Tem neguinho que, depois da imbecilidade de Bolsonaro,
resolveu ressuscitar a viagem na maionese. Vejam só o comentário desse cara em
um site onde eu costumo dar palpites, que, parece que viveu em outro país
diferente do que eu vivi ou então era um terrorista perigoso e frequentador
assíduo de “aparelhos”:
Vários amigos e conhecidos, defendem
o regime militar, vigente no Brasil de 1964 a 1985, com o seguinte argumento:
“Não tive qualquer problema nesse
período, vivi muito bem, obrigado. Nunca fui incomodado pelos militares, nunca
apanhei, nunca fui preso.”
Eu diria que era muito fácil não ter
problemas com a ditadura. Bastava que você fosse bem comportado e rezasse pela
cartilha dos donos do poder.
Ou seja:
Nada de reclamar publicamente do
governo; nada de ter em casa livros subversivos; nada de andar com gente contra
a Redentora; nada de querer saber se o seu parente preso estava vivo ou morto;
nada de pedir democracia; nada de ficar querendo assistir filmes censurados;
nada de exigir os seus direitos individuais; nada de querer votar para
presidente; nada de falar mal dos militares; nada de discussões políticas em
grupos; nada de pensar muito e querer sair por aí dando palpites na
administração do seu país; e nada, nada mesmo, de não aceitar a ordem de um
militar de qualquer patente.
Tudo isso valia para todos, mesmo
aqueles que não se consideravam "de esquerda", não aprovavam o
terrorismo dos subversivos e eram trabalhadores honestos, pagadores de
impostos.
Viram? Ah, saudades daqueles
tempos...
Sinceramente, tirando o fato de não poder votar - que é
grave, reconheço - eu não vi nada disso. E escrevi lá:
Vivi a sob a ditadura militar dos 12 aos 35 anos e, durante
esse tempo, sempre andei com gente de ambos os lados. Algumas vezes, não pelas
companhias, me vi em situações complicadas, como no dia que Jarbas Passarinho
foi ao Fundão (UFRJ) quando levei uma corrida dos PMs simplesmente por estar mais
ou menos perto do pessoal que apedrejou as vidraças do auditório onde o então ministro
da Educação fazia uma palestra - me escondi em um banheiro. Outra vez, ainda no
científico, eu estava fazendo uma pesquisa na biblioteca da Escola de Química,
na Urca, quando chegaram dois caminhões de PMs e começaram a distribuir
pauladas em todo mundo. Tive que fugir - junto com a bibliotecária que já sabia
o caminho das pedras - pulando muros e atravessando prédios em construção até
chegar no Pinel, que ficava perto, quando, por sorte, não fomos confundidos com
os internos, e saímos. Fui parado com um amigo por PMs na Vieira Souto quando
dirigia um carro de corrida - um Mini Cooper preparadíssimo e barulhento - porque
um general imbecil que tinha emparelhado comigo em um sinal denunciou “dois maconheiros”,
o que foi explicado pelos PMs depois que fomos liberados, não sem antes nos
submeterem ao vexame de arriarem nossas calças e cuecas em plena rua em busca de
uma erva que não existia. Isso tudo fora as incontáveis “blitzes” em que fui
parado e revistado.
Apesar disso tudo, em 1972, comprei tranquilamente, em uma
feira de livros na praça Nossa Senhora da Paz, “O Capital”, de Karl Marx, e
tenho o livro até hoje. Apesar disso, eu caminhava tranquilamente na calçada da
praia às duas da manhã. Apesar disso, às sextas e sábados, depois de deixar a
namorada em casa, eu ficava batendo papo com a minha turma na praça General
Osório até o sol nascer, sem que aparecesse um vagabundo sequer. Apesar disso,
eu consegui ganhar algum dinheiro com o meu trabalho e com meus negócios.
Falar mal de milicos, como não? Ninguém deixou de sacanear Castelo
Branco, que, dizem, ganhou uma gravata de presente do De Gaulle mas não pode
usar; não houve presidente mais esculachado publicamente que Costa e Silva por
sua suposta burrice; não havia roda de conversa em botecos que não se falasse
da truculência do Médici e, com Geisel e Figueiredo, o escracho foi completo.
Essa viagem na maionese ressuscitada me faz lembrar um judeu
que pesquisava as vítimas do Holocausto e chegou à conclusão que, segundo os
dados “oficiais”, morreu mais gente do que efetivamente constava ser a
população judaica na época - e é bom que eu esclareça antes que matildes venham
com ideias de jerico em tempos do politicamente correto, que não sou
antissemita e tenho grande admiração pelo povo de Israel.
Enfim, é isso. Revisionismo histórico com predisposição é
dose!
Devo admitir que existem pessoas que, para justificar uma ditadura de direita, argumentam esse "vivi muito bem no período dos militares", mas para essas pessoas basta dizer que, em Cuba, URSS e Alemanha Nazista, também teve muitas pessoas que "viveram muito bem".
ResponderExcluirO problema é exatamente isso que o Ricardo chamou de Revisionismo histórico, que apresenta uma dissertativa da história em vez de mostrar o retrato da história.
Houve um comentário sobre o meu, Milton, onde falaram que eu me ative apenas à segurança. Respondi:
ExcluirEu não me ative só ao aspecto da segurança. Não sou leviano a ponto de afirmar que era tudo uma maravilha e nem quero, por mais benefícios que eu tenha tido, nem pensar na volta de militares ao poder, entre outros motivos, principalmente porque o povo ficou sem participar, e o reflexo disso foi a indigestão de democracia que acabou resultando na infeliz realidade de hoje. Eu apenas critico esse tipo de, digamos, mágoa, que interfere nos julgamentos e deturpa a História, que deve ser pesquisada e investigada, mas nunca interpretada por quem quer que seja.