Um novo Carnaval - Ruy Castro
O Rio está habituado a apanhar, e dos seus filhos mais
queridos. Para Millôr Fernandes, a cidade teve o seu apogeu nos anos 60 e então
decaiu para sempre. Para Paulo Francis, o Rio morreu justamente em 1960, quando
a capital se mudou para Brasília. E, para Ivan Lessa, o Rio só foi bom até
1949, quando ele tinha 14 anos. Devia ter razão — não havia uma semana nos anos
50 sem uma reportagem da revista “Manchete” detonando a cidade. O incrível é
que, aos olhos de hoje, aqueles eram “os anos dourados”. E não só. Para Di
Cavalcanti, o Rio acabara nos anos 30, quando as pessoas começaram a ir morar
em Copacabana. Já para Lima Barreto, acabara muito antes, em 1903, quando
Pereira Passos demoliu a velha cidade colonial e fez uma nova, com ares de
Paris.
Aliás, mal a poeta francesa Jeanne Catulle-Mendès chamou o
Rio de “la ville merveilleuse”, em 1912, e já se começou a falar aqui da “ex-cidade
maravilhosa”. O pessoal é assim mesmo, adora reclamar. De volta a 2016 — nada
mudou. O Rio tem vivido dias luminosos e deslumbrantes, as ruas estão tomadas
de jovens de mochila, bermuda e bicicleta, a todo instante se inaugura uma obra
e, em breve, será preciso fazer reserva até nos quiosques e botequins.
O Rio pode produzir uma grande Olimpíada, mas, por enquanto,
só se ouvem os espíritos de porco, os profetas da derrota e os que, exercitando
o complexo de vira-lata, já decretaram o seu fracasso. Foi assim também às
vésperas da Rio-92, em 1992, da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e da
Copa do Mundo, em 2014. Até hoje há gringos por aqui que vieram para esses
eventos e nunca mais voltaram para casa. Sim, eu sei, o Estado do Rio está
falido, o Brasil, nem se fala, e o mundo em geral está um horror. A cidade do
Rio de Janeiro pede apenas licença para fazer de sua Olimpíada um novo
Carnaval.
Faltou dizer que quando o Brizola criou o sambódromo, disseram que o carnaval do Rio tinha acabado. Mas a situação atual é muito diferente das situações mencionadas no texto, o Rio de Janeiro precisa ser recuperado, reconstruído, assim como o Brasil inteiro.
ResponderExcluirLamentável mesmo é a situação do RS, que está quebrado e continua acreditando que sustenta o país.