“Se quisermos construir uma nação cristã livre, precisamos
estabelecer fundamentos bíblicos para Educação, Governo, Economia e Política.”
“A educação é uma questão estratégica tanto no
estabelecimento do Reino de Deus quanto no desenvolvimento da nossa nação.”
Começo com duas frases estúpidas porque esses são os lemas
da ONG Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios, da qual faz
parte a nova titular da Secretaria-Executiva, a “número 2” da pasta do
Ministério da Educação, Iolene Lima, a terceira em pouco mais de dois meses.
Alinhada a grupos evangélicos e indicada por Onyx Lorenzoni, também evangélico,
Iolene é bacharel em Pedagogia com especializações e MBA em Administração
Escolar e Psicopedagogia e parece que seu currículo de trabalho limita-se a já
ter dirigido uma escola no interior de São Paulo que trabalha “todos os
conteúdos curriculares dentro da cosmovisão bíblica”.
E aqui cabe um parêntesis. Como eu não sabia o exatamente o
que quer dizer a tal “cosmovisão”, um desses neologismos criados por
porraloucas, fui buscar no Houaiss, que explica que é uma “maneira subjetiva de
ver e entender o mundo, especialmente as relações humanas e os papéis dos
indivíduos e o seu próprio na sociedade, assim como as respostas a questões
filosóficas básicas, como a finalidade da existência humana, a existência de
vida após a morte, etc.”. E a palavra vem do grego kósmos, que significa
“ordem, conveniência, organização, ordem do universo e por extensão,
simplesmente mundo, universo”.
Até segunda-feira, o secretário-executivo era Luiz Tozi,
demitido, segundo consta, após ter sua cabeça pedida por Olavo de Carvalho. No
lugar dele, foi nomeado Rubens Barreto da Silva, que também foi atacado, dessa
vez pelas olavetes, o que motivou Onyx a indicar Iolenne com o intuito de
apaziguar as brigas entre seguidores de Olavo de Carvalho, o grupo técnico e os
militares do Ministério.
Para começo de conversa, se o propósito da indicação é
amenizar a ira de Olavo suas olavetes, Onyx, em sua burrice enternecedora, usou
gasolina para apagar o fogo, já que Olavo é inimigo mortal de todos os
protestantes, não só dos evangélicos. Para confirmar basta ler algumas de suas
postagens no Facebook de uns seis meses atrás onde ele desanca todos eles, de
Lutero a Macedo. Mas cabe uma ressalva: como o autoproclamado filósofo -
ex-comunista, ex-astrólogo, ex-muçulmano, ex-etc. - muda de “filosofia” tanto
quanto eu troco de camisa (todo dia), nada impede o atual devoto fervoroso de Nossa
Senhora de mais uma guinada radical rumo a sabe-se lá o quê.
O grave disso tudo é estarmos entregues a um ministro
estrangeiro, banana e que, tal como Iolene, não tem coisa nenhuma de relevante
no seu currículo. E antes que me acusem de xenofobia eu aviso que não teria
nada contra qualquer ministro de qualquer outra pasta ser estrangeiro, mas logo
um ministro da Educação não saber falar português corretamente não me entra na
cabeça.
Quanto a Olavo, bom, se ele mesmo disse ontem ou anteontem
no twitter que apenas 1% da população acompanha a imprensa e é influenciada por
ela na hora de votar, o que dizer dos apenas 0,00001% da população que o
conhece? Como é que um sujeito desses pode ser considerado o principal
responsável pela eleição do Bolsonaro? Fica óbvio que quem inventou e fez - e
faz até hoje - crescer essa bobagem foi, maquiavelicamente, a mídia, que inflou
sua importância para poder desancá-lo, porque bater em um desequilibrado como
Olavo é muito fácil, ainda mais contando com os completos idiotas que compõem
seu séquito de olavetes histéricas, limitado, mas atuante nas redes. E outros
tolos, como Onyx, embarcam nessa canoa furada.
Do outro lado (não do meu), está a nomeação de (mais) uma
evangélica cujas tendências intelectuais (?) despontam como sendo a antítese do
que se espera de uma orientação educacional no mínimo decente. A simples menção
de que se deve ter a Bíblia como parâmetro que deve regular a educação, o
governo, a economia e a política causa arrepios. Já pensaram em filhos chegando
da escola e dizendo aos pais que uma mulher menstruada é imunda conforme afirma
o Levítico 15, em filhas preocupadíssimas perguntando se seus pais iriam
vendê-las como escravas de acordo com a permissão bíblica em Êxodo 21:7 ou em
filhos perguntando se deveriam matar o vizinho que insiste em trabalhar aos
sábados como manda o Êxodo 35:2 (“seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos
será santo, sábado de descanso solene ao Senhor; todo aquele que nele fizer
qualquer trabalho será morto”)...
Exagero? Não. Até porque os bispos, pastores, ministros,
apóstolos etc. ditos evangélicos, há muito deixaram os Evangelhos em segundo
plano em detrimento do Velho Testamento - o Torá judeu -, muito mais cruel,
contundente e intimidador que os escritos de Marcos, Mateus, Lucas e João. Não
precisa ir longe. Quem de vez em quando não dá uma espiada no que dizem esses
picaretas na TV para confirmar, certamente deve ter visto a fantasia de rabino
de Edir Macedo à época da inauguração do seu “templo salomônico” em Sampa, e aqui
não vai nenhum desrespeito aos rabinos, só que seus paramentos, em Macedo,
viram fantasias de mau gosto.
Usar um livro escrito há 3.400 anos como parâmetro,
principalmente educacional, é criminoso. A Bíblia não serve nem como parâmetro
moral ou ético, visto que a maior parte do que se considerava como
comportamento “normal” à época é hoje classificada como delito. Importante como
objeto de estudo da História - desde que feitas as devidas ressalvas -, a
Bíblia perdeu, há milênios, a sua importância como padrão de conduta.
Nada pior, pois, que juntarem a fome com a vontade de comer
em um governo que mal começou - a perspectiva é a pior possível. Olavo e
evangélicos juntos - tô fora!
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