Eliane Cantanhêde, do Estadão, diz que Zavascki desfez um
golpe tramado por Lewandowski e Marco Aurélio para impedir o impeachment; Carolina
Brígido, em O Globo, diz que o Supremo ia manter Cunha na presidência da Câmara
e Zavascki quis impedir, com apoio de Lewandowski.
Mutuamente excludentes, pode ser que alguma das duas seja a
versão correta, mas, como diria Caetano, ou não... Quem sabe surja uma terceira
ou uma quarta? A atual avacalhação jurídica nos permite admitir tudo de ruim.
Eis as duas versões. Vocês decidem.
Eliane Cantanhêde do Estadão
A decisão do ministro Teori Zavascki de afastar o deputado
Eduardo Cunha foi amadurecida durante a madrugada e teve o objetivo de
desativar uma bomba preparada pelos ministros Ricardo Lewandowski e Marco
Aurélio Mello que, segundo análises de juristas, poderia implodir o processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff e a posse do vice Michel Temer.
Lewandowski e Mello puseram para votação hoje à tarde a ADPF
(Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), de autoria da Rede de
Sustentabilidade, que, além de pedir o afastamento de Eduardo Cunha,
determinava simultaneamente, segundo interpretação de outros ministros, a
anulação de todos os seus atos no cargo – e, por conseguinte, o acatamento do
pedido de impeachment de Dilma.
Zavascki se irritou e outros ministros estranharam que Mello
tenha aceitado relatar a ADPF da Rede, quando o natural seria que a enviasse
para ele, que relata o caso Cunha desde dezembro. E as suspeitas pioraram
quando Mello acertou com o presidente Lewandowski para suspender toda a pauta
de hoje no plenário para se concentrar nessa ação.
Ao perceberem a manobra – ou “golpe”, segundo um deles –,
ministros do Supremo se mobilizaram para neutralizar a aprovação da ADPF hoje à
tarde pelo plenário. Decidindo o afastamento de Cunha com base no processo
aberto pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, Zavascki esvazia
horas antes a ação da Rede, que deixa de ter um “objeto”. Se Cunha não é mais
deputado, não há como julgá-lo como tal.
O fato é que, com a proximidade do impeachment de Dilma, os
nervos estão à flor da pele e o próprio Supremo está em pé de guerra.
A sessão de hoje à tarde transcorre num nível máximo de
tensão. Marco Aurélio Mello disse que “é preciso analisar” se o seu relatório
sobre a ação da Rede está ou não prejudicado e tentou até brincar, dizendo do
que Zavaski “poupou metade do seu trabalho”.
Conforme fontes consultadas pelo Estado, o “jabuti”
identificado na ADPF da Rede está no sétimo parágrafo, sobre “os atos
impugnados” na ação e sobre “uma prática institucional incompatível com o
regime constitucional da presidência da Câmara dos Deputados”.
São citados, em seguida, dois tipos de atos: 1) o “grave ato
omissivo” da Câmara, que deveria ter
afastado o seu presidente depois que se tornou inabilitado para o cargo;
2) os “atos comissivos que foram praticados cotidianamente por um agente
político que não poderia prosseguir na função de presidente da Câmara”.
Nesse segundo caso, dos atos de Cunha, está dito: “Embora
não se cogite de nulidade dos atos praticados até o reconhecimento da
inconstitucionalidade ora questionada, impõe-se o exame célere da matéria para
que promova o restabelecimento da normalidade institucional”.
Na leitura de ministros e assessores do próprio Supremo, só
não se cogita da nulidade desses atos até que a denúncia contra Cunha seja
recebida. A partir de reconhecida a inabilitação dele, estaria aberta a brecha
para que seus atos fossem revistos para resguardar a “normalidade
institucional”.
Carolina Brígido de O
Globo
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal
(STF), planejava afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por
liminar, nos próximos dias. Ele é o relator do pedido feito pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em dezembro. Teori antecipou a
decisão para a madrugada desta quinta-feira depois que o presidente da corte,
ministro Ricardo Lewandowski, convocou para hoje o julgamento de uma outra ação
no mesmo sentido, de autoria da Rede e relatada pelo ministro Marco Aurélio
Mello. Segundo Teori, não se pode aceitar o fato de Marco Aurélio ter pedido
uma vaga na pauta em caráter de urgência, sabendo que ele também era relator de
um pedido parecido. Teori viu que crescia no tribunal a tendência de retirar
Cunha apenas da linha sucessória da Presidência da República, sem afastá-lo da
Presidência da Câmara. Na visão do ministro, essa decisão seria, no mínimo,
estranha juridicamente.
Depois que o plenário tomasse essa decisão, ficaria
complicado diplomaticamente para Teori afastar Cunha do cargo, por liminar. Por
isso, o ministro resolveu antecipar sua decisão, atropelando o plenário. Agora,
ficará diplomaticamente complicado para o plenário do STF derrubar a liminar de
Teori e aplicar a fórmula fatiada — ou seja, manter Cunha no cargo, retirando-o
da linha sucessória do Palácio do Planalto. A tendência, portanto, é de que o
plenário mantenha a liminar concedida nesta madrugada.
Antes de conceder a liminar, Teori anunciou sua medida
apenas a Lewandowski e a assessores mais próximos. O presidente do STF aprovou
a iniciativa.
A sessão deve entrar pela noite, com o plenário do tribunal
julgando se mantém ou não a liminar. Também está prevista na pauta a ação da
Rede, que pede para Cunha ser afastado apenas da Presidência da Câmara, não do
mandato parlamentar.
Sinceramente, não confio em nenhuma das versões, nem nas futuras, mas posso dizer algum segurança, a sujeira por trás disso tudo não deve ser pouca coisa.
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