terça-feira, 26 de abril de 2016

O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos

Luiz Felipe Pondé

A “batalha do impeachment” é a ponta do iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma.

Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que ensinarão esta história. Esta história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir. A “inteligência” brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da “inteligência” romper com a esquerda, perde “networking”.

Ao afirmar que a “história não perdoa as violências contra a democracia”, José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado.

O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma “teoria do Brasil” e uma historiografia.

Esta construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários, professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.

Erra quem pensa que o PT desaparecerá. O do Lula, provavelmente, sim, mas o PT como “agenda socialista do Brasil” só cresce. O materialismo dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno, Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e cultura no país. Basta ver a adesão da camada “letrada” do país ao combate ao impeachment ao longo dos últimos meses.

Ao lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação política organizada, que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste praticamente opção “liberal” (não vou entrar muito no mérito do conceito aqui, nem usar termos malditos como “direita” que deixam a esquerda com água na boca).

Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL que parecem mais próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e vitimista. Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter que achá-lo um “deus”) e menos em agentes públicos. Significa investir mais na autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muitos importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de financiar o trabalho das ideias. Pensa como “merceeiro”, como diria Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica.

O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde.

A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito.

Sem essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha.


13 comentários:

  1. Concordo com o Pondé sobre a mediocridade intelectual continuar após a queda da Dilma, mas a proposta dele é absurda:

    “A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito”.

    Em primeiro lugar, por que deve ser feito por jovens, por que não financiar as minhas pesquisas? Em segundo lugar, por que financiar a produção de uma teoria em vez promover debates sobre as teorias existentes? Em terceiro lugar, desde quando que financiar alguém para “pensar o país” é uma atitude liberal?

    “O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde”.

    O Ricardo já abordou essa questão dos intelectuais aqui no TMU, eu gostaria de perguntar ao Pondé o seguinte: eu faço parte da camada intelectual? Artistas não são referências para o pensamento liberal, isso é pura e simplesmente apelo às celebridades, da mesma forma como a raiz acadêmica é apelo à (suposta) autoridade. Sr. Pondé, o pensamento liberal não é, e não pode ser, baseado em conclusões, só pode ser baseado em princípios, ou não será liberal.

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  2. (argento) ... por tudo o que vi, estudei, vivi, aos 65 anos não consigo vislumbrar algo diferente do futuro sombrio exposto por Pondé ... e, Milton, o "liberalismo" que se tem hoje e que se terá durante muito tempo, inda estará Impregnado pelo marxismo; até que surja uma outra corrente filosófica mais Anarquista, forte o suficiente, para dissolver o "arraigado-no-inconsciente-coletivo" ...

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    1. (argento) ... assim como a natureza não dá saltos evolutivos, a mudança de paradigma não se faz num instante ...

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    2. O problema no Brasil é justamente a falta de liberalismo, desde sempre. Eu concordo com o futuro sombrio, mas o Pondé não propõe liberalismo, propõe a substituição de uma crença por outra, pura e simplesmente.

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    3. (argento) ... e este é o Paradoxo!, Milton, nossos "Liberais" são Marxistas ...

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    4. (argento) ... por um "BUG" qualquer, postei comentário que não apareceu no TMU; salvei a página em HTML aqi no pendrive. Ei-lo:

      Anônimo26 de abril de 2016 18:38

      (argento) ... é, Milton, Pondé foi infeliz na proposta; acho que a saída não é pelas "forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal", ela deve acontecer por iniciativa Individual; algo assim como uma Maçã "Desapodrecendo" o cesto.

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  3. Peraí: Pondé não sugeriu que se estudasse teorias liberais, mas sim que os estudos sejam financiados por liberais, até porque ninguém que não seja liberal financia porra nenhuma.

    Em segundo lugar, os "jovens" aos quais Pondé se referiu não podem ser interpretados ao pé da letra. Foi apenas uma associação ao estudo, já que eles são a maioria esmagadora dos membros do estudo formal, talvez priorizados por Pondé por se tratar de gente sem vícios, virgem em termos de cultura.

    Quanto a ele não citar o aproveitamento de teorias existentes, não foi erro e nem omissão, já que o foco do artigo foi o ensino e não a discussão, o debate.

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    1. Pondé fala em "produzir uma teoria" e "pensar o país",por jovens (ao pé da letra) pagos por institutos liberais e dedicando suas vidas a isso. Como sempre, o texto do Pondé precisa da interpretação do leitor, para que o leitor leia aquilo que deseja ler, pois autor não disse aquilo que desejava dizer.

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    2. Ao contrário, Milton: não queira ler o que o autor não quis dizer.

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    3. E como é ler jovens sem ser ao pé da letra?

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  4. Num mundo com cada vez mais pobres e a riqueza concentrada com menos pessoas, soh haverá o caminho socialista. Eh inexorável ou terá que correr muito sangue, ou os dois.

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    1. Eu SOH queria entender porque TERÁ não EH com agá, JAH que você substitui o acento agudo por essa letra, não EH?

      Quanto ao seu mundo com socialismo, a minha resposta é a mesma batida de sempre: mude-se para a Coreia do Norte.

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