Ontem eu dei uma saída de casa para ser mais uma vez
assaltado pelos comerciantes de Ipanema ao comprar um utensílio doméstico - após
seis meses, o refil do dito cujo me custou mais caro que a coisa toda. Normal,
mas o papo não é esse.
Ao parar para atravessar a rua, na esquina de Montenegro (me
recuso a chamar a rua de Vinicius de Morais) com Visconde de Pirajá, me aparece
um rapazola oferecendo uma espécie de jornaleco onde se lia em letras garrafais
“Intervenção Comunista”. Curioso, perguntei do que se tratava e o garoto
informou que era “comunismo”, assim mesmo, na lata. Ato contínuo, fui logo pegando um da
mão dele sem perguntar, no que ele me interpelou dizendo que se eu quisesse o
pasquim tinha que dar uma colaboração para a “campanha”. Larguei imediatamente,
já com um discurso pronto para sacanear, mas desisti. Eu ia perder meu tempo
fazendo piada para uma plateia de três projetos de comunistas - haviam mais
duas meninas fazendo o mesmo - de cérebros recém-lavados e blindados.
Enfim, não “colaborei”. Tinha graça.
Então me afastei um pouco e parei por uns minutos, só para
ver a reação das pessoas a quem eram oferecidos os jornalecos. Senhoras idosas,
apressavam o passo, sendo que algumas até se benziam; casais jovens saíam
rindo; gente mais humilde fazia cara feia e o pessoal que ia e voltava da
praia, caía na gargalhada.
Segui meu rumo, fui à tal loja que me “assaltou” e, na volta,
ao passar de novo pela “cena do crime”, dei de cara com um conhecido meu, já de mão no
bolso, prestes a colaborar, em altos papos com o rapazola comunista. Ao me ver, esse conhecido, até
então sorridente, mudou o semblante para desconfiado, abaixando a cabeça e me
espiando de rabo de olho. Ao notar que eu estava indo em direção a ele - eu não
ia nem cumprimentá-lo, era o meu caminho -, desconversou com o comunistinha,
virou as costas e o deixou falando sozinho.
Para falar a verdade, eu nem sei qual é a opção política
desse conhecido, com quem raramente encontro e mais raramente ainda troco mais
de cinco palavras, por isso não entendi essa atitude dele. Só pode ser vergonha
por cometer um flagrante atentado ao bom senso, dando dinheiro para uma causa
tão imbecil quanto antipatriótica.
Imbecil é o comunismo e antipatriótica é uma “intervenção”,
venha de quem vier.
Espero que hoje você não esteja apoiando intervenção militar, hein?
ResponderExcluirE o que tem uma coisa a ver com a outra?
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