Mário Sabino, ex-redator de Veja e hoje um dos três que
fazem “O Antagonista”, resolveu falar asneiras e pagou por isso. Barato mas
pagou.
Vou ver gente normal - 01
de Julho de 2016
Hoje embarco para Paris. A minha
Paris não tem nada a ver com a Paris dos ladrões que vão torrar o nosso
dinheiro por lá. Eu vou a Paris para ver gente normal.
Gente normal conversa sobre assuntos
que não sejam apenas dinheiro e compras; Gente normal lê livro; Gente normal
não vai a restaurante de boné, nem se veste como prostituta (a não ser que seja
prostituta); Gente normal mantém distância regulamentar de quem não conhece.
Não cutuca você ou o chama de “tio” ou “amigão”; Gente normal diz “por favor”,
“com licença” e “obrigado”; Gente normal respeita fila; Gente normal, ao
volante, dá seta quando vira à direita ou à esquerda (e a seta está sempre no
sentido certo); Gente normal freia o carro para deixar o pedestre atravessar na
faixa; Gente normal não padece com atrasos de ônibus e trens (e é informada dos
horários e itinerários nos pontos e estações); Gente normal nem sequer imagina
o que é ter esgoto a céu aberto; Gente normal não nada em cocô; Gente normal
está acostumada a ver ruas limpas; Gente normal não tem falta de luz toda
semana; Gente normal estranha fiação aérea; Gente normal não sabe o que é
buraco no asfalto; Gente normal não tropeça em buraco na calçada; Gente normal
não gosta de pagar imposto, mas tem filho em escola pública e não tem medo de
morrer de infecção em hospital público; Gente normal se habitua à beleza; Gente
normal dificilmente morre assassinada; Gente normal se escandaliza com assaltos;
Gente normal despreza corruptos e os coloca na cadeia e no ostracismo; Gente
normal não diz que terrorismo é justificável; Gente normal admira o que lhe é
superior e tenta fazer igual, sem achar que sofre de complexo de vira-lata; Gente
normal é uma conquista da civilização.
Paris é especial porque é normal.
Eu não suporto gente bosta metida a besta. Além de tudo,
vindo de quem vem, parece até que o cara bandeou-se para o “outro lado”, o lado
dos Chicos Merdas e dos Luíses Fernandos Falsíssimos.
Aí eu comentei lá no blog do Magu (Blog do Giulio
Sanmartini):
Aproveita e fica por lá!
Desde quando em Paris se diz
“por favor”, “com licença” e “obrigado”?
Desde quando “gente normal” por
lá não diz que terrorismo é justificável? Se dissesse não haveriam tantos
islâmicos.
Aliás, “gente normal” de lá se escandaliza com assaltos,
mas pode morrer a qualquer hora, vítima do terrorismo que uma grande parte
deles acham, sim, justificável.
“Gente normal” de lá se habitua
à beleza, mas eu não vi beleza nenhuma no fedor do Metrô às seis da tarde.
Se a “gente normal” de lá
despreza corruptos e os coloca na cadeia e no ostracismo, por que soltaram o
Sarcozy?
Vá lamber sabão, seu Mário! Fica
lá que eu fico aqui com a “gente anormal” que toma banho todo dia, é simpática,
não tem o rei na barriga e nem acha que faz cocô cheiroso – à exceção, é claro,
dos “intelequituais” do PT, que costumam ter o mesmo destino que você.
E não é que três dias depois o cara me sai com essa?
O dia em que o terror me pegou – 04 de Julho de 2016
No último sábado, fui com meu filho
de dez anos assistir ao jogo entre Itália e Alemanha, pela Eurocopa. (...) Absorto
no jogo, demorei alguns segundos para acreditar que centenas de pessoas se
atropelavam na nossa direção. Gelei. Só podia ser um atentado. Alcancei meu
filho, colei a minha mão na dele e corremos para longe. (...) Sem saber se nos
perseguiam, cruzávamos com militares que avançavam com metralhadoras. “Todos
para fora do perímetro! Todos para fora do perímetro!”, ordenavam. Só parei
quando os meus 54 anos começaram a ofegar, a quase um quilômetro do Campo de
Marte. Meu filho tremia, eu procurava ar, até que consegui perguntar a um
policial o que havia ocorrido. “Ainda não sabemos”, disse ele. (...) No dia
seguinte, divulgaram o que ocorrera: uma escaramuça entre alemães e italianos
foi confundida com um ataque terrorista. Cerca de trinta torcedores se
machucaram na correria.(...) O terror não me feriu, não feriu o meu filho, mas
me pegou e pegou o meu filho. É o que eles querem.
E que ele não diga que eu não avisei...
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