona [na lista de
pedidos de inquéritos do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base em delações da Lava
Jato].
Nas Forças Armadas, não teria de ter
reforma previdenciária?
Se nos colocarem os mesmos direitos
trabalhistas, vão ver as Forças Armadas em greve, é isso que vocês querem? Não
estou pedindo hora extra, só reconhecimento. Na hora da dor de barriga,
lembram-se da gente. É Olimpíada, Copa, o problema no Espírito Santo.
E na política, como vê o governo Temer?
Está fazendo tudo para se manter vivo, só
isso. Não vou ajudar a desestabilizar, mas não votar tudo o que ele quer. Meu
voto não é comprado.
O que acha de Temer ter auxiliares
envolvidos na Lava Jato ?
Se eu chegar lá um dia, vou botar
militares em metade dos ministérios, gente igual a mim. Ele está botando gente
igual a ele. Quer que eu continue? Acho que não precisa.
Na outra metade do ministério, colocaria
mulheres, gays?
Eu não vou perguntar, não vou ter cota de
lésbica.
Se for uma pessoa publicamente gay?
Se ela for competente, vai ocupar a
função, se eu convidar e se ela topar, né... Agora, você não pode fazer da sua
opção sexual carteira de trabalho. Você vê a Eleonora Menicucci. Declarou que
faz sexo com homens e mulheres e seu grande orgulho é a filha gay. A Dilma a
escolheu para secretária de Política para as Mulheres. Você acha que ela
representa a minha mãe, dona Olinda, de 89 anos?
Se tivesse alguém que falasse isso que
achasse competente, o senhor nomearia?
Não, não, não. Vocês estão desgastando os
valores familiares. Daqui a pouco vai virar uma anarquia esse Brasil aí.
E isso não é homofobia?
Se eu sou deputado e te canto agora, você
vai se sentir bem? Não, né? Então, o trabalho nosso não tem nada a ver com
opção sexual. Você começa a falar por aí “eu sou lésbica” para ver se uma
mulher aí simpatiza contigo...
O sr. foi acusado de homofobia e racismo
várias vezes.
Sou acusado de tudo, só não de corrupto.
Viu algum deputado devolver dinheiro que recebeu de empresário para campanha?
Só eu.
O sr. tem um braço direito?
Tenho amigos. Ontem [segunda] almocei com
gente do sistema financeiro. Não vou falar quem. Já tive reuniões com variados
setores que mexem com bilhões em SP.
O empresariado não quer mais curtir férias na Flórida. Quer ficar no Brasil.
Como podemos ajudar a resolver a violência? Não vai ser com política de
direitos humanos.
Uma das medidas que o senhor defende é o
armamento.
Foram fazer um escracho na minha casa e
ameaçaram entrar. Eu falei: “Se entrarem, não sairão”. Agora o Ministério
Público quer saber o que é “não sairão”. É atirar neles. Não, “não sairão” é
dar cafezinho, água gelada.
Tenho três armas e muito cartucho. Ia embalar e dar balinha para chupar. Entra
na minha casa, estupra minha mulher, fode a minha filha, e eu tenho que bater
palmas para liberdade de expressão?
Por isso que essa porra desse país está nessa merda aí. E por isso que o
pessoal gosta de mim. Eu não estou maluco! E vocês, né, de esquerda, jornalista
de esquerda está cheio, né? Vocês estão cavando a própria sepultura.