Em 1876, a jovem república dos Estados Unidos comemorou o
primeiro centenário de sua independência com um evento de encher os olhos.
Realizada na cidade de Filadélfia, a “Exposição Internacional de Arte,
Manufatura e Produtos do Solo e das Minas” ocupava uma área de 1,2 milhão de
metros quadrados, igual à soma de 290 campos de futebol ou quase o tamanho do
Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Reunia 60.000 expositores de 37 países
distribuídos em 250 pavilhões e recebeu nove milhões de visitantes, equivalente
a 20% da população americana na época. A feira era um símbolo do gênio
empreendedor da nova potência industrial emergente da América do Norte. Entre a
últimas novidades da ciência e da tecnologia ali exibidas estavam a Remington
Number 1, primeira máquina de escrever comercializada por E. Remington &
Sons, um modelo de motor a combustão interna que nos anos seguintes Henry Ford
usaria para construir seu primeiro automóvel, e um sistema automático de envio
de mensagens telegráficas desenvolvido por Thomas Edison, também inventor da
lâmpada elétrica e do fonógrafo (aparelho capaz de reproduzir sons).
Nesse ambiente de excitação e curiosidade, o professor
escocês Alexander Graham Bell, de 29 anos, parecia deslocado. Seus primeiros
dias na feira foram de desânimo e frustração. Ele trazia de Boston, cidade em
que morava, uma engenhoca chamada provisoriamente de “novo aparato acionado pela
voz humana”. Ao chegar à Filadélfia descobriu que parte da fiação tinha se
extraviado junto com a bagagem. Enquanto tentava recuperá-la às pressas, deu-se
conta de que a organização da feira lhe destinara uma pequena mesa de madeira
escondida no fundo de um corredor distante. Era um espaço pouco frequentado
pelos visitantes e fora do roteiro dos juízes encarregados de avaliar e premiar
as invenções. Como se inscrevera na última hora, seu nome sequer aparecia na
programação oficial da exposição. A chance de que alguém visse o seu invento
era mínima[i].
Tudo isso mudou devido a uma extraordinária coincidência. Em
um final de tarde, o acabrunhado Graham Bell observava à distância, no pavilhão
central da feira, os juízes se preparando para ir embora sem ter passado pelo
local em que exibia o seu novo aparelho. De repente, uma voz fina e esganiçada
chamou-lhe a atenção:
– Mister Graham Bell?
Ao se virar, Graham deparou-se com um senhor de barbas
brancas e olhos muito azuis. Usava roupas escuras, cartola e bengala. Era o
imperador do Brasil, D. Pedro II. Os dois tinham se conhecido semanas antes, em
Boston, onde Graham Bell criara uma escola para surdos-mudos, assunto de grande
interesse do soberano. O imperador lhe pedira para assistir a uma das aulas e
ficara impressionado com os métodos utilizados pelo jovem escocês. Depois,
acompanhado de numerosa comitiva, tinha seguido viagem para a Filadélfia, onde
participara da cerimônia de abertura da exposição ao lado do presidente Ulisses
Grant. Primeiro monarca a visitar os Estados Unidos, era a maior celebridade
internacional convidada para o evento. Nos três meses anteriores, visitara
diversas regiões do país, sempre tratado com deferência e admiração. Sua
presença, destacada quase que diariamente nos jornais, atraia multidões de
jornalistas e curiosos, exigindo às vezes intervenção da polícia para evitar
tumultos. Ao se reencontrar casualmente com Graham Bell no saguão da feira,
estava acompanhando os juízes, como convidado de honra, no trabalho de
avaliação dos inventos.
– O que o senhor está fazendo aqui?, perguntou D. Pedro.
Graham Bell contou-lhe que acabara de patentear um mecanismo
capaz de transmitir a voz humana, mas, cheio de modéstia, explicou que se
tratava de um protótipo ainda passível de muitos ajustes e aperfeiçoamentos.
– Ah, então precisamos dar uma olhada nisso..., reagiu D.
Pedro.
A cena que se seguiu é hoje parte dos grandes momentos da
história da ciência. Escoltado pelo imperador do Brasil, por um batalhão de
repórteres e fotógrafos e pelos juízes que, àquela altura, tinham desistido de
ir embora, Graham Bell esgueirou-se pelas escadas e corredores da exposição até
o obscuro local em que haviam confinado a sua aparelhagem. Ao chegar lá, pediu
que D. Pedro II se postasse a uma distância de cerca de cem metros e mantivesse
junto aos ouvidos uma pequena concha metálica conectada um fio de cobre. Por
fim, atravessou a galeria e, no extremo oposto da fiação, pronunciou as
seguintes palavras, retiradas da peça Hamlet, de William Shakespeare:
– “To be,
or not to be” (“Ser, ou não ser”)
– Meu Deus, isso fala!, exclamou D. Pedro II. – Eu escuto!
Eu escuto!
Em seguida, pulando da cadeira, correu ao encontro de Graham
Bell para cumprimenta-lo pela proeza.
Mais tarde rebatizado como telefone, o “novo aparato acionado
pela voz humana” seria considerado a maior de todas as novidades apresentadas
na Exposição Universal da Filadélfia.
[i]O relato da história de Graham Bell na Exposição da
Filadélfia é baseado em Candice Millard, Destiny of the republic: a tale of
madness, medicine, and the murder of a president, 2011
(argento) ... poiZé, o país onde onças, crocodilos, cobras e macacos passeiam pelas ruas junto com uma população de alegres aborígenes, cuja capital Buenos Aires, foi o primeiro a ter Telefone.
ResponderExcluirEm 1893, o brasileiro, Padre Roberto Landell de Moura faz a Primeira Transmissão e recepção de Voz e Luz, Sem Fios, por ONDAS ELETROMGNÉTICAS, no Mundo - esse "cara" simplesmente inventou o telegrafo sem fio, a Televisão e o Telefone Celular ...