Ricardo Sondermann
“Prevejo e prenuncio
que a política de submissão irá carregar consigo restrições à liberdade de
expressão e à de debate no Parlamento, em plataformas publicas e discussões na
imprensa, pois alguém vai dizer – na verdade, de vez em quando já ouço dizerem
– que não podemos permitir que a ditadura nazista seja criticada por políticos
ingleses comuns e ordinários. Então, com uma imprensa sob controle direto (em
parte) e indireto (em potencial), com todos os instrumentos de opinião pública
dopados e anestesiados para o consentimento, nós seremos apenas conduzidos
pelos próximos passos da nossa jornada.” (05.10.1938 – Winston Churchill, em
discurso na Câmara dos Comuns após o retorno do primeiro-ministro Chamberlain
de Munique, reduzindo a pó o acordo firmado com a Alemanha nazista em relação à
Tchecoslováquia.)
Neste momento me encontro trabalhando na segunda edição do
livro Churchill e a ciência por trás dos discursos. Peço desculpas ao leitor
por minha insistência ao novamente citar as palavras de Winston Churchill e sem
querer parecer repetitivo, mas por força desta tarefa, me vejo viajando entre
os anos 1930 e este primeiro terço do século XXI. Ao me deparar com a citação
uma imprensa sob controle direto (em parte) e indireto (em potencial), com
todos os instrumentos de opinião pública dopados e anestesiados para o
consentimento, não pude deixar de perceber a atualidade desta frase.
A hegemonia cultural, um dos pilares da estratégia de
expansão do comunismo desenhada por Antonio Gramsci (1891-1937), alcançou todas
as estruturas sociais do país. Nas universidades, nos colégios, no judiciário e
na imprensa, a corrente ideológica dominante pertence ao pensamento social
democrata, socialista ou comunista. Apenas recentemente, talvez de 5 anos para
cá, o pensamento liberal começou a ocupar espaços, proporcionando uma ruptura
no pensamento dominante.
Neste artigo não entrarei nos aspectos históricos de como
chegamos até este ponto e dedicarei alguns comentários ao papel da imprensa
atual e suas perspectivas futuras. Durante os últimos 40 anos, a imprensa
brasileira foi um dos pilares fundamentais para o exercício e a própria
existência da democracia no país. Essa base moral e verdadeira vem se
decompondo rapidamente nos últimos 5 anos e em minha opinião, por três fatores:
seu comprometimento ideológico com a esquerda, a dependência econômica das
verbas de publicidade de governos, sindicatos e empresas públicas e pela
subversão do conceito de democracia.
O comprometimento ideológico é um fenômeno que vem sendo
construído ao longo das ultimas décadas e prevê a tomada do poder através das
estruturas educacionais e jurídicas. Elaborada como estratégia do Foro de São
Paulo para toda a América Latina, foi colocado em andamento e acelerado nos
diversos governos esquerdistas em todo o continente. A academia brasileira,
formada e formadora de professores em todos os níveis e em todas as áreas,
tornou o pensamento socialista hegemônico. A própria essência da universidade
hoje se encontra subvertida e o outrora ambiente livre para discussões passou a
ser uma ditadura de pensamento. Resultado direto disso é que toda a formação do
jornalismo brasileiro possui o viés socialista e uma novilíngua habita as
redações. Atentados terroristas são noticiados como “carro avança sobre pessoas”
de forma a aliviar a culpa do assassino. O desarmamento é mostrado como algo
necessário quando a manchete diz que “arma mata pessoas…”. O próprio senso da
justiça é subvertido quando o “criminoso” passa a ser chamado de “jovem” ou “suspeito”.
Este compromisso ideológico se traduz no apoio a partidos
específicos, no nosso caso, PT, PSOL, PCdoB e seus aliados temporais. Para
defendê-los basta não aplicar o mesmo peso às denuncias de corrupção, usar
critérios incoerentes e dar a notícia para causar impacto, não para estabelecer
verdades. No caso do agora senador Flávio Bolsonaro, relacionado em uma lista
do COAF com outros vinte políticos por movimentações financeiras suspeitas,
dezesseis nomes estão à sua frente, sendo que o líder, o deputado estadual do
PT do Rio, André Ceciliano, teve uma movimentação financeira 38 vezes maior.
Por sinal, Ceciliano foi reeleito e confirmado como presidente da ALERJ. Onde
está a indignação dos meios de comunicação e da esquerda em geral? A propósito,
se Flavio Bolsonaro for culpado, deverá perder seu mandato e deverá pagar por
seus crimes.
Esse relacionamento ideológico promíscuo é a raiz da
produção do que o presidente americano Donald Trump apelidou de fake news.
Diga-se de passagem, a frase de Ésquilo (525 a.C-456 a.C.) “na guerra, a
verdade é a primeira vítima” não é nova e a mentira fez e faz parte do mundo
real. A guerra do século XXI, por enquanto, não é realizada com armas de forma
generalizada, mas estamos vivendo uma guerra de ideias, de conquista do poder e
de posições. O jogo da mentira tomou as redações e uma espécie de “vale-tudo”
está em curso. Quando lemos algo, temos que relacionar vários veículos, checar
as fontes e pesquisar, para depois poder estabelecer algum juízo minimamente
razoável. É claro que grande parte das pessoas compra o que lhes dizem e agem
como papagaios digitais, repartindo as fake news como se verdade fossem. A
produção da mentira não é, infelizmente, exclusividade da esquerda.
Outro ponto importante que demonstra a decomposição da
solidez da imprensa é a enorme transformação que a tecnologia produziu nos
últimos anos e que segue em curso. Até pouco tempo a origem da notícia era o
veículo de mídia que informava o mundo dos acontecimentos e eventualmente se
posicionava. Hoje a mídia é produzida, divulgada, confirmada ou desmentida pelo
público. O jornalista está completamente perdido neste universo e
frequentemente, quando se posicionam, o fazem como se ainda estivessem naquele
mundo anterior, deixando claro seu fracasso, sua arrogância, sua falta de
compreensão e de atualização. O que se vê é uma massa de jornalistas que, para
manterem seus empregos, informam e comentam sobre desastres ecológicos, crises
financeiras, eleições e a moda em Paris da mesma forma. Provavelmente seu campo
de conhecimento é o futebol (recuso-me a dizer esporte pois no Brasil o
jornalismo esportivo só fala de futebol) e ele se arvora a ter de falar sobre o
que não entende ou o que não gosta.
Consequentemente, temos análises e comentários rasos, com
alto grau de desconhecimento e onde ele tecerá comentários baseados em seu
ideário básico, frequentemente equivocado e ultrapassado. Isso quando não se
utiliza de “especialistas”, termo genérico para alguém chamado às pressas para
dar uma opinião sobre algo que entende superficialmente, momento em que este “especialista”
terá seus 15 minutos de fama (que falta que faz o Andy Warhol).
A internet e o universo virtual são o novo mundo, muito
real. O sustento financeiro da mídia, proveniente dos anúncios publicitários,
diminuiu radicalmente. No Brasil, só o governo federal investiu, entre 2010 e
2017, a quantia de R$15,2 bilhões, uma média de R$ 1,9 bilhões por ano, sendo
que entre 2010 e 2015 esta média era de R$ 2,04 bilhões. Somente a Rede Globo,
campeã em verbas, recebeu entre 2000 e 2016 cerca de R$ 10,2 bilhões. Não estão
contabilizados nesta conta os governos estaduais, as prefeituras e as estatais
estaduais, todas em crise, nem os sindicatos de empregados e patronais, o
sistema S e outros monstrengos paraestatais que vão diminuir de tamanho ou
desaparecer. Fica evidente o esforço que a Rede Globo faz para desestabilizar o
governo Bolsonaro em seu início, uma vez que a fonte, com certeza, vai diminuir
radicalmente. Sendo assim, verbas em queda e um mundo em transformação estão
fazendo com que a mídia tradicional tenha que ou mudar, ou diminuir de tamanho,
ou desaparecer.
Por último, o resultado da soma de uma formação pobre e
ideologicamente incorreta e um futuro econômico incerto colocaram os veículos
num canto perigoso do ringue. “As piores batalhas em uma guerra são as últimas,
quando o inimigo nada mais tem a perder”, já disse Churchill. Encurralado, o
jornalismo tradicional já morreu e não sabe disso, não está sabendo se
reinventar e não consegue enxergar um novo horizonte, em que pese alguns
jornalistas já entendam a realidade em torno de si. No Brasil, alguns veículos
tentam mudar o contexto do próprio país, procurando manter a nação e os
brasileiros em um obscurantismo messiânico, em uma pocilga ética e em um mundo
sem esperanças para que possam reinar absolutos, pautando a sociedade e impondo
sua agenda, fazendo e desfazendo reis e rainhas.
O mundo mudou e o Brasil se deu conta disso. O momento está
para realizarmos uma completa mudança de conceitos e de rumos. Tudo o que foi
feito até agora nos trouxe aqui, com coisas boas e ruins. Temos um país
relativamente desenvolvido e uma grande economia, mas um nível educacional
pífio, corrupção desenfreada e valores éticos e morais invertidos e deturpados.
A hora é de transformação e parte da imprensa, por motivos ideológicos,
econômicos ou simples mesquinharia e preguiça mental, quer que nada mude para
que possam sobreviver em um mundo que não existe mais.
Quando Churchill, em 1938, disse no parlamento inglês que “prevejo
e prenuncio que a política de submissão irá carregar consigo restrições à
liberdade de expressão e à de debate”, estava alertando a Inglaterra a entender
a realidade: Hitler não iria honrar compromissos e a guerra era iminente.
Estamos no meio de uma guerra de ideias e a hora é de compreender o momento
como uma oportunidade de expor as ideias liberais, os conceitos da Escola
Austríaca e da liberdade econômica, apresentar os diversos autores e pensadores
liberais, sem deixar de analisar a realidade e sem nos transformarmos em tribos
de zumbis amorfos como a esquerda costuma produzir. Afinal, somos indivíduos e
não uma massa.
O jornalista húngaro Joseph Pulitzer (1847-1911),
reconhecido pelo trabalho voltado a um jornalismo que tinha como tema central a
corrupção política e questões relacionadas ao conflito capital e trabalho,
disse certa vez que “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e
corrupta formará um público tão vil como ela mesma”. Cabe a nós, liberais, o
papel de lutar pela propagação e real compreensão das ideias liberais.
Ricardo
ResponderExcluirAssista a https://www.youtube.com/watch?v=dkv_y4ituPQ
Já tinha visto, Magu. Obrigado.
ExcluirNo Brasil não existe reportagem, existe "negócios."
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