Há coisas que só acontecem comigo.
Sem fazer exames de sangue há uns oito anos, resolvi me
render e, por livre e espontânea pressão familiar, lá fui eu para o laboratório
de análises. Para começar, o tal “sistema” do laboratório havia caído - aliás,
em dez estabelecimentos de vários tipos de atividades que você entrar aqui no
Rio, cinco vão estar com o “sistema” caidaço. Preenchi minha ficha à mão e entreguei.
Lógico que, por causa da falha, o laboratório estava lotado.
Resignei-me e resolvi esperar, já que estava em jejum mesmo e só pretendo ficar
de novo daqui a outros oito anos.
Espera, espera, espera, até que me chamaram, mas não era
para tirar sangue ainda: foi para me perguntar se eu sabia quais seriam dois
determinados exames, porque a atendente não estava conseguindo decifrar a letra
do médico. Doce ilusão. Simplesmente não dá para entender letra de médico sem
uma Pedra da Rosetta ou um Champolion por perto. Organizou-se então uma
comissão de atendentes e enfermeiras para resolver o problema, até que, após uns
cinco minutos de deliberações, chegaram a uma conclusão, talvez por exclusão.
Voltei a me sentar na sala de espera para dez minutos mais
tarde ser chamado novamente. Ainda não era para ser espetado. Desta vez a
atendente me informou que o Bradesco Saúde não estava aceitando pagar pelo meu
exame de PSA - Antígeno Prostático Específico - porque, pasmem, estou
registrado no plano como sendo do sexo feminino. Pois é, Ricardo Rangel Froes é
mulher para o Bradesco, e mulher não tem próstata!
Como a atendente estivesse já há bastante tempo tentando
resolver minha “identidade sexual” com o plano, eu interrompi sua argumentação
ao telefone, pedi que liberasse o exame e, se houvesse algum problema posterior,
que ela me informasse para que eu tomasse providências. Ante sua hesitação,
argumentei que, se no resultado fosse constatado que eu tenho o tal PSA o
problema estaria resolvido: mulher não tem PSA, logo, sou macho! Nada. Apenas um “um momentinho que o plano está
verificando”.
Aí, danou-se. Aumentei o tom de voz, desafivelei o cinto e “então
tá, vou mostrar aqui mesmo que eu sou macho!”.
A coitada, entre risos e espantos da distinta platéia,
desligou o telefone rapidinho e resolveu me conceder o direito de fazer o PSA
em paz, sob a condição de que, ocorrendo algum problema, eu seria chamado para
resolver.
E lá fui eu, liberado, feliz da vida e com uma fome de cão,
ser inclementemente furado por uma vampira de branco.
Tem certas horas que é bom dar uma de maluco. O problema é
isso virar um hábito e eu, de vez em quando, ter que fazer um esforço para
parecer normal...
(argento) ... se tá no Sistema que é feminino, é feminino e pronto, ponto ...
ResponderExcluir(argento) ... espero que o resultado do exame acuse um PSA normal
ExcluirJá recebi. Foi tão baixo que eu quase assumi minha porção mulher. Aliás, surpreendentemente, está tudo dentro desses parâmetros malucos extremamente baixos que esses dotô resolveram inventar agora. Para quem esperava uma catástrofe em função da cerveja, do cigarro e da inatividade física, virei fenômeno com 63 anos!
ExcluirRicardo, a falta de preparo e a falta de bom senso está virando lugar comum no nosso Brasil. A algum tempo atrás, o pediatra de meus filhos com respectivamente 8 e 9 anos pediu um hemograma deles.
ResponderExcluirMinha esposa foi a um dos melhores laboratórios de Brasília para pedir os exames, e entregou o pedido para a atendente. Ela foi preenchendo as fichas e perguntou para ela: “qual a data da ultima menstruação? ” Ela espantada disse, os exames são para as crianças e não para mim. Ela então disse é assim mesmo, tem que constar da ficha. Minha velha que é meio sem paciência, se levantou e disse em alto e bom tom para que todos ouvissem:
“Estou indo procurar outro laboratório pois essa senhora quer a data da última menstruação destas crianças do sexo masculino”
(argento) ... diria de Outra forma: hoje, a Sistematização quer substituir e está substituindo (abolindo aos poucos) o raciocínio (a liberdade de pensar por si - livre pensamento); o sistema implanta e adota, somente como correto, o procedimentos padrão que, cada vez mais robotiza o atendente e submete, o "cliente"; um exemplo são os SAC, Serviço de atendimento ao "Cliente" (call center) ... o futuro, não será a submissão do homem pela máquina, mas a transformação total e absoluta do homem comum em Máquina ...
ExcluirEssa também é digna de registro, RLeite. Que absurdo!
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