Globo
Algumas páginas poderiam se desfazer em mãos descuidadas.
São documentos guardados a sete chaves há mais de um século. Embora esmaecidas,
as folhas mancham de tinta os dedos de quem as manuseia. “Aqui está a história
da nossa família”, diz Mônica de Souza Destro, de 44 anos, na sala de sua casa,
em Juiz de Fora. Ela tem muitas pastas empilhadas na sua frente, onde guarda
fragmentos de uma história tão esquecida quanto fascinante.
Revirar esses papéis é voltar ao tempo do tataravô de
Mônica, o mineiro Francisco Paulo de Almeida, um dos mais importantes barões do
café do segundo reinado. Titulado como Barão de Guaraciaba pela própria
princesa Isabel, acumulou um enorme patrimônio no Vale do Paraíba fluminense.
Suas fazendas estendiam-se pelos estados do Rio e também de Minas Gerais,
somando um vasto território estimado em 250 quilômetros quadrados - e uma
fortuna de quase 700 mil contos de réis, coisa de bilionário. Mas um detalhe
tornava o barão diferente dos outros nobres. Ele era negro em um país
escravocrata. Reinou em um mundo dominado por brancos.
- Foi um gênio das finanças. Seu patrimônio era colossal,
nem a queda do café o fez quebrar. As sedes de suas fazendas eram belíssimas,
ele vivia no extremo luxo. Tinha investimentos diversificados, aplicava em
ações, fundou bancos. Por isso se tornou um dos homens mais ricos de seu tempo -
afirma o historiador José Carlos Vasconcelos, especialista no passado do Vale
do Paraíba.
Mônica é a guardiã dos documentos históricos que reconstroem
a história do barão. Com a ajuda de Vasconcelos, ela está montando a árvore
genealógica de sua família. É um trabalho hercúleo. Em um software de
genealogia instalado em seu computador, já cadastrou 580 nomes de parentes. A
lista começa com os 15 filhos que o barão teve com a mulher, dona Brasília, e
chega até Marina, de 10 anos, caçula de Mônica. Quem começou a organizar o
arquivo da família foi seu avô, o engenheiro Antonio Augusto de Almeida e
Souza. Até os 98 anos, idade em que morreu, cuidou com esmero de todas as
fotos, inventários, testamentos e certidões de nascimento e óbito dos parentes.
Cada filho e neto do barão possui uma minibiografia, escrita à mão por seu
Antonio.
Mônica, uma legítima afrodescendente |
Embora fosse negro, o aristocrata estava longe de ser um
abolicionista. Quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, tinha cerca de 200
escravos na fazenda Veneza, em Conservatória, onde possuía mais de 400 mil pés
de café. Mesmo com a abolição, a maioria continuou trabalhando para o barão, e
alguns foram incluídos no testamento - caso de Isabelinha, que trabalhava na
sede da fazenda e ganhou, na divisão da herança, o mesmo valor em dinheiro que
os filhos homens: quase 2.000 contos de réis.
Para desenvolver a árvore genealógica da família, Mônica,
que trabalha como secretária em um consultório médico, foi atrás dos primos
mais distantes. Conheceu diversos parentes de quem nunca ouvira falar, vários
deles encontrados no Facebook - nem todos se interessaram em ajudá-la. Dos 13
filhos do barão, 12 casaram e aumentaram a família - a exceção é Serbelina, a
primogênita, que só viveu até os 2 anos. Com a morte do patriarca, em 1901, em
uma mansão no Catete - para onde se mudou após vender o Palácio Amarelo, em
Petrópolis, à Câmara dos Vereadores -, sua família se espalhou por cidades do
Rio e de Minas. A maioria dos descendentes não se parece mais nem de longe com
o barão. Alguns, como Mônica, têm olhos claros - as filhas de Guaraciaba se
casaram com portugueses, e os filhos, com mulheres brancas.
Familiares e historiadores acreditam que o barão tenha
começado a vida como ourives, especialista na confecção de abotoaduras de ouro.
Também ganhava dinheiro tocando violino em enterros. Mas foi ao tornar-se
tropeiro que ele teria lucrado o bastante para comprar sua primeira fazenda, em
meados do século XIX.
O que ainda não se sabe sobre o barão, a tataraneta Mônica
está tentando descobrir. Seu sonho é escrever um livro contando a saga do negro
que conquistou o império.
- O ramo da minha família é um dos que possuem menos
recursos. Mas a história está conosco. Para mim, é o que importa - afirma.
(argento) ... um interessante PDF sobre o Barão em:
ResponderExcluirhttp://encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1215291806_ARQUIVO_TEXTOREFEITOANPUH.pdf
(argento) ... registrado Ao Acaso (AKASHA?): uma "viagem" através da história do "Barão Negro", (re)construída, com fragmentos e viéses que deixo consignados no Blog, sem fazer comentários de valor, um registro, apenas um registro acidental ...
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=TEj0DdA__Fo
https://www.youtube.com/watch?v=5VXIw8oWrYQ&nohtml5=False
https://www.youtube.com/watch?v=7FZ3DE-Ckj0&nohtml5=False
https://www.youtube.com/watch?v=Me4qoeA6F-s&nohtml5=False
https://www.youtube.com/watch?v=yfhl4OoYKK0&nohtml5=False
Meu caro Ric
ResponderExcluirOuvires? Que cazzo de profissão é essa?
A pressa em datilografar é pfoda!
Em todo o caso, o trabalho da Mônica (afrodescendente é o cacete) é muito interessante. Um resgate honesto de um pedaço da História.
Porra, Magu, essa passou. Mas vai que o cara era ouvidor, ombudsman, sei lá.
ExcluirA culpa é do Globo, que não tem revisor decente!