O Globo
Procurador da República, Carlos Fernando Lima revela que, um
ano depois, a Lava-Jato ainda tem fôlego para denunciar empresários e políticos.
A Operação Lava-Jato já está em sua 14ª fase. Quais os
próximos passos?
Nós não denunciamos ainda nem 25% (dos investigados) do
esquema envolvendo as diretorias básicas da Petrobras, de Serviços e
Abastecimento. Ainda temos a parte das sondas, da área internacional do
(Nestor) Cerveró e (Jorge Luiz) Zelada. Temos que fechar uma investigação na
área de comunicações, que teve informações prestadas pela (ex-gerente) Venina
Velosa. E temos a parte de investigação que resultou na prisão do (ex-deputado)
André Vargas e do (publicitário) Ricardo Hoffmann, envolvendo a comunicação da
Caixa e do Ministério da Saúde. E ainda a questão do cartel em Angra 3 e algo
semelhante em Belo Monte.
Como viu o pedido de habeas corpus feito ontem em favor do
ex-presidente Lula?
Achei muito divertido. A peça beira a ofensa pessoal ao juiz
Sérgio Moro. Coisa absurda os termos da peça. Até porque não há uma
investigação envolvendo a pessoa do ex-presidente. O que temos é a investigação
de diversos prestadores de serviços para as empreiteiras. Nesse âmbito, surgiu
a empresa Lils, que seria do ex-presidente Lula. Mas isso não é suficiente.
Entre as diversas empresas prestadoras de serviço que estão sendo investigadas
está a do Lula. Agora, o método de lavagem de dinheiro é a prestação de
serviços. No caso da Lils, sabemos que o ex-presidente faz palestras
efetivamente.
O senhor acha que o dinheiro que o ex-presidente e o
Instituto Lula recebem de empreiteiras tem algo de ilegal?
Precisamos analisar isso com cuidado. Enquanto a prestação
de serviços exige contrapartida comercial, para o instituto não há efetivamente
uma contrapartida, é uma doação. Então vamos precisar analisar com cuidado
esses valores e as motivações que foram dadas para os pagamentos dessas
doações.
As investigações agora podem chegar a nomes de novos
políticos?
A investigação de políticos com foro privilegiado não é
nossa. É do STF. Se aparecer algum nome de político, vamos mandar para o STF.
Eu acredito que sim (que surgirão novos nomes). Sempre que apuramos novo
esquema criminoso, ele revela a participação de políticos com foro
privilegiado.
Qual sua avaliação sobre o bilhete de Marcelo Odebrecht
escrito na carceragem da PF falando em “destruir email sondas”?
A Polícia Federal fez bem de tirar uma cópia do documento. É
praxe na PF. Não aconteceu somente com o bilhete do Marcelo. É praxe de todo o
sistema penitenciário. Todas as cartas passam por controle dos agentes. Em
segundo lugar, quando um policial vê uma frase como essa falando em destruir um
e-mail, no sentido de destruir provas, ele tem obrigação de investigar. Se a
defesa quer interpretar, dizendo que o destruir é no sentido jurídico, isso
será avaliado em inquérito policial.
A defesa alega que destruir significa contestar.
Então vamos investigar se houve atentado à lei penal ou ao
português. Mas que houve algo estranho houve. Não vou dizer que não tenha o
sentido que a defesa quer dar, mas de qualquer maneira este primeiro momento é
de investigar. Não podemos fingir que nada aconteceu. Também ninguém pegou o
bilhete e levou ao dr. Moro pedindo a extensão da preventiva do Marcelo
Odebrecht por causa do bilhete.
E quando Marcelo fala que o sobrepreço na compra de sondas é
um termo comercial de mercado?
Tem que ver se há coerência no que ele está falando. Mas o
e-mail demonstra que o Marcelo Odebrecht está dentro da cadeia de decisões.
Temos aí não uma pessoa que se omite, um ditador de papel. Temos uma pessoa que
participa ativamente do negócio. E se temos tantos pagamentos no exterior, e
ele participa tão proximamente da empresa, sustentamos que ele sabe o que
acontece dentro da empresa.
Quais são as provas do envolvimento da Odebrecht no cartel
da Petrobras?
A questão do cartel não se tem dúvidas. Ela é a principal
integrante do cartel. Não aceitar isso é tapar o sol com a peneira. A questão é
que temos bastante documentos, informações de colaboradores, investigação no
Cade. Denunciar executivos da Odebrecht por cartel é só uma questão de tempo. O
que nós descobrimos de novo é que ela participa de uma segunda fraude,
envolvendo Angra 3, mesmo depois de deflagrada a Lava-Jato.
Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, apontou Fábio Gandolfo,
da Odebrecht, e Flávio Barra, da Andrade Gutierrez, como diretores que pagaram
propinas ao PMDB por obras em Angra 3. Eles serão investigados?
Esses novos diretores também serão investigados. Isso mostra
que a Odebrecht age enquanto empresa e não é um esquema de algum diretor
aloprado que tenha tido a ideia de ganhar um bônus extra no final do ano. Não é
à toa que ela é investigada no Panamá, na Itália. Ela tem uma praxe de negócios
que envolve essa situação de cartel e propinas.
O sr. crê que executivos da Odebrecht ou Andrade Gutierrez
presos optem por delação premiada?
Não creio. Não tem movimentação das empresas nesse sentido.
A Odebrecht nos procurou no primeiro semestre do ano passado para conversar
conosco sobre isso, mas deixamos claro que qualquer acordo que envolva uma
empresa exige que ela indique todos os culpados, mas aí não houve mais evolução
nas conversas.
(argento) ... o mérito da Lava-Jato foi trazer à tona a Simbiose Governo(s) / Crime ...
ResponderExcluir(argento) ... vai botar Meia Dúzia na cadeia?, claro que vai, para isso foi criada - como mais um ENTRETENIMENTO, para dar satisfação à "opinião públlca"; os tontos ficarão satisfeitos por ver a "elite rica e corrupta" derrotada e tudo ficará "como no quartel de Abrantes" ...
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