segunda-feira, 18 de abril de 2016

Escrupulosos, “ma non troppo”

Muita gente que apoiou o impeachment o fez com cara de nojo por causa de Eduardo Cunha. Estão reclamando de quê? Qual outro político teria colhões suficientes para sustentar essa guerra até o fim? Bolsonaro? Duvido! O coronel não serve nem para limpar as botas de Cunha quando os assuntos são experiência, matreirice, conhecimento, inteligência, preparo e sangue frio. Imaginem a reação de Bolsonaro sendo brindado com todos impropérios dirigidos a Cunha durante todo o processo.

Cunha se portou com a serenidade de um verdadeiro canalha de carteirinha, plenamente consciente que seu objetivo só seria conseguido se ele não reagisse às tergiversações acusatórias envolvendo sua coleção de delitos. Engoliu todos os sapos do brejo parlamentar e os digeriu sem demonstrar desconforto, ciente que estava sobre a sua situação na Justiça, que nada tinha a ver com o processo de impeachment, sem, em nenhum momento, ter perdido tempo em responder às provocações vindas da tropa de choque da Dilma, que tinham o nítido intuito de retardar o processo.

Ninguém além de Cunha suportaria tamanha carga.

Eu, crítico de Cunha desde priscas eras, quando ele nem sonhava em ser presidente da Câmara, sou obrigado a confessar que, nesse caso, o teólogo jesuíta Hermann Busenbaum, em sua obra Medulla Theologiae Moralis, de 1645 está absolutamente certo ao afirmar que “cum finis est licitus, etiam media sunt licita” (quando o fim é lícito, também os meios são lícitos).

Além disso, se Cunha ainda não foi cassado, preso ou ambos, ele está tão habilitado quanto qualquer dos 273 deputados federais citados na Justiça e nos Tribunais de Contas (53,2% do total), que votaram ontem. Não há como invalidar ou mesmo desmerecer a importância do processo de impeachment se é esse tipo de gente que dispomos para o momento. Não tem tu, vai tu mesmo.

Se muitos estão mesmo preocupados, cheios de escrúpulos e com medo que a situação se repita, que tomem vergonha na cara e cuidem de tratar seus votos como bens preciosos e inalienáveis, começando por outubro agora, quando elegeremos prefeitos e vereadores, aproveitando, cada um, o embalo desse fabuloso despertar político.


2 comentários:

  1. (argento) ... diz a lenda que, só a Creonte, o barqueiro, é permitida a tarefa de navegar, no mundo inferior, sobre o "Tigre e o Eufrates", ... ao Hades ...

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  2. Falando em Jair Bolsonaro, ele se filiou ao PSC (Partido Social Cristão), ele virou socialista ou o "social" do partido não significa socialista?

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