Percival Puggina
Nos últimos meses, escrevi vários artigos tratando da
importância das redes sociais para a democratização do direito de opinião. Com
o advento da internet, dos blogs e sites, e, por último, das redes sociais,
esse direito se expandiu, influenciando fortemente a política. Para quem educou
a mente a descartar o lixo, assim como em casa se separa o lixo doméstico,
houve um descomunal ganho de pluralidade, qualidade e inteligência. O efeito
desse fenômeno sobre o esquerdismo dominante nas redações dos principais
veículos da mídia tradicional foi arrasador. Sua posição hegemônica entrou em
colapso.
Num período de tempo extremamente curto, diferentes modos de
ver a realidade e de interpretar os fatos passaram a influenciar milhões de
pessoas. Princípios, valores e autores consagrados em outros países, aqui
mantidos ocultos, ganharam notoriedade. As árvores do pomar acadêmico foram
sacudidas e muitas frutas podres vieram ao chão, em plena sala de aula,
derrubadas por alunos que simplesmente foram ler “fora da caixa do professor”.
INOCÊNCIA DE LULA – O monopólio da “narrativa” e da
“interpretação” exercido pelos que atuavam como fazedores de cabeças
simplesmente ruiu. Absurdos, como, por exemplo, a suposta inocência de Lula,
perderam espaço; o naturalmente ridículo, como, por exemplo, os cursos de
extensão universitária sobre o “golpe de 2016” em universidades federais, se
tornou escandalosamente ridículo.
Enquanto, no mundo real, a inteligência se abastecia, no
impenetrável bas-fond das plataformas, os companheiros algoritmos operavam para
virar o jogo. O Facebook, por exemplo, declarou-se vocacionado às trivialidades
da vida cotidiana, social e familiar. Se você estiver interessado em puppys e
kittens, culinária e arranjos de flores, eventos familiares, entre que a casa é
sua! Mas se você pretende usar a rede para restituir o Brasil a seu povo,
salvando-o dos corruptos, dos coniventes, dos omissos, dos incompetentes e dos
vilões, então seus amigos e seguidores ficarão sem saber que você ainda existe.
Será sepultado em vida.
E isso representa um nada para quem já enterrou no ambiente
acadêmico Burke, Kirk, Chesterton, Aron, Sowell, Mises, Friedman, Hayek,
Bohm-Bawerk e tantos outros gigantes do pensamento conservador e liberal.
FAKE NEWS – A reação iniciou no começo deste ano,
multiplicando na mídia tradicional a afirmação de que as redes sociais se
haviam tornado uma usina de fake news. E elas existem, sim! Altas autoridades
da República as disseminam quando anunciam investimentos que não se verificam,
ou proclamam realizações mágicas como a extinção da miséria e o fim da fome.
Acontecem fake news quando se apresenta Lula ao mundo como
um São Thomas More de Garanhuns, condenado apenas porque virtuoso. Foi para
enquadrar ideologicamente esses ataques que escrevi vários artigos apontando,
em contrapartida, o problema das fake analysis na mídia tradicional, pois são
essas mistificações as que mais desencaminham a opinião pública. A elas, com
grande vantagem, se opunham tantos bons e sérios autores nas redes sociais.
Enfim, os algoritmos companheiros, ao que tudo indica, estão
no comando. Enquanto o mercado não reagir criando novas plataformas, o
Ministério Público não intervier, o Congresso não tomar providências (?), os
instrumentos da inteligência artificial agirão ocultos, a serviço da conhecida
má-fé natural daqueles que os manipulam.
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