domingo, 23 de novembro de 2014

“Intervenção Comunista” entre a desconfiança e a vergonha em Ipanema

Ontem eu dei uma saída de casa para ser mais uma vez assaltado pelos comerciantes de Ipanema ao comprar um utensílio doméstico - após seis meses, o refil do dito cujo me custou mais caro que a coisa toda. Normal, mas o papo não é esse.

Ao parar para atravessar a rua, na esquina de Montenegro (me recuso a chamar a rua de Vinicius de Morais) com Visconde de Pirajá, me aparece um rapazola oferecendo uma espécie de jornaleco onde se lia em letras garrafais “Intervenção Comunista”. Curioso, perguntei do que se tratava e o garoto informou que era comunismo, assim mesmo, na lata. Ato contínuo, fui logo pegando um da mão dele sem perguntar, no que ele me interpelou dizendo que se eu quisesse o pasquim tinha que dar uma colaboração para a “campanha”. Larguei imediatamente, já com um discurso pronto para sacanear, mas desisti. Eu ia perder meu tempo fazendo piada para uma plateia de três projetos de comunistas - haviam mais duas meninas fazendo o mesmo - de cérebros recém-lavados e blindados.

Enfim, não “colaborei”. Tinha graça.

Então me afastei um pouco e parei por uns minutos, só para ver a reação das pessoas a quem eram oferecidos os jornalecos. Senhoras idosas, apressavam o passo, sendo que algumas até se benziam; casais jovens saíam rindo; gente mais humilde fazia cara feia e o pessoal que ia e voltava da praia, caía na gargalhada.

Segui meu rumo, fui à tal loja que me “assaltou” e, na volta, ao passar de novo pela “cena do crime”, dei de cara com um conhecido meu, já de mão no bolso, prestes a colaborar, em altos papos com o rapazola comunista. Ao me ver, esse conhecido, até então sorridente, mudou o semblante para desconfiado, abaixando a cabeça e me espiando de rabo de olho. Ao notar que eu estava indo em direção a ele - eu não ia nem cumprimentá-lo, era o meu caminho -, desconversou com o comunistinha, virou as costas e o deixou falando sozinho.

Para falar a verdade, eu nem sei qual é a opção política desse conhecido, com quem raramente encontro e mais raramente ainda troco mais de cinco palavras, por isso não entendi essa atitude dele. Só pode ser vergonha por cometer um flagrante atentado ao bom senso, dando dinheiro para uma causa tão imbecil quanto antipatriótica.

Imbecil é o comunismo e antipatriótica é uma “intervenção”, venha de quem vier.

2 comentários:

  1. Espero que hoje você não esteja apoiando intervenção militar, hein?

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