quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A desimportância ilimitada das crises do atual governo

J.R.Guzzo

O Brasil dos nossos dias realmente elevou ao estado de arte, como se diz, a capacidade que as classes superiores desenvolveram nesses últimos tempos para transformar questões de desimportância ilimitada em motivo para discussões de altíssima tensão, nas quais se debate, desesperadamente, o destino final de tudo o que pode existir de essencial na existência humana. A mulher do empresário Nizan Guanaes, por exemplo, cometeu ou não crime de racismo ao utilizar os serviços profissionais de negras vestidas com o traje clássico de baianas, em sua recente festa de aniversário em Salvador? Quais os segredos de vida e morte que o ex-ministro Gustavo Bebianno, do qual nenhum cidadão comum jamais tinha ouvido falar até hoje, vai enfim “contar para todo mundo” ─ e provocar com isso a autodestruição imediata do governo? O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, já está marcando reuniões secretas com a CUT, a Conferência Nacional dos Bispos e o ex-presidente Fernando Henrique para acertar os detalhes finais do golpe de Estado que vai derrubar, a qualquer horinha dessas, o presidente Jair Bolsonaro? Viram o que saiu publicado na coluna do colunista A? E o que saiu publicado na coluna do colunista Z? Com a crise cada vez mais grave, quantos meses ainda pode durar este governo? E por aí se vai.

Nenhum desses portentos tem a mais remota possibilidade de resultar em qualquer tipo de coisa relevante, é claro, mas cada um deles faz um barulho danado até evaporar do noticiário, para dar lugar a outros vendavais da mesma qualidade. Aguarde a qualquer momento, portanto, mais uma crise fatal em Brasília - ou melhor, mais um “desdobramento” da crise que se instalou no governo desde o dia 1º de janeiro deste ano e até agora não foi embora. Já ouvimos, entre outras desgraças garantidas, que o presidente jamais conseguiria montar o seu ministério sem entregar a alma e o erário aos “políticos”. Anular o convite para o ditador da Venezuela vir à cerimônia de posse de Bolsonaro foi uma atitude “de altíssimo risco” do novo governo ─ o Brasil, com essa decisão tresloucada, estava se isolando do resto do mundo. Renan Calheiros iria ser eleito para a presidência do Senado e, a partir dali, formaria um vigoroso polo de “poder alternativo” ao governo; a “Resistência” encontraria nele o seu novo comandante. Outros terremotos, além desses? É só escolher no Google.

Fica a impressão, no meio de toda essa calamidade permanente, que a vida política brasileira está tentando, em pleno século XXI, operar num sistema de moto-contínuo - os fatos, aí, se criariam através da reutilização infinita da energia gerada pelo movimento desses próprios fatos. É a fantasia da máquina que funciona sozinha. O moto-contínuo, como se ensinava na escola, é um fenômeno cientificamente impossível, por violar as leis da termodinâmica. Mas isso aqui é o Brasil, e no Brasil todo mundo sabe que há uma porção de leis que não pegam - talvez seja o caso, justamente, da “crise política” que é apresentada todos os dias ao público. Um acontecimento ganha vida, prospera, desaparece e se reproduz num outro, o tempo todo; o mesmo processo se repete com esse outro acontecimento, e assim a coisa não para nunca. Não tem a menor importância a força real dos fatos apresentados à população, nem a constatação de que nunca resultam em nada de prático; eles existem porque são anunciados, e pronto.

A próxima catástrofe é a reforma da previdência que o governo acaba de apresentar à Câmara dos Deputados. Tanto faz o que vai realmente acontecer. Mesmo que as mudanças sejam aprovadas, você ouvirá que o governo sofreu mais uma derrota - ou porque tal ou qual item não passou, ou porque “o custo foi alto demais”, ou porque o ministro Zé falou uma coisa e o ministro Mané falou outra, e assim por diante. As verdadeiras questões que têm de ser resolvidas, enquanto isso, ficam voando no espaço sideral, inalcançáveis por um debate neurastênico, rasteiro e sem lógica.

A Neurociência explica


Rodrigo Massaud  - Médico Neurologista pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, membro da Academia Brasileira de Neurologia e tem MBA em gestão de Saúde pelo INSPER.

Nossos sentidos e capacidades mentais são todos recursos escassos. A neurociência estuda, entre outra coisas, o funcionamento da mente. A economia é a ciência que estuda como administrar recursos escassos. A área conhecida como neuroeconomia estuda como a neurociência explica os processos neurobiológicos, subjacentes à tomada de decisões.

A tomada de decisão é uma função de um grupo conhecido como funções executivas. As funções executivas estão relacionadas a circuitos neurais complexos, que têm boa parte de suas conexões na região anterior do cérebro, conhecida como lobo frontal. Logo, tomar boas decisões se relaciona fortemente, em testes neuropsicológicos, com um bom funcionamento das funções executivas. Vários estudos neuropsicológicos, demonstram que executivos do alto escalão das empresas, como os CEOs, apresentam resultados de alta performance nos testes que avaliam as funções executivas. Mas será que somente um bom funcionamento cerebral, do líder máximo de uma empresa, é capaz de garantir as melhores decisões?

Um dos sistemas filosóficos mais fantásticos, o estoicismo, tinha como elemento central do seu pensamento, saber o que de fato na vida podemos mudar e o que não podemos mudar. Sobre quais acontecimentos da vida temos verdadeiro controle?

Epicteto foi um dos principais pensadores estoicos e, num trecho do seu pensamento, ele divaga sobre qual seria a principal tarefa da vida:

“A principal tarefa da vida está em identificar e separar questões, de modo que eu possa dizer claramente para mim, quais são externas, fora do meu controle, e quais têm a ver com as escolhas sobre as quais eu, de fato, tenho controle. Onde, então eu devo buscar o bem e o mal? Não em externos incontroláveis, mas dentro de mim mesmo, nas escolhas que são minhas”.

Entre os problemas mais comuns no funcionamento do nosso cérebro está o autoengano. O autoengano frequentemente nos leva a apontar o dedo e procurar culpados externos para nossos problemas.

A neurociência nos mostra que mudar crenças é muito mais fácil que mudar comportamentos aprendidos. Nas crenças não gastamos energia agindo sobre aquilo que está sobre o nosso controle. O cérebro tende a sempre que possível poupar energia. Exemplificando esse problema: o que é mais fácil, planejarmos o início de uma dieta para a próxima semana ou começarmos agora mesmo? Levantarmos da cadeira e procurarmos emprego ou culparmos a crise econômica? Culpar o CEO por problemas graves ocorridos nas empresas ou entender que em atividades de alto risco, como na indústria da mineração, por exemplo, geralmente os acidentes ocorrem por uma cadeia de erros, que envolvem múltiplas pessoas da corporação, e não por um culpado isolado? A cadeia de erros interligados explica, outrossim, boa parte dos acidentes aéreos, e também explica erros que causam danos a pacientes no sistema de saúde do mundo inteiro.

Algumas maneiras por que esses erros ocorrem são bem conhecidas pela neurociência:

O efeito de ancoragem é um viés cognitivo que descreve a tendência humana para se basear, ou “ancorar” a tomada de decisão, em uma informação ou parte da informação recebida anteriormente.

O efeito de exposição contínua que é outro desses erros que gera a ilusão de familiaridade; temos a tendência a preferir o que nos é familiar. Somos resistentes a mudanças.

O viés de confirmação é outra maneira de tomarmos decisões inadequadas, quando colocamos nossa convicção sobre um determinado assunto e fazemos a leitura dos fatos; é a tendência de se lembrar, interpretar ou pesquisar por informações de maneira a confirmar crenças ou hipóteses iniciais. É um tipo de viés cognitivo e um erro de raciocínio indutivo. As pessoas demonstram esse viés quando reúnem ou se lembram de informações de forma seletiva, ou quando as interpretam de forma tendenciosa. Tal efeito é mais forte em questões de grande carga emocional e em crenças profundamente arraigadas.

Os conceitos de memórias tendenciosas foram propostos para explicar a polarização de atitudes, quando uma divergência se torna mais extrema, mesmo que as diferentes partes sejam expostas à mesma evidência. As crenças persistentes são crenças que persistem mesmo após várias evidências demonstrando que são falsas.

O efeito irracional do “Prime” demonstra uma maior confiança nas informações encontradas primeiramente, antes de uma série de outras informações.

Temos ainda a correlação ilusória, quando falsas associações entre dois eventos ou situações são identificadas.

No momento que vivemos hoje, com as famosas fake news, é muito fácil nos tornarmos reféns desses exemplos de irracionalidade. Temos que nos policiar constantemente para não cairmos nessas armadilhas da mente. Dessa forma, não parece racional culparmos os CEOs como responsáveis isolados por acidentes gravíssimos como o ocorrido na cidade de Brumadinho ou no CT do Flamengo.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Foto de Lula fazendo cocô é arte


O título da matéria sobre a foto, no Estadão é:

“Pinacoteca apresenta quatro novas aquisições em seu acervo”

A foto, segundo o jornal, vem com o seguinte texto:

“A obra de Matheus Rocha, especificamente, promove uma interação com o público. (...) Sobre folhas de jornais do dia anterior, o artista deixa pequenos blocos de concreto, que cabem facilmente na mão. O público pode levá-los para casa, mas sob a condição de deixar, no lugar, uma pedra trazida da rua.”

Para começo de conversa, até onde o Houaiss saiba, pinacoteca é uma “coleção de quadros de pintura”.

Em segundo lugar, isso na minha terra se chama entulho.

Em terceiro, isso é coisa de débil mental.

Em quarto, uma foto do Lula fazendo cocô incomoda muito mais e é muito mais artística, já que o moderno conceito de arte trocou o belo, a estética e a harmonia pela capacidade de aporrinhar e indignar.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Vem aí o racismo sexual - Guilherme Fiúza


A bicha arrasou na balada. Mas é melhor moderar o vocabulário, senão daqui a pouco vai em cana.

Na origem da proposta de criminalização da homofobia tem gente realmente preocupada com a violência física, psicológica e moral contra os gays, que é real e abjeta. Se com isso estão combatendo de fato o problema é outra conversa.

Muitos gays referem-se a si mesmos, entre amigos, como “a bicha” – na irreverência típica que tem a ver, inclusive, com o apelido em inglês que passou a designar os homossexuais. Desde o início das manifestações em São Francisco nos anos 60, a melhor arma do movimento gay sempre foi o humor – começando pela capacidade de rir de si mesmos.

Os gays mais seguros e tranquilos com sua condição frequentemente se divertem com a mistura de masculino e feminino – e essa graça, nas pessoas saudáveis, não tem nada de repressora. Aliás, é libertadora.

O que é ofensa, agressão, preconceito ou violência contra alguém já está na lei. Uma sociedade sadia se educa sobre os valores que preza e cumpre a lei. Uma sociedade demagógica pode criar quantas camadas quiser de leis sobre leis que jamais respeitará valor nenhum.

E aí a ressalva é inevitável: a indústria politicamente correta faz (muito) bem a muita gente, menos às minorias que jura defender.

Uma das ações enviadas ao STF chega a propor que a homossexualidade passe a ser tratada como questão racial – num suposto recurso para levá-la ao padrão das sanções contra o racismo. É preciso muita desinibição para segregar fingindo harmonizar.

Repare que esses patrulheiros – que não defendem ninguém, apenas vivem da sua patrulha – se recusam a exaltar os gays bem-sucedidos que não são militantes. O autor de novelas Aguinaldo Silva, por exemplo, que nunca entrou em armário nenhum, frequentemente é atacado pela gangue politicamente correta. O ator e empresário Robert Guimarães, criador da Babilônia Feira Hype, foi altamente patrulhado porque não votou no PT.

Só é possível ser gay no Brasil elegendo suplente de presidiário?

Ou talvez sendo um ex-BBB rancoroso, sem um pingo de humor, vivendo de incitar a boçalidade alheia e criar conflitos para se fantasiar de vítima do sistema – como se isso aqui fosse um reinado talibã.

Infelizmente, o cálculo é esse. Não tenha dúvidas de que a batalha contra o racismo ficou ainda mais longa e difícil após a epidemia politicamente correta – que pariu uma legião de falsos heróis da causa. A atriz que acusa pessoas de mudarem de calçada ao ver seu filho negro está fingindo viver no Apartheid – ou seja, está apartando, segregando, forçando e pesando uma barra que já não é leve.

Vamos estabelecer de uma vez por todas a diferença entre ajudar os outros e faturar com a própria notoriedade. É a sutil distinção entre solidariedade e egoísmo (qualquer dicionário te explica isso).

É o mesmo truque do ator que ganhou manchetes natalinas ao declarar que sua filha negra tinha medo de Papai Noel branco. Ou dos intelectuais (sic) que vêm encorajando mulheres a processar quem associá-las à palavra “mulata”, afirmando ser um tratamento ofensivo e discriminatório. A mulata é a tal – mas a famosa marchinha que a exalta ainda vai ser proibida no carnaval.

Vamos criminalizar tratamentos, censurar expressões, estigmatizar terminologias populares, montar um exército de credores raciais e sexuais empoderados pelos advogados mais espertos e pelos militantes mais gulosos para turbinar essa guerra fantasiada de pacificação.

E quando conseguirmos acabar com qualquer rastro de humor e harmonia na convivência entre as pessoas, não vamos esquecer de denunciar a onda de ódio.

https://www.gazetadopovo.com.br/

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Linguagem é destino


Nelson Motta

Como mostram as diferenças culturais entre ser chamado de taxpayer ou de “contribuinte”, a linguagem revela muito sobre o jeito brasileiro de viver.

Como lembrava o professor Roberto Campos, lucro em inglês é profit, que vem do latim profiscere, ser eficiente. É um orgulho. Em português, é quase um palavrão, não por acaso, aproximado de logro. Quando se juntou à culpa católica, deu no que deu.

Mas não estamos sós, os espanhóis chamam lucro de, acredite, ganancia. Vem de ganhos. Mas como dizia meu sábio pai, “dinheiro não se ganha, se arranca!”

Já os franceses o denominam bénéfice, como se fosse algo que se recebe sem fazer muita força, um ato de justiça.

Enquanto em inglês, espanhol e italiano juros é interest, interés, interesse, em português se confunde com com o presente do indicativo do verbo jurar. E nem sempre pagar. Muito sintomático.

Falência em inglês é bankruptcy ,literalmente ruptura bancária, falta de crédito. Em espanhol é mais dramático, quiebra. Mas, em português, falir se aproxima de falhar, do erro humano, da complacência. Quanto mais inventamos eufemismos, mais se revelam as farsas que encobrem.

Em inglês, deputado é representative, para não esquecer de sua função. Deputy é só o substituto.

Desde a cordial “cervejinha” e do “jabá” nordestino, a linguagem brasileira criou o “cala-boca”, o “abre-porta”, o “molha-mão” e o infame “caixa 2”, que não foi inventado pelos políticos, mas pelos comerciantes para roubar o Fisco. Desde o Fisco português.

No México, a mordida é um clássico local, do guarda de trânsito a funcionários, políticos e empresas, metáfora de caráter selvagem e predador sobre pedaços de carne que a corrupção devora. É forte.

Enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos perjury, mentir no tribunal sob juramento, dá cadeia, no Brasil também se chama perjúrio, mas mente-se à vontade e não dá em nada. Não por acaso, lá também não há foro privilegiado e depois de uma segunda condenação é jaula direto. Linguagem é destino.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Quanto ganham os vereadores?



O valor que um vereador pode ganhar de salário depende de diversos fatores: a lei orgânica do município, a Constituição Federal, a receita e o tamanho da população municipal.

Fique sabendo que o salário do seu vereador consta na Lei Orgânica, que é a lei máxima sobre o funcionamento do município. Mas, para determinar quanto será esse salário, deve-se atentar à Constituição.

O inciso VI do artigo 29 da Constituição Federal determina que o salário de um vereador depende do salário de um deputado estadual e do tamanho do município. Assim, dependendo do tamanho do município, o salário de um vereador pode variar entre 20% e 75% do salário de um deputado estadual.

Além disso, a Constituição determina que o total de remunerações de todos os vereadores não pode ser maior que 5% da receita do município e que a Câmara Municipal não pode gastar mais de 70% da sua receita com a folha de pagamento, incluindo os gastos com subsídios dos vereadores. Hoje, os salário de um deputado estadual corresponde a 75% do vencimento de um deputado federal, ou seja, R$ 25,3 mil mensais.

Levando em conta todos esses fatores, o salário de um vereador pode variar entre R$ 5.621,39 e R$ 21.080,21, a depender de cada município.

Quer descobrir o salário do seu vereador e não sabe por onde começar? Bem, a maioria das Câmaras Municipais possui sites oficiais que disponibilizam essa informação, geralmente em uma seção chamada “transparência” ou “portal da transparência”. Procurar essa página na internet é o primeiro passo.

Caso não consiga localizar a informação dessa forma, é possível solicitar a informação através dos meios de contato disponibilizados no site ou diretamente na Câmara.

O acesso a esses dados é direito de todo e qualquer cidadão, garantido pela Lei de Acesso à Informação, que obriga a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios a garantir o acesso e a divulgação  de informações sobre a gestão do poder público, o que inclui o salário dos agentes públicos.

QUE OUTROS BENEFÍCIOS UM VEREADOR RECEBE?
As vantagens de ser um vereador não estão apenas no salário. Além desse rendimento, existem inúmeros outros benefícios, que podem ou não ser monetários.

Uma vantagem bastante importante é a imunidade parlamentar. Ela permite que os vereadores possam expressar livremente as suas opiniões sem sofrer ameaças judiciais que possam limitar seu direito de exercer suas competências. É claro que isso não permite que o vereador possa dizer qualquer coisa, como fazer apologia a crimes ou cometer crimes de ódio.

Outro benefício é a liberdade de exercício de outra profissão. Assim, além de vereador, a pessoa que ocupa esse cargo pode exercer qualquer outra profissão, desde que isso não prejudique suas atividades como vereador. O vereador tem direito ainda a renunciar a seu cargo em qualquer momento que desejar.

Agora, em relação aos benefícios monetários, é importante saber que essa quantia pode ir para o vereador, como no caso das gratificações, ou ser destinada à cobertura de custos relativos ao exercício do mandato, como a verba de gabinete e a verba indenizatória. Essas verbas variam de acordo com cada município e nem todos oferecem esse tipo de dinheiro.

A verba indenizatória é um ressarcimento da Câmara sobre despesas realizadas diretamente pelos vereadores, desde que em decorrência do exercício do mandato e referente a materiais ou serviços não disponibilizados a eles. Podem cobrir gastos como passagens, combustível, escritórios, contratação de serviços de segurança e consultoria, entre outros.

Já a verba de gabinete é destinada a cobrir gastos sobretudo com pagamento de assessores, mas também com serviços gráficos e postais, consultorias, telefonia, entre outros.

As gratificações são compensações destinadas aos vereadores pelo exercício de outras funções, como cargos em mesa diretora ou participação em comissões permanentes da Casa. Diferente das verbas indenizatória e de gabinete, esta vai diretamente para o rendimento do parlamentar.

QUANTO AS CÂMARAS MUNICIPAIS GASTAM COM TODAS ESSAS VERBAS?
O salário dos vereadores pode até ficar abaixo dos 20 mil reais, mas segundo relatório da Transparência Brasil divulgado em 2016, a somatória dos gastos atinge números muito superiores a esse valor.

Enquanto o salário-base é limitado pela Constituição, não existe limite estipulado para as verbas extras. Por isso, essas cotas acabam variando bastante de acordo com cada município.

As verbas indenizatórias, por exemplo, já foram abolidas em algumas Câmaras Municipais, mas naquelas em que ainda existe o valor pode chegar a 25 mil reais, como é o caso de Cuiabá.

Em Belo Horizonte, a verba destinada a cada gabinete é de 15 mil mensais, para gastos com combustível, material de escritório, telefonia e informática, desde que isso tudo seja adquirido por processos licitatórios. Abrir processos de compra mediante licitação tem sido a alternativa encontrada por algumas Câmaras para facilitar o controle e evitar a possibilidade de fraudes.

Em Florianópolis, cada gabinete tem direito a R$ 2,3 mil mensais para cobrir passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção do escritório. Ainda assim, a maioria das Câmaras gasta em média R$ 14,6 mil com verbas indenizatórias, com os valores variando entre R$ 2,3 mil a R$ 25 mil.

Hoje, a Câmara que mais gasta com esse tipo de verba é a de Cuiabá, que excede em 71% a média das Câmaras. Mas até abril de 2015, a campeã era a Câmara Municipal de Boa Vista, que disponibilizava R$ 35 mil mensais, superando até mesmo a média das Assembleias Legislativas e a Câmara dos Deputados. Após denúncias na imprensa, a Câmara de Boa Vista reduziu em 60% o valor da verba, passando para R$ 14 mil.

O valor das verbas de gabinete nas Câmaras Municipais também varia bastante, mas a média é de R$ 37,1 mil destinados à contratação de assessores. A cidade que mais gasta com essa verba é São Paulo, onde cada vereador recebe R$ 130,1 mil para custos com equipe de assessores, valor semelhante ao dos deputados estaduais de São Paulo e 41% a mais que o disponível na Câmara dos Deputados. A segunda câmara municipal que mais gasta é a do Rio de Janeiro: R$ 89,9 mil mensais por gabinete.

Entre as gratificações, a polêmica é que muitas delas são criadas pelos próprios deputados para compensação de atribuições que já são parte do exercício da função de vereador, como a presença em comissões permanentes.

Em Boa Vista, por exemplo, como o único limite estipulado é de que as gratificações não podem ser superiores a 80% do salário, os vereadores criaram gratificações para quem ocupar a mesa diretora e as comissões permanentes. Assim, ainda que o teto salarial seja de R$ 10.012,50, um vereador que atue em uma dessas funções pode receber até R$ 18 mil mensais.

Já nas Câmaras de Curitiba, Recife, Porto Alegre e Florianópolis, os presidentes recebem adicionais que variam entre 6% e 50% do salário-base.

Extraído da https://www.politize.com.br/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A IMPRENSA NO BRASIL: EM QUEM ACREDITAR?


Ricardo Sondermann

“Prevejo e prenuncio que a política de submissão irá carregar consigo restrições à liberdade de expressão e à de debate no Parlamento, em plataformas publicas e discussões na imprensa, pois alguém vai dizer – na verdade, de vez em quando já ouço dizerem – que não podemos permitir que a ditadura nazista seja criticada por políticos ingleses comuns e ordinários. Então, com uma imprensa sob controle direto (em parte) e indireto (em potencial), com todos os instrumentos de opinião pública dopados e anestesiados para o consentimento, nós seremos apenas conduzidos pelos próximos passos da nossa jornada.” (05.10.1938 – Winston Churchill, em discurso na Câmara dos Comuns após o retorno do primeiro-ministro Chamberlain de Munique, reduzindo a pó o acordo firmado com a Alemanha nazista em relação à Tchecoslováquia.)

Neste momento me encontro trabalhando na segunda edição do livro Churchill e a ciência por trás dos discursos. Peço desculpas ao leitor por minha insistência ao novamente citar as palavras de Winston Churchill e sem querer parecer repetitivo, mas por força desta tarefa, me vejo viajando entre os anos 1930 e este primeiro terço do século XXI. Ao me deparar com a citação uma imprensa sob controle direto (em parte) e indireto (em potencial), com todos os instrumentos de opinião pública dopados e anestesiados para o consentimento, não pude deixar de perceber a atualidade desta frase.

A hegemonia cultural, um dos pilares da estratégia de expansão do comunismo desenhada por Antonio Gramsci (1891-1937), alcançou todas as estruturas sociais do país. Nas universidades, nos colégios, no judiciário e na imprensa, a corrente ideológica dominante pertence ao pensamento social democrata, socialista ou comunista. Apenas recentemente, talvez de 5 anos para cá, o pensamento liberal começou a ocupar espaços, proporcionando uma ruptura no pensamento dominante.

Neste artigo não entrarei nos aspectos históricos de como chegamos até este ponto e dedicarei alguns comentários ao papel da imprensa atual e suas perspectivas futuras. Durante os últimos 40 anos, a imprensa brasileira foi um dos pilares fundamentais para o exercício e a própria existência da democracia no país. Essa base moral e verdadeira vem se decompondo rapidamente nos últimos 5 anos e em minha opinião, por três fatores: seu comprometimento ideológico com a esquerda, a dependência econômica das verbas de publicidade de governos, sindicatos e empresas públicas e pela subversão do conceito de democracia.

O comprometimento ideológico é um fenômeno que vem sendo construído ao longo das ultimas décadas e prevê a tomada do poder através das estruturas educacionais e jurídicas. Elaborada como estratégia do Foro de São Paulo para toda a América Latina, foi colocado em andamento e acelerado nos diversos governos esquerdistas em todo o continente. A academia brasileira, formada e formadora de professores em todos os níveis e em todas as áreas, tornou o pensamento socialista hegemônico. A própria essência da universidade hoje se encontra subvertida e o outrora ambiente livre para discussões passou a ser uma ditadura de pensamento. Resultado direto disso é que toda a formação do jornalismo brasileiro possui o viés socialista e uma novilíngua habita as redações. Atentados terroristas são noticiados como “carro avança sobre pessoas” de forma a aliviar a culpa do assassino. O desarmamento é mostrado como algo necessário quando a manchete diz que “arma mata pessoas…”. O próprio senso da justiça é subvertido quando o “criminoso” passa a ser chamado de “jovem” ou “suspeito”.

Este compromisso ideológico se traduz no apoio a partidos específicos, no nosso caso, PT, PSOL, PCdoB e seus aliados temporais. Para defendê-los basta não aplicar o mesmo peso às denuncias de corrupção, usar critérios incoerentes e dar a notícia para causar impacto, não para estabelecer verdades. No caso do agora senador Flávio Bolsonaro, relacionado em uma lista do COAF com outros vinte políticos por movimentações financeiras suspeitas, dezesseis nomes estão à sua frente, sendo que o líder, o deputado estadual do PT do Rio, André Ceciliano, teve uma movimentação financeira 38 vezes maior. Por sinal, Ceciliano foi reeleito e confirmado como presidente da ALERJ. Onde está a indignação dos meios de comunicação e da esquerda em geral? A propósito, se Flavio Bolsonaro for culpado, deverá perder seu mandato e deverá pagar por seus crimes.

Esse relacionamento ideológico promíscuo é a raiz da produção do que o presidente americano Donald Trump apelidou de fake news. Diga-se de passagem, a frase de Ésquilo (525 a.C-456 a.C.) “na guerra, a verdade é a primeira vítima” não é nova e a mentira fez e faz parte do mundo real. A guerra do século XXI, por enquanto, não é realizada com armas de forma generalizada, mas estamos vivendo uma guerra de ideias, de conquista do poder e de posições. O jogo da mentira tomou as redações e uma espécie de “vale-tudo” está em curso. Quando lemos algo, temos que relacionar vários veículos, checar as fontes e pesquisar, para depois poder estabelecer algum juízo minimamente razoável. É claro que grande parte das pessoas compra o que lhes dizem e agem como papagaios digitais, repartindo as fake news como se verdade fossem. A produção da mentira não é, infelizmente, exclusividade da esquerda.

Outro ponto importante que demonstra a decomposição da solidez da imprensa é a enorme transformação que a tecnologia produziu nos últimos anos e que segue em curso. Até pouco tempo a origem da notícia era o veículo de mídia que informava o mundo dos acontecimentos e eventualmente se posicionava. Hoje a mídia é produzida, divulgada, confirmada ou desmentida pelo público. O jornalista está completamente perdido neste universo e frequentemente, quando se posicionam, o fazem como se ainda estivessem naquele mundo anterior, deixando claro seu fracasso, sua arrogância, sua falta de compreensão e de atualização. O que se vê é uma massa de jornalistas que, para manterem seus empregos, informam e comentam sobre desastres ecológicos, crises financeiras, eleições e a moda em Paris da mesma forma. Provavelmente seu campo de conhecimento é o futebol (recuso-me a dizer esporte pois no Brasil o jornalismo esportivo só fala de futebol) e ele se arvora a ter de falar sobre o que não entende ou o que não gosta.

Consequentemente, temos análises e comentários rasos, com alto grau de desconhecimento e onde ele tecerá comentários baseados em seu ideário básico, frequentemente equivocado e ultrapassado. Isso quando não se utiliza de “especialistas”, termo genérico para alguém chamado às pressas para dar uma opinião sobre algo que entende superficialmente, momento em que este “especialista” terá seus 15 minutos de fama (que falta que faz o Andy Warhol).

A internet e o universo virtual são o novo mundo, muito real. O sustento financeiro da mídia, proveniente dos anúncios publicitários, diminuiu radicalmente. No Brasil, só o governo federal investiu, entre 2010 e 2017, a quantia de R$15,2 bilhões, uma média de R$ 1,9 bilhões por ano, sendo que entre 2010 e 2015 esta média era de R$ 2,04 bilhões. Somente a Rede Globo, campeã em verbas, recebeu entre 2000 e 2016 cerca de R$ 10,2 bilhões. Não estão contabilizados nesta conta os governos estaduais, as prefeituras e as estatais estaduais, todas em crise, nem os sindicatos de empregados e patronais, o sistema S e outros monstrengos paraestatais que vão diminuir de tamanho ou desaparecer. Fica evidente o esforço que a Rede Globo faz para desestabilizar o governo Bolsonaro em seu início, uma vez que a fonte, com certeza, vai diminuir radicalmente. Sendo assim, verbas em queda e um mundo em transformação estão fazendo com que a mídia tradicional tenha que ou mudar, ou diminuir de tamanho, ou desaparecer.

Por último, o resultado da soma de uma formação pobre e ideologicamente incorreta e um futuro econômico incerto colocaram os veículos num canto perigoso do ringue. “As piores batalhas em uma guerra são as últimas, quando o inimigo nada mais tem a perder”, já disse Churchill. Encurralado, o jornalismo tradicional já morreu e não sabe disso, não está sabendo se reinventar e não consegue enxergar um novo horizonte, em que pese alguns jornalistas já entendam a realidade em torno de si. No Brasil, alguns veículos tentam mudar o contexto do próprio país, procurando manter a nação e os brasileiros em um obscurantismo messiânico, em uma pocilga ética e em um mundo sem esperanças para que possam reinar absolutos, pautando a sociedade e impondo sua agenda, fazendo e desfazendo reis e rainhas.

O mundo mudou e o Brasil se deu conta disso. O momento está para realizarmos uma completa mudança de conceitos e de rumos. Tudo o que foi feito até agora nos trouxe aqui, com coisas boas e ruins. Temos um país relativamente desenvolvido e uma grande economia, mas um nível educacional pífio, corrupção desenfreada e valores éticos e morais invertidos e deturpados. A hora é de transformação e parte da imprensa, por motivos ideológicos, econômicos ou simples mesquinharia e preguiça mental, quer que nada mude para que possam sobreviver em um mundo que não existe mais.

Quando Churchill, em 1938, disse no parlamento inglês que “prevejo e prenuncio que a política de submissão irá carregar consigo restrições à liberdade de expressão e à de debate”, estava alertando a Inglaterra a entender a realidade: Hitler não iria honrar compromissos e a guerra era iminente. Estamos no meio de uma guerra de ideias e a hora é de compreender o momento como uma oportunidade de expor as ideias liberais, os conceitos da Escola Austríaca e da liberdade econômica, apresentar os diversos autores e pensadores liberais, sem deixar de analisar a realidade e sem nos transformarmos em tribos de zumbis amorfos como a esquerda costuma produzir. Afinal, somos indivíduos e não uma massa.

O jornalista húngaro Joseph Pulitzer (1847-1911), reconhecido pelo trabalho voltado a um jornalismo que tinha como tema central a corrupção política e questões relacionadas ao conflito capital e trabalho, disse certa vez que “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”. Cabe a nós, liberais, o papel de lutar pela propagação e real compreensão das ideias liberais.