sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Um estudo sobre Jean Wyllys

por Diário da Corte Oficial em 20 de novembro de 2014

Por: Lorenzo Dumas (crônica de um encontro fictício com Jean Wyllys)

Ornado por um terno preto de corte justo, com os cabelos desgrenhados tombados em um rosto seduzido pelo desleixo de uma barba por fazer, Jean Wyllys surge à distância e se põe a caminho do Congresso Nacional sob o rangido dos seus sapatos de couro custeados pelo dinheiro público. Os olhos fatigados de quem luta contra si mais do que contra os outros se perdem no horizonte solitário que o tempo pincelou de cinza. A gravata rosa, enroscada em seu pescoço como uma naja indiana, verte a exuberância simbólica de sua cor camisa abaixo, enquanto o resplendor de um arco íris em miniatura pendura-se como distintivo na altura do coração.

À medida que progride, a passada leve desenha o seu caminhar ágil, fazendo os cabelos hollywoodianos recém alisados sacudirem cinematograficamente. Ao que parece, nem a moda cubana, nem a norte-coreana são agraciadas a ponto de compor o vestuário do deputado socialista, que elege, sensatamente, as tendências americanas como o molde de sua aparência. Mas sensatez em um cínico não passa de hipocrisia. Jean Wyllys, que hoje se parece mais com o personagem Jon Snow do seriado ”imperialista” Game of Thrones, já foi visto travestido de Che Guevara em determinada ocasião, com direito a boina com broche de arco íris, no entanto, presumo que tal acontecimento tenha se dado mais por fetiche de quem ele considera um macho alfa de coturno do que por apego propriamente dito às novidades da indústria fashion cubana.

Os socialistas amam a tal ponto a América que querem fazer do capitalismo um clube, cujas benesses somente eles podem usufruir às custas dos outros. A isso denomina-se comunismo. O socialismo “progressista” do vencedor do Big Brother Brasil 5, expressão máxima da cultura de massa e do capitalismo, assim como o socialismo “revolucionário” de Che Guevara, que ao ser capturado na selva ostentava um Rolex de ouro em seu punho esquerdo, é como o canto sedutor das sereias gregas que atraíam os marinheiros para a sua própria morte. Na lenda, Odisseu amarra o seu corpo no mastro da embarcação para não se deixar seduzir pelo canto. Hoje, devemos nos amarrar no mastro incólume da história, norteados pelos ventos da razão, para concluirmos que todo socialista é, no mínimo, um mal informado. Os devaneios me assaltam e as palavras, essas que me acodem contra o punhal dos progressistas revolucionários, me escapam.

Mas eu paro, respiro e reparo que a leveza de cada passo de Wyllys não impede que a erudição dos seus óculos Ray-Ban, de armação fina, estremeça. O eixo das lentes enviesa, mas é logo corrigido pelo gesto intelectual onde a ponta de um dos dedos vem de encontro ao centro dos óculos. A performance termina com as mãos acariciando a gravata, para que alinhada fique esta faminta serpente rosa, estreita e longa, que rasteja de um lado para o outro na iminência do bote peçonhento que homofobiza até mesmo Clodovil Hernandes, em meio ao elegante, embora demasiadamente curto, peitoral do ex-BBB.

Jean Wyllys é conduzido pelo vento seco da cidade inventada por Juscelino Kubitscheck e à sua frente, ao invés da majestade de um tapete vermelho, estende-se uma interminável lista de contradições infames por onde o decoro do parlamentar chafurda. Como um defensor dos direitos humanos pode ser devoto de Che Guevara e da Revolução Cubana que perseguiu, prendeu e executou milhares de homens, mulheres, crianças e homossexuais? Como um indivíduo que bebe Coca-Cola, participa do Big Brother Brasil, fatura R$1.000.000,00 e não doa um centavo sequer, pode ter o desvario ideológico de se auto-intitular socialista-progressista? Como é possível conceder apoio à Luciana Genro, esta que sobe em palanques venezuelanos para lamber as botas de Fidel Castro e Hugo Chávez, sem ser cúmplice do mal que acomete a vida dos nossos vizinhos sul-americanos? Como um bastião da tolerância, um baluarte indelével da igualdade como Jean Wyllys pode chamar de “negro gordo e burro” um semelhante, somente por este ter discordado de uma de suas considerações?

E a Igreja Católica que possibilitou o primeiro emprego de Wyllys como menor aprendiz na Caixa-Econômica, seria esta então uma fábrica de estelionatários e predadores sexuais como declarou o deputado? A exceção vale como regra quando és tu o inquisidor, eminente senhor? E quando és tu o oprimido, não te sentes mal por ser diminuído pela ignorância implacável? Perdes tanto tempo escondendo as suas limitações por trás de um diploma de mestrado, se definindo como um intelectual progressista, quando bastaria um pouco de honra e sabedoria de vida para não lançar no próximo a mesma pedra que não desejas receber em seu telhado.

Jean caminha e dos seus bolsos escapole uma infinidade de recibos ressarcidos pelo dinheiro público que parece não satisfazer as suas necessidades pouco franciscanas. Que tipo de obscenidade intelectual leva um homem público que recebe R$26.723,13 a reclamar do seu salário como fez em entrevista recente a Marcelo Tas? Além do salário, há a verba indenizatória que somada ao auxílio moradia e ao ressarcimento ilimitado de despesas médicas, faz com que o custo anual médio de um deputado seja de R$140.629,09. Confesso que Wyllys é, neste aspecto, um deputado acima da média: neste ano já gastou R$183.000,00 da verba indenizatória em aluguel de automóveis, gasolina aditivada, viagens de avião para terceiros, marketing pessoal, aluguel de máquina de café expresso (os socialistas não bebem o café coado oferecido pela Câmara) e refeições em restaurantes de luxo.  R$ 43.000,00 a mais do que a média dos deputados. E para não negar ao parlamentar a mesma tolerância que ele finge pregar, se R$150,00 na churrascaria Cruzeiro do Sul e R$202,62 em um restaurante à beira-mar em Niterói não se caracterizem como despesas de luxo, então peço que as desconsidere, mas não sem lembrar que milhares de famílias brasileiras sobrevivem com muito menos do que a quantia gasta pelo parlamentar em uma reles refeição; não sem lembrar que são essas famílias, assim como todas as outras deste país, que custeiam os caprichos desses verdugos medíocres da ética.   

Enquanto me perco novamente em devaneios, Jean passa por mim e adentra o Congresso Nacional com a despretensão de quem desfila; com a serpente rosa que desliza no peito e a todos intimida; com a empáfia disfarçada de quem tudo finge saber; de quem cobiça somente o poder. E os recibos da impostura, assim como as demais falcatruas, deixam uma senda de descaso para o brasileiro ver. Em verdade, Jean Wyllys não caminha: submerge. Submerge em um oceano de incoerências em busca da superfície, sem se dar conta de que o ar puro está na direção contrária.

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Um comentário:

  1. A natureza não precisa de nós,nós é que precisamos dela.
    Ela precisa agir e rapidamente.

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