Karl, Grouxo e Ivan |
Um procurador chamado
Marx “inocenta” Dilma, mas agrava as penas dela
Carlos Newton
Os sites da grande mídia divulgam com estardalhaço um
instigante parecer do procurador da República Ivan Cláudio Marx, apresentado em
inquérito aberto para apurar as pedaladas fiscais. Na semana passada, Marx já
havia decidido arquivar parte das investigações, referentes à “pedalada” com o
BNDES, mas nesta quinta-feira ele se empolgou e propôs logo o arquivamento de
todo o inquérito, com base em argumentos altamente contraditórios e polêmicos.
O parecer do procurador, que é da nova geração do Ministério
Público, vem dar seguimento à curiosa perícia recentemente executada por três
técnicos do Senado, que levantaram a escalafobética tese de que a presidente
Dilma Rousseff não poderia levar a culpa das “pedaladas”, simplesmente porque
não assinara nenhum documento oficial autorizando a maquiagem das contas.
Repetindo: esses peritos concluíram que houve “pedaladas”,
mas Dilma não poderia ser incriminada, pois não existiu autorização por
escrito, vejam o grau de criatividade burocrática desses diligentes servidores
subordinados ao senador Renan Calheiros. Certamente, esperavam encontrar um
decreto que tivesse instituído a maquiagem das contas públicas…
Agora, surge o procurador Ivan Cláudio Marx, que envereda
pelo mesmo caminho tortuoso e também utiliza argumentos jurídico-contábeis
verdadeiramente revolucionários, digamos assim.
A justificativa dele é de que não houve crime, porque o objetivo
das “pedaladas” era apenas a manipulação das contas fiscais: “Todos os atos
seguiram o único objetivo de maquiar as estatísticas fiscais, utilizando-se
para tanto do abuso do poder controlador por parte da União e do ‘drible’ nas
estatísticas do Banco Central“, disse candidamente Marx, no pedido de
arquivamento da gravíssima denúncia.
Para provar sua inovadora tese, o procurador argumentou que
não teria havido crime de responsabilidade, mas ato de improbidade
administrativa. Na prática jurídica, isso significa apenas trocar seis por meia
dúzia, até porque a pena a que Dilma estaria sujeita por improbidade é muito
mais grave do que o crime de responsabilidade, que só acarreta impeachment. Ou
seja, no afã de inocentar, o criativo Marx acabou complicando a situação de
Dilma.
Ao enquadrar a presidente Dilma na Lei Nº 8.429, de 2 de
junho de 1992, sobre Improbidade Administrativa, o distraído procurador não
percebeu que estava agravando as penas que podem ser aplicadas à chefe do
governo pelas pedaladas. O artigo 10, item IX, estabelece ser improbidade
“ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento”.
E o artigo 12, inciso III, determina que esse ato ilícito
deve ser punido com “ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda
da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos,
pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano (…)”.
Ou seja, antes de apresentar seu insólito parecer, o
procurador deveria ter feito a seguinte pergunta à presidente afastada Dilma
Rousseff: “Vossa Excelência prefere o impeachment ou essa pena mais grave por
improbidade?”
Acontece que o procurador Ivan Cláudio Marx não é nenhum
estranho ao PT. Pelo contrário. O ex-presidente Lula do Silva mostra confiar
totalmente nele. Como se sabe, o juiz Moro causa pavor a Lula, que
desesperadamente tenta escapar dele. Para colher depoimento do ex-presidente,
Moro já teve de autorizar “condução coercitiva”.
No entanto, em 15 de outubro de 2015, Lula tomou a
iniciativa de contatar o procurador Ivan Cláudio Marx e lhe prestou
voluntariamente depoimento acerca de um inquérito aberto pelo Ministério
Público do Distrito Federal para investigar as palestras e viagens do
ex-presidente ao exterior. Até agora, nenhum outro membro da Procuradoria da
República teve o privilégio de colher depoimento voluntário de Lula.
Embora jamais tenha sido marxista, o ex-presidente, que
recentemente se definiu como “neoliberal”, tomou a iniciativa de prestar essa
homenagem ao procurador Marx. É claro que isso ocorreu só mera coincidência.
Seria cômico se não fosse trágico. Hitler também não assinou nenhuma ordem escrita para assassinar judeus, inclusive, quando a imprensa internacional denunciou o assassinatos de judeus, Hitler fez um discurso inflamado dizendo que nada daquilo estava acontecendo e ordenando publicamente que nenhum judeu deveria ser assassinado. Nas 24 h seguintes, ocorreu o maior número de assassinatos de judeus de todos os tempos. Mais importante do que fazer o que o Hitler dizia, era saber o que Hitler desejava que fosse feito.
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