segunda-feira, 18 de abril de 2016

Por que desconfiar de Temer?

Temer nunca foi uma figura proeminente e nem preeminente, por isso, muito pouco ou quase nada se sabe dele.

Sei, por exemplo que ele é um jurista com vários livros publicados e teses consagradas pelos seus colegas. Como político, sempre caracterizou-se pela discrição, o que nos leva, influenciados por seus opositores e pela falta de maiores informações, a considerá-lo um “armador” - na dúvida, todo político é corrupto. Eu, particularmente, desconheço qualquer crime que desabone sua conduta. Seria leviandade minha afirmar algo contra ele só por ouvir falar. Ideologicamente, por certo ele está longe de ser o político dos meus sonhos, já que ele incorpora e protagoniza as características do PMDB de, digamos, adaptabilidade plena a qualquer regime, evidenciando o propósito do poder pelo poder, nem que seja como coadjuvante.

Mas o que foi Itamar Franco senão um mequetrefe do qual se tinha muito mais a falar, e que, no entanto, fez um governo que nos tirou do atoleiro? Sinceramente, não vejo motivos para Temer ser diferente de Itamar e nem motivo para tanta celeuma.

O que queriam de um sujeito - que foi tão eleito quanto Dilma - em termos de participação no processo petista de governo se ele sempre foi solenemente ignorado pela anta-em-chefe? Fidelidade em troca do desprezo? Ora, vão lamber sabão! Se ele conspirou contra o governo nos últimos dias da Tetéia - e é óbvio que o fez - foi a troco de manter seu prestígio político e, claro, oportunamente, depois que a vaca já tinha ido para o brejo, concretizar suas ambições de poder, que sempre foram muito discretas. Assim como não há motivos para confiar em Temer, também não os há para desconfiar, já que, em tudo e por tudo ele foi extremamente previsível.

11 comentários:

  1. Em princípio, é isso mesmo que foi apresentado na postagem, Temer foi eleito e reeleito junto com a Dilma, não importa se ele é o mais honesto ou mais desonesto do planeta, tudo se resume no seguinte: a Dilma tem que sair e a fila tem que andar.

    O mesmo acontece com o Eduardo Cunha, não importa os processos que existem contra ele, importa que ele conduziu o processo de impeachment contra a Dilma da forma adequada. A articulação política, por parte do Temer, foi legitimada pelo próprio PT, que por sinal, se colocou contra as propostas do governo Dilma quando o Temer era articulador do governo.

    Mas não é possível estabelecer paralelo com Itamar Franco. Temer se tornou vice da Dilma como presidente do maior partido do país, Itamar se tornou vice sendo desconhecido da maioria dos eleitores, mas com uma trajetória política inatacável. Collor queria trocar de vice no segundo turno, porque Itamar não tinha popularidade, depois da eleição, Itamar sempre se posicionou contra as atitudes delirantes do Collor, mas sempre da maneira mais discreta possível.

    Itamar Franco não interferiu no processo de impeachment, pelo menos não abertamente, quando assumiu a presidência efetivamente, representava uma transição para a próxima eleição, ninguém esperava que ele fizesse um governo tão bem sucedido e, diga-se de passagem, sem nenhum populismo.

    O grande problema do Temer, é justamente o fato de existir uma disputa explícita pela presidência da república, uma proposta de governo explícita e uma conjuntura política imprevisível, ou seja, quem será governo e quem será oposição. PRB, PP e PSD saíram do governo nos últimos minutos, esses partidos podem decidir votações importantes e ninguém conhece suas posições políticas.

    Neste momento, a única coisa que importa é fazer a fila andar, somente depois disso será razoável discutir o restante.

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    1. Milton, Itamar foi do PTB, PMDB e PL, e só se bandeou para o PRN de Collor, por conveniências eleitorais. Itamar ao contrário do que você diz, era bem conhecido sim, tendo participado ativamente junto com Tancredo do diretas já, quando já estava em seu segundo mandato de senador pelo PMDB. Quatro anos depois, foi picado pela mosca azul do poder da vice-presidência em 1988, quando formou a chapa com Collor.

      Itamar influiu sim, e muito, no processo de impeachment ao manifestar-se, desde seu primeiro momento como vice, contrário à política econômica de Collor, tanto que por essas e tantas outras discordâncias, desfiliou-se do PRN e voltou ao PMDB, ainda com o "caçador de marajás" como presidente.

      O descompasso entre ambos foi fundamental para o impeachment de Collor, já que Itamar, a essas alturas, tinha voltado ao partido do poder a qualquer custo, majoritaríssimo na época, enquanto Collor, sem nenhuma base parlamentar, esperneava apenas.

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    2. O Itamar era conhecido no Brasil inteiro, mas não tinha popularidade, era conhecido no meio político. Não esqueça que a candidatura Collor surgiu dentro do PMDB, o PRN foi criado justamente para lançar o Collor como candidato. Ulisses Guimarães teve 5% dos votos, como candidato do PMDB.

      Dizer que o Collor não tinha base parlamentar é mito, o PMDB, PFL, PTB e PP (que na época era PPR ou PPB) davam ampla maioria ao governo Collor.

      O PSDB estava negociando a participação no governo Collor, ao mesmo tempo em que aconteciam as manifestações dos "Caras Pintadas". Se não estou enganado, Itamar só voltou para o PMDB após o final do mandato presidencial, embora a Wikipedia diga que foi em 1992.

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    3. Quéisso, Milton? Lembro até das palavras de Brizola ao antecipar o fim do Collor pela sua insistência em governar sem o Congresso, sem "compor" com partidos. Ele não tinha base parlamentar nenhuma!

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    5. Brizola? Eu me refiro ao fatos, Ulisses Guimarães só pulou do barco do Collor quando apareceu o motorista Eriberto. Reunindo a oposição, PT, PCB (atual PPS), PCdoB e PDT (do Brizola), não dava 20%.

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    6. Ué, Brizola, à época também se referiu aos fatos...

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    7. A quais fatos o Brizola se referiu, ao fato de PMDB, PFL, PDS e PTB não serem partidos do congresso? No último dia Collor tinha mais força dentro do Congresso que a Dilma no primeiro dia do segundo mandato, se a leitura do Brizola estivesse correta, Dilma teria caído me junho do ano passado.

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    8. Para encerrar, dito pelo próprio Collor:
      “Governou o país por dois anos e meio. ISOLADO PELA CLASSE POLÍTICA E SEM APOIO DO CONGRESSO NACIONAL, foi alvo de julgamento político, culminando com a sua renúncia à Presidência da República. Mais tarde (1994 e 2014), seria inocentado nos dois processos que tramitaram no Supremo Tribunal Federal.”
      http://www.fernandocollor.com.br/biografia/

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    9. (argento) ... invejável!, a biografia de Fernando Collor - né não?

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    10. Para encerrar. A classe política que deixou o Collor isolado, permitiu que o bloqueio inconstitucional das contas bancárias durassem 18 meses.

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