Supremo erra ao pedir que protestos contra Lewandowski sejam
proibidos
Carlos Newton na Tribuna da Internet
O repórter André Richter, da Agência Brasil, revela que a
Secretaria de Segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu nesta
quarta-feira que a Polícia Federal investigue os responsáveis pela confecção de
um boneco inflável que satirizou a imagem do presidente da corte, Ricardo
Lewandowski, em manifestação favorável ao impeachment, realizada no mês passado
na Avenida Paulista, em São Paulo. A justificativa do ofício, encaminhado à PF
pela Secretaria de Segurança, que é subordinada diretamente à presidência do
STF, chega a ser patética, ao informar que o ministro e o procurador-geral
Rodrigo Janot, que também foi alvo das manifestações, foram identificados
“pejorativamente como petralhas”.
O pior é que, segundo o Supremo, a conduta representou
“grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade” do
tribunal, vejam a que ponto chegamos.
“Configuram, ademais, intolerável atentado à honra do chefe
desse poder e, em consequência, à própria dignidade da Justiça brasileira,
extrapolando, em muito, a liberdade de expressão que o texto constitucional
garante a todos os cidadãos, quando mais não seja, por consubstanciarem, em
tese, incitação à prática de crimes e à insubordinação em face de duas das mais
altas autoridades do país”, acrescentou o ensandecido ofício, que parece ter
sido elaborado por algum adepto de regime ditatorial.
O excelente repórter André Ritcher, que já teve dezenas de
matérias transcritas aqui na Tribuna da Internet, revela que a Secretaria de
Segurança também pede ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, que
a corporação tome medidas para evitar novos constrangimentos ao presidente do
Supremo:
“Em face do exposto, solicito sejam tomadas, em caráter de
urgência, as medidas pertinentes para que os responsáveis por tais atos sejam
chamados à responsabilidade, pedindo que se envidem todos os esforços da
corporação no sentido de interromper a nefasta campanha difamatória contra o
chefe do Poder Judiciário, de maneira a que esses constrangimentos não mais se
repitam. Solicito ainda a atuação da PF no âmbito das redes sociais, em que o
endereço residencial do senhor presidente do STF foi amplamente divulgado”,
conclui o texto.
A solicitação do Supremo é ditatorial e, portanto, pouco
republicana. Lula e Dilma viraram bonecos infláveis e jamais protestaram contra
isso. Além do mais, já existe jurisprudência em tribunais superiores quanto à
privacidade dos homens públicos.
Esta jurisprudência foi firmada em processo movido contra o
jornalista Helio Fernandes pelo então ministro Ademar Gishi, do Tribunal de
Contas da União. Em memorável defesa, o jurista Fernando Orotavo Neto mostrou
que a privacidade de homens públicos é relativa, pelo simples fato de terem
carreira pública, portanto, sujeita a críticas da sociedade.
No caso de Lewandowski, o fato concreto, que
obrigatoriamente tem de ser considerado, é que a Justiça brasileira está
deixando a desejar. Neste contexto, como Lewandowski é hoje a maior autoridade
judicial do país, torna-se natural que sua imagem seja usada pela opinião
pública para protestar contra o desempenho do Poder Judiciário. Afinal,se o
Justiça funcionasse a contento, certamente não haveria críticas.
Nada de novo do front, é a gloriosa mentalidade predominante no Brasil, homens públicos só são públicos em seus direitos, nunca em seus deveres. Senão vejamos, artistas podem se manifestar sobre o que quiserem, mas o público não pode se manifestar sobre as posições dos artistas, o mesmo acontece com políticos, jornalistas e até com o Papa.
ResponderExcluir(argento) ... "Paradigama do Chicote" ...
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