Da Veja
O tempo passa, o mundo gira, a tecnologia tornou o homem de
hoje melhor informado do que jamais foi desde que escrevia nas paredes da
caverna, mas continua não existindo no universo nenhuma força capaz de fazer a
humanidade saber com um mínimo de exatidão o que acontece no Brasil.
Entenda-se, aí, os países bem sucedidos ─ aqueles com renda per capita acima de
40.000 dólares por ano, acostumados a viver sob o império da lei e capazes de
ganhar prêmios Nobel em assuntos sérios como física, química ou matemática. Dos
demais, é inútil falar. Nem sabem onde fica o Brasil, e quando por acaso ficam
sabendo de alguma coisa, nunca se interessam em saber mais. Nossa real
carência, desde sempre, é o vasto pouco caso que o mundo civilizado demonstra
em informar-se um pouco melhor sobre o Brasil. É desagradável. Naturalmente,
isso não torna o Brasil pior do que é, nem melhor ─ e, além disso, a imensa
maioria da população não se incomoda nem um pouco com a desinformação do mundo
externo a nosso respeito. Se milhões de brasileiros não conhecem os fatos mais
rudimentares sobre o seu próprio país, porque raios iriam lamentar a ignorância
dos suecos ou dos esquimós a respeito do que acontece aqui? Mas para o Brasil
mais instruído, que foi à escola, viaja e conversa de política, esse
desinteresse universal é uma coisa que incomoda. Justo hoje, no prodigioso
mundo da comunicação absoluta em que vivemos? É humilhante.
O mundo desenvolvido, hoje, não é ignorante sobre as mesmas
coisas que ignorava no passado, como resultado direto do que sua grande
imprensa escrevia sobre o Brasil. Mas por conta do que essas mesmas fontes lhe
dizem atualmente, continua imaginando que existem por aqui os fenômenos mais
extraordinários. Já não se fala mais, hoje em dia, que há cobras gigantes no
meio da rua em Copacabana, que o brasileiro passa a vida dormindo nas calçadas
com um sombrero mexicano na cabeça, ou que a capital do Brasil é a cidade de
Bolívia. O que mudou foram as áreas sobre as quais a mídia internacional joga
os seus fachos de escuridão. Fiel ao espírito dos tempos, a ignorância de hoje
tornou-se politicamente correta. Não há mais interesse em dizer que você pode
ser comido por uma onça ao atravessar o Viaduto do Chá. O que excita o
comunicador de primeiro mundo, agora, é a divulgação do disparate com conteúdo
político e social; isso faz parte dos seus deveres de soldado da resistência
mundial em favor dos mais pobres, da igualdade, da preservação da natureza,
etc. etc.
A cobra de Copacabana na versão de 2018 é a lenda, promovida
à categoria de verdade científica pela melhor imprensa internacional, segundo a
qual o ex-presidente Lula é um "preso político". Anda de mãos dadas,
nas mesmas páginas, com a fábula de que houve um "golpe de Estado" no
Brasil, que derrubou a presidente popular Dilma Rousseff e age, no momento,
para impedir que Lula concorra à eleição presidencial de outubro próximo.
Praticamente não se diz, em nenhuma notícia, que Lula está preso por que foi
condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, em processo legal
iniciado com a sua denúncia em setembro de 2016 e concluído com sua condenação
definitiva em janeiro de 2018. É quase impossível, da mesma forma, encontrar
qualquer menção ao fato de que o ex-presidente usou durante esse período todos
os meios de defesa possíveis na legislação universal; contestou todas as
decisões do juízo, apresentou dezenas de recursos e não foi capaz de
demonstrar, em nenhum momento, a mínima irregularidade legal no seu julgamento.
Também não se diz em lugar nenhum que Dilma foi deposta pelo voto de quase três
quartos do Congresso Nacional, após um processo de impeachment monitorado em
todos os detalhes pelo Supremo Tribunal Federal ─ e durante o qual não se
encontrou até agora uma única ilegalidade de fundo ou de forma.
O que a imprensa mundial diz ao público é que Lula está
preso porque lidera "todas as pesquisas"; se estivesse solto seria
candidato à presidente e ganharia a eleição, e "não querem" que isso
aconteça, porque ele voltaria a ajudar os pobres. Quem "não querem"?
E o que alguém ganharia ficando contra "os pobres"? Não há essas
informações. Não há nenhuma palavra, também, sobre o fato de que a presidência
de Lula foi o período de maior corrupção já registrado na história mundial ─
realidade comprovada por delações, confissões e devolução de bilhões em
dinheiro roubado.
Mas e daí? Ninguém está ligando para o Brasil como ele é. O
Brasil do Zé Carioca é muito mais interessante.
Ricardo:
ResponderExcluirLicença para copiar daqui, porque o site da Veja não permite que os não assinantes copiem o texto. É como a democracia brasileira...
Magu, há um artifício que uso para copiar sites bloqueados. Um pouco trabalhoso, mas não é difícil. Vá na página em você quer copiar e assim que ela começar a abrir, aperte a tecla direita do mouse e clique em "exibir o código fonte da página". EM HTML, vão aparecer milhões de links, endereços, etc., em azul e vermelho, mas normalmente lá pelo meio da página, em preto você acha o texto em HTML. Depois é só copiar e colar aqui no Blogspot. Um detalhe: quando você abrir para editar a "nova postagem", em cima, à esquerda, há dois botões: "escrever" e "HTML". Clique no HTML e cole, depois clique no escrever que o texto sai limpinho.
ExcluirGrato pela dica, Ricardo.
ExcluirVou ver se descubro como fazer isso no meu Mac, pois meu mouse não tem botões. Ou vou deixar o Gil me mandar, pois ele deve ser assinante da Veja e pode 'copeiar'.