terça-feira, 26 de abril de 2016

Braziu do PT bem representado no Parlasul: 14 parlamentares com vergonha na cara se retiram e deixam lá Wyllys, Benedita e Ságuas

Depois do que consideraram uma “retaliação para humilhar” a delegação brasileira que se encontra em Montevidéu para a sessão plenária do Parlasul, o parlamento do Mercosul, 14 dos 17 deputados e senadores brasileiros presentes boicotaram a solenidade que comemorou os 25 anos do bloco econômico, na manhã desta segunda-feira. Outros três deputados que compõem a delegação ainda não haviam chegado. No evento, foi realizado o seminário “Reflexões e desafios para o Mercosul 25 anos depois do Tratado de Assunção”.

No domingo, o presidente do Parlasul, o deputado argentino Jorge Taiana, alinhado com a ex-presidente Cristina Kirchner, publicou no site oficial do parlamento uma nota em que condena o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Para Taiana, o julgamento político é uma “situação escandalosa”: “Isto é um golpe parlamentar, é uma utilização forçada da lei de impeachment”, diz a nota, acrescentando que setores conservadores, de direita, do mundo financeiro e da mídia teriam como objetivo central impedir que Lula voltasse à presidência do Brasil em 2018.

Nesta segunda, ao chegar ao auditório onde aconteceria a solenidade, parlamentares brasileiros descobriram que os lugares reservados à delegação estavam localizados em uma das últimas fileiras, atrás de funcionários de segundo e terceiro escalão da chancelaria. Inconformado, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) tentou resolver, sem sucesso, a questão. Os brasileiros então tentaram manifestar o repúdio tanto pela nota do presidente do Parlasul, quanto pela localização dos assentos, mas a cerimônia não previa a colocação de questões de ordem. O deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) então se dirigiu à frente do auditório e, fora do microfone, declarou que a delegação brasileira iria se retirar da sala.

— Nós ficamos surpresos quando hoje vimos no site oficial do Parlasul uma declaração irresponsável do presidente em relação ao processo de impeachment que acontece no Brasil — disse o deputado. — A designação dos lugares foi uma consequência do que Taiana diz no site. Foi uma retaliação para humilhar a delegação brasileira.

Para o senador Roberto Requião, depois de colocar a delegação no fundo do auditório de 400 lugares, o próximo passo seria fazer com que os parlamentares brasileiros almoçassem na cozinha:

— Era deles a festa, então fomos embora. É o desprezo da chancelaria em relação à delegação brasileira.

Os brasileiros pretendem cobrar de Jorge Taiana que ele reconsidere as palavras “irresponsáveis” que fez em relação ao processo de impeachment durante a sessão plenária do Parlasul, que acontece na terça-feira pela manhã. A tarde desta segunda será reservada aos encontros das comissões especiais do parlamento.

Os três brasileiros que continuaram na solenidade são os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Benedita da Silva (PT-RJ) e Ságuas Moraes (PT-MT). Para o petista mato-grossense, tudo não passou de um grande mal-entendido.

O presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, ainda tentou interceder para que os parlamentares brasileiros não abandonassem o seminário. Em solidariedade, ele saiu de sua cadeira de honra e se sentou na mesma fileira onde ficaria a delegação brasileira, que, mesmo assim, debandou em massa. Para o deputado Ságuas Moraes, o ato foi precipitado:

— Faltou organização do cerimonial, sim, mas nada que justificasse a retirada — disse.

O deputado Jean Wyllys criticou a reação “exagerada” dos companheiros brasileiros, temendo que a atitude deixe uma imagem ruim da delegação.

— (O presidente Vásquez) deu um exemplo de humildade que os deputados que saíram não puderam ver. A atitude deles foi arrogante, sim, e muito constrangedora, numa reunião institucional extremamente importante de um bloco formado por países irmãos.

Ele ainda relatou que a Comissão de Direitos Humanos acatou a sugestão de aprofundar o entendimento sobre o que está acontecendo no Brasil, e que considera a possibilidade de visitar o país em maio. Os membros da comissão se declararam contra a qualquer movimento político que ameace a democracia e os direitos humanos em países do Mercosul.

— A verdade é que não só a comunidade política latino-americana, mas a sociedade uruguaia em particular estão curiosas e apreensivas com a situação da democracia brasileira — afirmou o deputado.

Na sexta-feira, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff declarou que pretende invocar a cláusula democrática do Mercosul, tal como aconteceu quando o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo foi afastado, em 2012. Se a cláusula for ativada, o Brasil pode até mesmo ser suspenso do bloco comercial, mas, para isso, seria necessário um consenso entre Uruguai, Paraguai, Argentina e Venezuela com relação ao rompimento da ordem democrática brasileira. Atualmente, a Venezuela seria o único país a defender a punição do Brasil caso a presidente seja afastada pelo Senado.


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